quinta-feira, julho 10, 2008

A guerra aos bonés e o poder da educação


Havia num reino desencantado, reis e rainhas que baniram uma espécie de chapéu com uma única aba, fixa a frente do olhar, usada pelos jovens do local, e que considerada desrespeitosa à realeza, fora banida para sempre daquele reino não tão-tão distante assim, ainda que não tivessem os nobres uma explicação lógica para tal fato. Os jovens se rebelaram e do confronto, muitos foram expulsos do castelo, ficando do outro lado do fosso e da ponta elevadiça, sujeitos às criaturas da floresta, sempre ávidas em capturar alguém do palácio, para seus rituais alucinógenos...

Não. O texto acima, de minha autoria, não é um mini conto para ser inserido em um de meus outros blogs, o RPG - Role Poetic Games (blog de jogos poéticos literários), em parceria com graduandos e pós-graduandos de Letras, aqui de Rio Grande - RS - Brasil, que narra a saga de personagens reunidos em torno do misterioso e mítico Castelo de Messiter.
O texto acima, uma tentativa de apólogo, foi influenciado pela postagem O "apólogo dos dois escudos": educação e tecnologia? (postado em 09/7/2008), e é fruto também do comentário do amigo e colega Robson Freire, editor do criativo blog Caldeirão de Idéias , que também como eu, trabalha como multiplicador de informática educativa em Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE) - ele em Itaperuna-RJ e eu em Rio Grande-RS.
Robson, a respeito da referida postagem, comentou fato ocorrido na escola onde seu NTE está instalado, fato similar ao acontecido coincidentemente (ou não...) na escola onde meu NTE também está implantado. O que ele chama de "Morte aos Bonés!", batizei de "Guerra aos Bonés!" E é um fenômeno da transição entre o ensino tradicional e a revolução tecnológica que ameaça o "poder constituído" de certos professores, ainda vinculados por demais a figura do Magister Dixt (o mestre disse!). E se ele diz é lei. Hoje, o jovem, com acesso a informação e aos multimeios, dominando estes melhor que o professor, gerou um conflito de identidade no magistério. Há dois cavaleiros distintos: professores e educadores. Os primeiros, ainda estão atrelados a uma prática de um estudo dirigido em que ele próprio é o condutor e controlador de tudo, e se tem algum assunto que não domina (como por exemplo a informática e a tecnologia em geral), esse é banido ou rechaçado de forma aberta ou subliminar. Alguns dizem que estão velhos demais para aprender a usar tais ferramentas e que isso não tem serventia para sua prática escolar. Para esse lembro exemplo de espanhola de 92 anos de idade que recentemente teve seu blog eleito como o melhor do mundo. Idade nada tem a ver como vontade de aprender algo novo.
Então, esses profissionais conservadores reclamam que os filhos dominam às tecnologias, e não têm paciência para ensiná-los. É, santo de casa não faz milagres mesmo...
Do outro lado, há o educador, que aprendeu que educar é uma via de duas mãos, em que podemos ensinar e aprender com nossos alunos, a partir da realidade local em que cada um desses jovens está inserido (Aprendemos muitas vezes por que o aluno é problema ao conhecer seus pais). O professor, independente do estágio tecnológico da sociedade, será uma figura essencial para a transformação da informação em conhecimento. Nenhuma máquina fará esse trabalho, pois ainda que a inteligência artificial prospere da ficção cinetífica para o cotidiano, nunca um ser cibernético terá as mesmas emoções e compreensão do mundo contraditório dos humanos. Máquinas trabalham com princípios lógicos, algoritmos e outras equações matemáticas... Como criar uma fórmula para uma máquina entender que o motivo que faz alunos serem problemas na escola não é causado pelo ambiente escolar, e muitas vezes é gerado no próprio seio familiar? Vivemos um tempo de caça às bruxas, e da penalização de culpados. De repente um prosaico boné pode ser acusado, sem direito à defesa (até pelo fato que bonés não podem se defender. Risos), e ser banido de uma escola, pelo simples fato de que alguns professores acham que ele é um desrespeito a sua autoridade. Autoridade se conquista, salvo em tempos de exceção, que vem por decreto. Pela lógica, desrespeito é dizer uma coisa e fazer outra, como por exemplo proibir o cigarro, mas fumar diante dos jovens. Paradoxalmente, a lógica do jovem é muito mais tradicional que a "flexível" lógica dos alunos. Eis uma das contradições e motivo de choque de gerações entre jovens e adultos.
