Carl Sagan e O Romance da Ciência

Carl Sagan, célebre cientista, apresentador da série Cosmos, na TV, nos anos 70/80, autor do livro Contato, transposto para o cinema, é também autor do livro O Romance da Ciência, onde aborda com propriedade e erudição aspectos históricos, filosóficos, e, obviamente, científicos da exploração do conhecimento humano rumo às estrelas.
Esse livro foi publicado pela primeira vez em 1974, sendo a edição que li e apreciei foi publicada em 1982. Evidentemente alguns dos aspectos abordados, durante as décadas seguintes tiveram confirmação, outros continuam ainda à espera de constatação.
Sagan, já falecido, dizia: “(...) o vasto universo do qual fazemos parte como grão de areia em um oceano cósmico”. Seus questionamentos e suas desmistificações, amparadas em sólidas avaliações científicas, levam por terra muitas das crendices e superstições populares. Impossível não se encantar com a sua prosa, dotada de uma simplicidade e ao mesmo tempo valiosa bagagem cultural.
Suas elucubrações são fantásticas nos levando a pensar se a ficção científica influenciou a ciência ou se foi justamente o contrário. Analisando algumas obras de ficção, Sagan demole ícones e valoriza outros, sempre analisando sob o ponto de vista da ciência, da lógica e do bom senso, como essa: “(...) Na moderna ficção científica encontramos sugestões úteis para se fazer uma revolução numa sociedade tecnológica computadorizada. (...) Tais idéias, quando assimiladas bem cedo, podem influenciar o comportamento adulto. Muitos cientistas profundamente envolvidos na exploração do sistema solar (como é o meu caso) foram pela primeira vez levados nessa direção pela ficção científica. E o fato de algumas dessas histórias não serem de alta qualidade é irrelevante. Garotos de 10 anos não se interessam por literatura científica”.Um livro de não-ficção - que passeia com desenvoltura sobre a realidade e a ficção - essencial tanto para céticos como para pessoas que acreditam em tudo e em todos, em teorias da conspiração e eventos sobrenaturais. Muitos talvez mudem até sua forma de encarar o mundo e o universo, através das teorias, histórias e descrições que Sagan discorre com maestria por 345 páginas, lidas por um leigo, com surpresa e admiração.
Uma das mais belas passagens do livro é a que conta, de forma abreviada, a vida e obra de Albert Einstein, um grande homem muito à frente de seu tempo, como foram Newton, Galileu, Copérnico, etc.
Sagan, autor de Os Dragões do Éden, recebeu por este o Prêmio Pulitzer, maior distinção literária norte-americana. Com certeza um grande escritor e um brilhante cientista, que iluminou a escuridão do universo com sua genialidade e humildade.
Observação 1: Imagem acima, capa do referido livro, extraída do endereço
http://www.mercadolivre.com.br.
Observação 2: Texto de minha autoria, publicado originalmente no jornal Letra Viva, nº 15, edição de agosto/2005.
Observação 3: A expressão "homem a frente de seu tempo", muito usada por vários, inclusive eu, hoje, entendo de outra forma. Após cursar os créditos do mestrado em História da Literatura (FURG-2007), e ter assistido às aulas de Teoria da História da Literatura, com o prof. Dr. Carlos Alexandre Baumgarten, fui convencido por seus argumentos que não existe ninguém a frente de seu tempo, e que é o próprio tempo que permite que as pessoas tenham "visões" ou pensamentos que parecem estar além do presente... Hoje, concordo plenamente com prof. Baumgarten, ainda mais, após concluir a especialização em Tecnologia Educacional (UFRGS-2007), em que, durante o TCC, pesquisando a vida dos teóricos que utilizei em meu projeto de aprendizagem com alunos da educação especial, área deficiência mental, em que um dos conceitos foi a Aprendizagem Significativa, dentro do Construtivismo, pude notar que o psicólogo norte-americano D.P. Ausubel, um dos teóricos que me inspirou o trabalho, e que aparentemente estava "a frente de seu tempo", na verdade construiu seu pensamento por ter vivido experiências frustrantes em uma escola autoritária de seu próprio tempo (início do século XX), e por causa dela criou um conceito libertário e inovador. Ou seja, conhecimento fruto de seu tempo.