quinta-feira, janeiro 03, 2008

Literatura não é auto-ajuda


Embora, como no título desta postagem, pense que literatura não é auto-ajuda, alguns bons livros servem como uma grande terapia ocupacional, e alguns ainda de fonte inesgotável de leituras e releituras. Um deles, que terminei a leitura no último dia de 2007, me inspirou essa postagem, sem falar um farto material para projetos em 2008. Chama-se Como Proust pode mudar sua vida , de Alain de Botton (Ed. Rocco, 1999, 193 páginas, com tradução de Luciano Trigo).
Conforme apresentação do livro na orelha do mesmo: "De modo extramente original, e com um leve toque do humor fino que caracteriza seu estilo, Alain de Botton apresenta o autor de Em busca do tempo perdido. Numa espécie de releitura, de montagem de mosaico, vão sendo expostas, condensadas e analisadas as avaliações do escritor francês sobre a amizade, o amor, a felicidade, o sofrimento, a arte - extraídas de sua complexa e vasta obra. O resultado é um verdadeiro manual do bem viver, com um tom despretensioso, mas denso de informação, em que Alain de Botton partilha a sua própria erudição, o seu conhecimento da vida e da obra de Prosut. E, com isso, se propõe a mudar a vida do leitor".
Alain de Botton nasceu na Suíça emm 1969. Escritor e filósofo, formado em Cambridge, residente em Londres.
Em 2006, assisti uma entrevista de De Botton, na TV Escola, e desde então passei a ser seu fã. Em 2007, quando encontrei o livro acima, numa livraria de Porto Alegre, em um intervalo para o almoço de um curso que estava realizando, não pensei duas vezes. Unir no mesmo livro Alain de Botton analisando a obra de Marcel Proust só poderia ser uma leitura imperdível. E foi...
O livro Como Proust pode mudar sua vida é constituído de 9 capítulos que analisando a vida e obra de Marcel Proust, autor de Em busca do tempo perdido, um dos maiores escritores de todos os tempos. De Botton introduz leigos e conhecedores da obra de Proust em seu universo particular, de uma forma agradável e despretensiosa, mas com um grande conhecimento de causa. Um livro que, embora não seja de auto-ajuda, é de inestimável ajuda ao leitor que gosta de uma obra que una utilidade e prazer em doses concentradas e equilibradas.
Abaixo, um fragmento de Em busca do tempo perdido, que De Botton faz sua análise (e que nos serve de lição de vida):
"Não existe homem algum, mesmo sábio, que nunca tenha, em certo período de sua vida, dito coisas - ou vivido de um modo - que se tornaram tão desagradáveis mais tarde que ele desejaria apagá-las da memória. Mas ele não deve lamentar de todo esse período, pois não pode estar certo de que teria alcançado a sabedoria - até o ponto em que um homem pode alcançá-la - se não tivesse passado por ele, e assim essa fase passar a ser entendida como um estágio necessário de um aprendizado. Eu sei que existem jovens (...) em quem os professores incutiram uma nobreza de pensamento e um refinamento moral absolutos desde seus primeiros dias de vida escolar. Eles talvez não tenham nada de que se arrepender quando olharem para trás em suas vidas; podem, se quiserem, tornar pública a confissão de tudo aquilo que fizeram ou disseram; mas são criaturas pobres, descendesntes fracos de doutrinas alheias, e sua sabedoria é negativa e estéril. Afinal, ninguém pode nos ensinar sabedoria, nós temos que descobri-la por nós mesmos, numa viagem que devemos fazer necessariamente desacompanhados, num esforço que ninguém pode fazer por nós".
Que o período acima, sirva em 2008, de lição tanto a educadores e alunos, como a pais e gestores escolares. Só se aprende a viver, vivendo, já dizia o poeta. Que no ano novo, que se inicia, continuemos nossa eterna luta Em busca do tempo perdido e da valorização da educação fundamental, que deve, fundamentalmente iniciar na família e continuar na escola e na sociedade.
Observação: Imagem acima, cópia escaneada da capa o livro em questão.