sábado, dezembro 22, 2007

Em algum lugar do passado: o filme, a música e a revelação...


Em Algum Lugar do Passado (1980), filme de Jeannot Swzarc, narra a paixão de um escritor, interpretado por Christopher Reeve (o ex-Super-Homem), pela foto de uma bela atriz de teatro do início do século XX (a belíssima Jane Seymour), que ele vira emoldurada em um hotel. Como um historiador amador, da pesquisa sobre a vida da atriz, Reeve, ou melhor, a personagem por ele interpretada, descobre que já estivera naquele local hospedado, só que em 1912, quando sequer tinha nascido. Surpreso, acha um livro sobre viagens no tempo - o preferido de sua amada. Oito anos antes, uma senhora idosa deu-lhe um relógio, falecendo logo após. A moça da foto e a senhora do relógio eram a mesma. Sem máquina do tempo, o escritor parte em busca do grande amor, fazendo uma pesquisa sobre trajes da época, maneira de se portar, sem poder levar nada que lhe lembrasse o seu presente. Quem não viu esse belíssimo filme ainda, paro por aqui, para não estragar seu deleite...
Em algum lugar do passado é um de meus filmes preferidos, por unir justamente história e literatura. Com uma trilha sonora impecável, traz como carro chefe a música de Rachmaninoff, Rhapsody on a Theme of Paganini.
Quem já não teve aquela famosa sensação de "Déjà Vu"? De já ter visto alguém, de ter estado em algum lugar antes? “Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos”, disse José Saramago. Em um país e tempo sem memória, temos a impressão que em algum lugar do passado deve estar a chave mestra para entender a nossa sociedade.
Eu, particularmente, nesse final de ano, quando os bancos fecharão as portas para fazer seu balanço anual, que as emissoras de tevê virão com as suas retrospectivas, quero aproveitar para agradecer àquelas pessoas que direta ou indiretamente "em algum lugar do meu passado" contribuiram para eu ser o que sou hoje... Tenho convicção que se não fosse por meus professores eu não seria um educador, tampouco um homem engajado nas questões sociais de meu tempo. Não se pode desassociar o profissional do cidadão. Aqueles que fazem essa separação, contribuem para o mundo e tempo em que vivemos...
Às vezes, conversando com amigos ou em palestras com outros professores, alunos e jovens, gosto de lembrar de 3 professores, em especial, dentre tantos bons educadores que passaram pela minha vida e eu pela deles: no ensino fundamental, a profª. Ada Porto, que numa prova de Geografia, quando eu preenchi todo o mapa do Brasil, com o nome de seus estados e capitais, ela gentilmente anotou no canto a lápis que eu procurasse sempre responder apenas ao que foi pedido, com esse lembrete ela nem sabe o quanto isso me ajudou a ser direto e objetivo na vida, sem muitos rodeios e divagações desnecessárias; no ensino médio, a profª Maria Lúcia Pinheiro, de Educação Artística, que me disse uma vez que eu não deveria copiar os desenhos, para não ficar com o traço e o olhar marcado (copiar no caso, não passar por cima, mas olhar e reproduzir algo igual), e seu comentário me motivou a sempre buscar a originalidade; e, por fim, no ensino superior, o prof. Péricles Gonçalves, na disciplina de Direito Constitucional, que em duas avaliações sutilmente me demonstrou que o verdadeiro mestre é aquele que dá exemplo de ética, correção e exatidão em seus critérios de avaliação, pois lembro que na 1ª avaliação, acreditei ter sido muito seguro (e as aparências enganam) e tive uma nota inferior a minha auto-avaliação, enquanto que na 2ª, devido a problemas pessoais (que quase me fizerem abandonar o Curso de Direito), fui inseguro, mas direto e objetivo e fiquei com uma das melhores notas da turma. O prof. Péricles, hoje meu confrade e amigo na Academia Rio-Grandina de Letras, nada sabia de meus problemas, mas soube avaliar com precisão o conteúdo exposto por seu aluno. Dali em diante, o jovem tímido e inseguro passou a começar a melhor se expressar em público, algo essencial para o futuro educador. Enfim, em algum lugar do passado, descobri minha vocação e tive professores e amigos que me balizaram, com seus próprios exemplos, o caminho a seguir. Em algum lugar do passado temos essas pequenas revelações que vão moldar nosso futuro. Que cada educador tenha consciência hoje do que ele representará para o futuro de cada um de seus alunos, a partir da pedagogia de exemplo que ele dá a cada dia em sala de aula e, acima de tudo, fora dela... Nessa época de final de ano, um "filme" passa em nossa cabeça... Então, que esse filme seja tão interessante como o do vídeo acima, capturado do YouTube.