sexta-feira, dezembro 21, 2007

Mensagem de Natal: A vigília dos pastores


Reproduzo abaixo, mensagem de Natal que publiquei no jornal cultural Letra Viva que, editado por mim, leva quase o mesmo nome deste blog, mas que iniciou sua trajetória impressa e distribuída gratuitamente na região de Rio Grande e São José do Norte - RS - Brasil, em junho/2004. A acima citada mensagem, foi publicada na edição nº 19, Ano II, mês dezembro/2005, e trata-se de texto de Nelson Rodrigues, que merece maior reflexão, nessa data natalina, impregnada pela mídia de um efeito consumista e pouco espiritual. Por sinal, a imagem do tal Bom Velhinho, que está estampada em anúncios no rádio, TV, jornal, internet, etc, e na frente de cada loja, foi criada pela Coca-Cola, em uma de suas grandes campanhas promocionais, no início do século XX (se não me falha a memória RAM... risos), adaptando a história de São Nicolau. Creio que Coca-Cola nada tenha a ver, por mais que tente, com o verdadeiro espírito de Natal. Calcemos, então, às "sandálias da humildade" e tenhamos todos um bom e fraterno Natal.

A VIGÍLIA DOS PASTORES

“Escrevo à noite. Vem na aragem noturna um cheiro de estrelas. E, súbito, eu descubro que estou fazendo a vigília dos pastores. Aí está o grande mistério. A vida do homem é essa vigília e nós somos eternamente os pastores. Não importa que o mundo esteja adormecido. O sonho faz quarto ao sono. E esse diáfano velório é toda a nossa vida. O homem vive e sobrevive porque espera o Messias. Neste momento, por toda a parte, onde quer que exista uma noite, lá estarão os pastores – na vigília docemente infinita. Uma noite, Ele virá. Com suas sandálias de silêncio entrará no quarto da nossa agonia. Entenderá nossa última lágrima de vida” – fragmento de A vigília dos pastores, de Nelson Rodrigues, escritor maldito para uns, genial pra outros.
O belo texto acima, profundo e lírico, que nos sirva de esperança e conforto num mundo cada vez mais dominado pelo materialismo. Onde o espiritualismo é motivo de deboche por aqueles que, como Herodes, perseguem crianças; como Caifás perseguem o Filho de Deus, e como Pilatos, lavam as mãos e viram às costas para as injustiças do mundo que nos cerca. Ilusão querer esperar pela volta do Salvador, se continuamos presos aos grilhões da cobiça, da inveja, da violência e da omissão...
Ainda há tempo. A esperança – que é a última que morre – vive a nos rodear. Mas quem lhe dará a mão, preferindo ficar no conforto de seu lar, de seu emprego, da mesmice e do lugar-comum? Fujamos para o Egito interior e de lá voltemos para completar nossa missão. Cada um veio a esse mundo para cumprir um destino. Calcemos as verdadeiras sandálias da humildade e sejamos também pastores das boas novas. Não importa que o amigo-irmão, o pai-patrão nosso de cada dia digam o contrário. Não nos importemos com o que os outros digam o que é o certo e o errado. Nossa consciência é o nosso guia, que nos levará a nossa Belém interior. Renasçamos e tenhamos um Feliz Natal.

Observação 1: Imagem acima, quadro A Fuga para o Egito, de Cândido Portinari, 1937, extraída da página do Projeto Portinari.
Observação 2: O jornal Letra Viva, que trata de arte, cultura e literatura, está na sua 42ª edição, novembro/2007, completando a 43ª neste mês de dezembro. Aos interessados em receber gratuitamente esse jornal, via correio eletrônico, favor enviar uma mensagem para o e-mail klaesroig@yahoo.com.br , que será cadastrado na lista de contatos do Letra Viva.