Vivemos a era da informação e da imagem, e, num universo paralelo, convivem outras realidades: a desinformação, a imagem forjada e o "ouvi dizer"...
A internet é fenômeno que corrobora para essa assertiva, justamente por ser veículo que congrega as duas: imagem e informação+automática = informática. De tudo que é veiculado na internet, o correio eletrônico é o que, feito para troca de informações, mais prolifera justamente a desinformação. Exemplo: e-mail que recebi certa vez, como numa corrente em que amigos mandam para sua lista de contatos algo que acham interessante. Esta mensagem, quando aberta, foi emocionante. Tratava-se da imagem das montanhas que cercam a cidade inca de Macchu Picchu nos Andes peruanos. O texto em power point (editor de apresentações), indicava que a foto, ao ser girada, mostrava aspecto fantástico jamais percebido por alguém em séculos de existência; ou seja, um rosto gigantesco na montanha, lembrando o perfil de nativo inca. Para quem acredita em tudo, um prato cheio para teorias da conspiração: de extraterrestres terem esculpido na pedra uma imagem inacreditável. Sou escritor de ficção, mas vivo com os pés na realidade, e apesar de não me chamar Tomé, só acredito vendo, mesmo querendo acreditar nos homens e suas criações mirabolantes. Então, procurei livro de geografia, e ao girar a fotografia oficial encontrei vaga lembrança do que poderia ser um rosto. Para céticos e realistas, uma manipulação computadorizada, enviada àqueles que desejam acreditar em qualquer coisa. Para esses, talvez, a realidade seja uma manipulação, e quem sabe, só indo a Macchu Picchu para tirar a dúvida atroz.
Assim como esse, outros mais pipocam na net. Em sua esmagadora maioria, fraude barata. E nós, os usuários, muitas vezes sem maldade ou senso crítico, ajudamos a desinformar nossos amigos eletrônicos. Entupimos suas caixas de correspondência virtual com correntes supostamente religiosas que pregam maldições ao final, se não a repassarmos a outros dez. Há propagandas não autorizadas, chamadas de spam. Vírus embutidos em arquivos pornográficos, sem que saibamos. Enfim, inocentemente contribuímos para o caos e a proliferação de boatos, suspeitas infundadas, racismo, preconceito, etc. como na brincadeira do telefone sem fio – e quem conta um conto aumenta um ponto.
É só sintonizar programas de fofocas e vemos tiroteio verbal sem provas. Para certos fofoqueiros profissionais e de plantão quem não saiu com quem? Quem no meio artístico não é ex de alguém? Quem não flertou em festa mesmo estando acompanhado? Quem ao sair para jantar com alguém do mesmo sexo, não recebeu suspeitas de ser gay; se saiu com alguém do sexo oposto, de estar tendo um caso; e se gostar de estar com crianças, de ser pedófilo? Não que suspeitos não tenham condutas impróprias, mas o princípio jurídico de "na dúvida pró réu", em programas "desinformadores" - que nada têm de serviço de utilidade pública - é manipulado geneticamente para que "na dúvida condene-se o réu, desde que assegure alguns pontinhos no ibope".
A concorrência é acirrada e desleal entre os meios de comunicação, e certas vezes, para assegurarem furos de reportagem, forçam a barra, e logo descobrimos que o "furo era mais embaixo". O Caso Gugu é prova disso. Sem confirmar a autenticidade dos fatos e a fidelidade da fonte, muitos veiculam (sem filtragem) notícias que podem destruir uma carreira ou até uma vida. Lembro-me do caso clássico de Escola Infantil em São Paulo, em que os pais denunciaram suposto abuso sexual em seu filho. Houve linchamento virtual nos telejornais, a Escola foi depredada e o casal de idade que a administrava quase escorraçado. Tardiamente constatou-se que a criança apresentava irritação natural na genitália. Mas ai, a "Inês era morta!", e a grande imprensa não fez seu mea culpa, como deveria. Cuidemos então para, ao enviarmos adiante ou comentarmos nossas cismas, deixarmos claro, primeiro que são apenas suspeitas; ou então partamos em busca de comprovação. Assim estaremos contribuindo para que a era da desinformação não nos domine, feito abdução (seqüestro alien) - outra teoria conspiratória que espera constatação.
Artigo de minha autoria, publicado em 08/09/2005, no Jornal do Norte, de São José do Norte-RS-Brasil.