Se ao jovem, às vezes, falta maturidade e vivência para discernir o certo do errado, sendo mais suscetível a discursos panfletários, pirotécnicos, populistas e demagógicos; sobra-lhe a visão lógica, que o faz quebrar recordes em jogos eletrônicos sofisticados, que envolvem raciocínio, velocidade, visão espacial, etc. Por que será que às vezes em sala de aula falta a juventude esse mesmo raciocínio, quando a prática é tradicional? Autoridade e proibições não resolvem problemas de uso da rede lógica de computadores e da lógica da rede de ensino, quando centrada apenas na autoridade pela autoridade, sem a devida argumentação do motivo que um boné, por exemplo, pode ser algo desrespeitoso ao professor...
Quem, como eu, já foi síndico e trabalha na educação percebe nitidamente que as causas da omissão dos pais, de não impor limites nem obrigações aos filhos, vai depois repercutir na escola e na própria sociedade. Já presenciei, tanto em escolas como em condomínios, discussões de pais omissos contra às administrações escolar e condominal, tentando justificar o injustificável (sua ausência e desinteresse); pais que acabam sendo permissivos por conta de sua ausência no período educacional e identitário do aluno, que precede ao ingresso na escola, depois veste capa e espada contra quem acham que está prejudicando seu filho rebelde. Daí por diante, é o mundo que educará o filho que será um aluno comprometido com uma visão particular e não universal. Muitos, sejam jovens ou adultos, só falam em direitos, estatutos, etc, mas esquecem que esses decorrem de deveres... Deveres de estudar e de trabalhar dão direito às férias estudantis e profissionais. Inverter isso é ilógico.
O boné, para atual geração é uma questão de identidade e não reconhecer isso é se encastelar por demais numa torre de marfim, achando que proibir basta para fechar a questão com uma geração que é contestadora, e muitas vezes rebelde sem saber a causa.
A tecnologia também é algo que precisa ser integrada ao cotidiano escolar, sem que seja encarada como um bicho-de-sete-cabeças por parte do professor e gestor escolar. Coisa que seguidamente fico contrariado é quando alguns professores trazem maravilhosas apresentações de slides para apresnetar aos seus pares, ou a pais e alunos, mas não sabem mexer nos bichinhos de sete-cabecinhas, chamados DVD e PC. Aí pergunto aos meus botões: quem afinal fez a tal produção? Muitos professores fazem o tema de casa, ou como muitos pais, alguém faz por eles e seus filhos, para impressionar o respeitável público... Muitos professores se queixam da falta do responsável pelo laboratório de informática educativa (LIE), na escola, que acaba fechado por que ninguém sabe usá-lo com os alunos. Pera aí. Deixa eu tirar o boné! Sou contra essa figura, que deve, quando muito, ater-se a questões técnicas e de manutenção. Quem deve usar o LIE com os alunos é o profesor da própria disciplina. Se não tem conhecimento, procure os NTEs para se capacitar, utilize o potencial que os alunos têm com as tecnologias, e proponha que alguns deles, os líderes da turma, sejam seus monitores, traga os alunos pro seu lado da ponte elevadiça ou atravesse-a... Não tenham medo de computador que não é nenhum dragão. Dragões não existem! E parem de querer etenamente um "Severino" - personagem do programa humorísitco Zorra Total, que faz tudo por todos! -, pois cabe ao professor se incluir ao processo de informática educativa em curso. Além de rever seus valores centrados num tempo que não existe mais.
O poder da educação é o de emancipar as pessoas, torná-las críticas e independentes. O poder na educação, de impor apenas limites e não propor soluções para problemas geradas dentro e fora da escola, é que deve ser debatido, refletido e adequado ao espaço de cada um. Todos temos nossos limites, mas alguns limites impostos são muitas vezes desnecessários, como essa polêmica do uso de bonés e outras proibições que carecem de argumentação lógica para sua implantação.
Um tiro meu boné apenas para as práticas solidárias e integradoras. Àquelas que excluem coisas sem maiores discussões, são práticas antiqüadas que com o tempo não se manterão. Aqui na escola, onde funciona o meu NTE, os professores se reuniram e decidiram que cada professor estipula em sua sala de aula o que pode e não pode ser feito. É um meio termo. Embora, com todo respeito aos professores e colegas de qualquer instituição de ensino pública, lembro que não existe MINHA sala, MINHA escola, MINHA turma, etc.; e sim, NOSSA COMUNIDADE.
Observação: Imagem acima, esxtraída da internet, do endereço
http://amazoniabrazil.com/english/index.php?main_page=index&cPath=26_27