Continuando a série de postagens, tratando da vida intertextual (já comentei sobre
Literatura e
Cinema), neste texto abordarei as relações entre vida, teatro e educação.
As relações entre texto e vida, vida e texto, vão além da questão de quem imita quem: a vida à arte, ou vice-versa. Parte da questão entre a idéia originária e a original, ou seja, o que faz que alguém como William Shakespeare, um dos maiores dramaturgos de todos os tempos, ao criar suas inesquecíveis peças teatrais, e que com o tempo passe a parecer clichê, por conta das seguidas repetições nada originais, meramente cópias umas das outras? Depois de Shakespare, por exemplo, toda história de amor impossível entre dois jovens de famílias rivais (Romeu e Julieta), passou a ser mero clichê, pois ninguém conseguirá superar o mestre dos mestres! Depois de Sófocles, e seu Édipo Rei, até Sigmund Freud rendeu-se ao mitologia para criar as bases de sua psicanálise... E por ai vai os exemplos em que o teatro serviu de molde à literatura, para a ciência e para a vida em sociedade.
O teatro é o reflexo da vida, e a vida, em certos aspectos é dotada de uma teatralidade e dramaticidade sem igual. Basta abrir um jornal ou assistir a um telejornal para que possamos ser tomados por notícias que se houvessem Sófocles, Shakespeare, Eugene O'Neill, Berthold Brecht, Arthur Miller, Nelson Rodrigues, entre outros talentosos dramaturgos, para que gerassem novos clássicos da dramaturgia... Até pelo fato de que num tempo de total inversão de valores, em que as máscaras estão caindo uma a uma na política mundial, nunca o cotidiano pareceu-me tão teatral, com a maioria dos políticos criando personagens caricatos, com falas marcadas e manjadas (clichês), aguardando a cada eleição para repetir os mesmos discursos e depois de eleitos, a mesma prática convencional de defesa intransigente apenas de seus interesses e nada mais. Cidadãos acima de qualquer suspeita, são hoje suspeitos de crimes trágicos às nações, seus estados, cidades...
Porém, o teatro, tão rico de expressões corporais, faciais, musicais, poéticas e literárias é pouco usado no ambiente escolar, onde o jovem tem uma predisposição nata às artes... Conheço algumas escolas que tem seu grupo de teatro, e que fazem maravilhas, tanto a partir de autores clássicos como contemporâneos, quando não têm seus próprios autores na comunidade escolar.
Recentemente conheci via orkut, depois MSN uma professora, que, conhecida de infância me reencontrou por este blog. Ou seja, três ferramentas de interação que os jovens dominam como poucos e que a maioria dos professores, por desconhecimento ou receio, colocam ao largo da prática educacional, como coisas banais, pouco instrutivas, que, segundo eles, fazem apenas seus filho alunos ficarem vidrados horas diante de um computador... Volto a lembrar que toda ferramenta só é nociva a alguém se o seu usário a utiliza fora de suas recomendações. Uma chave de fenda é feita para aparafusar e desaparafusar, e se utilizada fora dessas especificações pode ser uma arma letal...
Então, voltando ao teatro, a vida e a educação, há cerca de duas semanas tive a grata satisfação de reencontrar, via mundo digital, a professora Vilmabel Gibon, que é editora do blog educacional
Teatro e Vida. Através dele, Vilma, que além de professora é brinquedista, orientadora vocacional e atriz em formação, procura divulgar seus projetos vinculados à educação e ao teatro. Um deles é o
Teatro pedagógico - Nova proposta de trabalho educacional, dirigida a pais e educadores, tratando da importância do teatro na educação.
Segue abaixo, breve comentário de Vilma sobre essa proposta:
"Segundo o psiquiatra Roberto Shinyashiki numa entrevista com Vanucci disse: '... o que as escolas deveriam fazer é ajudar os alunos a desenvolverem as suas potencialidades...' E nessa nova proposta que tenho - Teatro Pedagógico, eu trabalho com teatro de forma a desenvolver as potencialidades de cada ser e a educação formativa comportamental (valores e virtudes), linguagem do afeto, objetivando a realização pessoal e profissional de cada indivíduo = felicidade".
Usando o lema que Vilma usa seguido:" A mudança do mundo começa em mim".
Para saber mais sobre esse projeto e outras atividades dessa talentosa educadora, basta clicar no link (atalho) abaixo para o seu blog:
Teatro e Vida Em tempo: No ano de 2006, a convite do ator e diretor de teatro Canrobert Brasil, escrevi a minha primeira peça de teatro, para mim um duplo desafio, pois jamais tinha escrito algo para essa forma de expressão artística, e muito menos dirigida especialmente ao público infantil. A obra, originalmente intitulada por mim de
"Enquanto as crianças dormem", foi rebatizada por Can com o título de
"E agora Betinha?", e encenada pelo Grupo de Teatro Dupla Face, na Semana do Dia das Crianças (2006), no teatro Municipal de Rio Grande - RS - Brasil, obteve um grande sucesso (surpreendente pra mim!), tendo a última das apresentações destinado recursos da arrecadação para uma entidade social. A mesma peça foi encenada em 2007, na 11ª Festa do Mar, em Rio Grande - RS. A experiência foi tão gratificante, do ponto de vista artístico e cultural como do social, que em 2007 escrevi um novo texto, a pedido de Canrobert, igualmente dirigido ao público infantil, dessa feita chamada a peça de
As Travessuras da Bruxa Fel, tendo como mote a questão ambiental. Este novo projeto ainda está na fase de ensaios e formação de elenco. E para minha surpresa, soube por Vilma que ela foi convidada por Canrobert para ser a
Bruxa Fel, mas que não pode aceitar, pois estava fazendo curso e desenvolvendo projetos em Porto Alegre.
A vida é mesmo surpreendente e intertextual, e através do mundo digital conseguimos encontrar ou reencontrar amigos, fazer novos, divulgar atividades, conhecer novos projetos, ampliando horizontes e possibilidades de uso da tecnologia, da arte e da cultura na educação. Visitem o blog
Teatro e Vida, e conheçam essa interessante proposta de unir teatro, vida e educação.
Apresentação Livro Teatro PedagógicoObservação 1: Acima, apresentação em SlideShow da peça "E agora Betinha?", de minha autoria, com direção de Canrobert Brasil (2006), com imagens feitas pelo fotógrafo Gerson Pantaleão, gentilmente cedidas pelo Grupo Teatral Dupla Face. "E agora Betinha?" tem como tema a vontade de Betinha e Júnior, duas crianças que são amigos e vizinhos, de conhecer o mundo durante uma noite, apenas com bicicleta e mochila. Para essa jornada encontram como guia um Anjo que é morador de rua (ou seria um morador de rua que era um Anjo? xiii), que os acompanha nessa incrível viagem à imaginação, conhecendo pelo caminho Dona Maria Fumaça e outras personagens...
Observação 2: Para um autor ver suas personagens criarem vida é uma experiência sem igual. Os atores de "E agora Betinha?" foram extremamente criativos e talentosos, o que valorizou e muito minha obra. Grato a todos!