Álbuns de figurinhas e o efeito borboleta em mim

Lembro um dia, na casa de amigos, em que a filha de um deles jogava a versão eletrônica d'O Jogo do Milhão, acertei muitas perguntas de ciência e história, por conta das lembranças de infância e meus álbuns de figurinhas perdidos na memória. Causei uma ótima impressão nos colegas e amigos, mas tudo graças a esses ilustrativos almanaques. A criança, seja qual for a época, tem um poder visual incrível, maior do que o textual. Eis o grande trunfo do arte-educador, no sentido amplo do termo, daquele professor que concilia arte, cultura e tecnologia em seu fazer pedagógico, de mexer com o imaginário infanto-juvenil, seja com um simples jogo da memória, álbum de figuras, vídeo, clipe, fotografia, etc. O jovem assimila melhor o conteúdo de forma visual que de forma abstrata, e a associação de idéias ficará guardada para sempre na memória visual do aluno. Lembro, por exemplo, que quando minha professora de Geografia, no ensino fundamental, falava das monções meu poder de abstração me levava pra longe da sala, pra outros mundos imaginários, sem conseguir definir o que era aquilo. No dia que ela trouxe revistas, tipo National Geographic, e nos mostrou o que era cada coisa de que falava, através de fotografias, nunca mais esqueci o que era uma nuvem cumulu nimbus, estratos, etc. O poder de abstração do jovem pode também ser alimentado através de imagens reais sobre descrições meramente abstratas (isso pra mim é hipertextualidade na forma mais rudimentar, claro). O prof. de matemática falar em aula de 3 maçãs, 4 laranjas, mas trazer isso e mostrar ao vivo, pegar a turma e dar uma volta na escola, fazendo associação de fórmulas e problemas mostrando janelas, portas, seja o que for, ao jovem, dará um impacto inesquecível.
Sei que, por exemplo próprio, quando em projeto de aprendizagem com turma da educação especial (http://janainaejose.pbwiki.com/) falei dos estados da matéria e das mudanças que ocorrem (sólido, líquico e gasoso) só obtive resultados e surpreendentes com a saída de campo. Quando saímos todos (eu, a profª. da turmade 2ª série DM e os alunos) num passeio, verdadeira aula ao vivo, pelo entorno da escola, mostrando na prática um caminhão frigorífico, que carregava pescados, o brilho (seriam flashes? das câmeras ou) olhos dos alunos foi incrível. Estão lá, garanto, até hoje essas imagens da teoria à prática escolar.
Faz muito tempo que não coleciono, sequer selos, que também são grandes fontes de informação de culturas variadas. Mas vendo essa imagem acima, em um blog, a mesma remeteu meus pensamentos ao jovem que eu fui um dia. E boas sensações me tomaram conta. Remeteu-me ao filme Efeito Borboleta, inspirado na teroia do caos, que também trabalha com essa questão da imagem, em que um jovem, através do fixado olhar sobre uma fotografia podia literalmente se transportar ao momento em questão. Imaginem só se além da alma, o corpo pudesse fazer essa viagem no tempo. Bom nem pensar muito. Vá que aconteça. Risos. Mas para os teimosos, sugiro assistir ao filme acima citado para verem que nem tudo é tão simples assim. Toda volta tem suas implicações. Melhor é voltar só em pensamento, recordando os erros e acertos. Como digo pra mim mesmo: "Lamento por muita coisa que fiz em meu passado, coisas muitas vezes que estavam além de meu poder de decisão e de minha compreensão, mas não me arrependo de nenhuma delas, pois todas as decisões foram tomadas com a consciência de suas implicações no tempo e no espaço".
Em contrapartida, a teoria do caos fala disso, das implicações que um simples bater de asas no Japão pode, quem sabe, causar uma tempestade do outro lado do mundo. Transpondo tal teoria para o, às vezes, caótico mundo educacional, pode-se dizer com tranqüilidade que o professor é a borboleta que poderá causar uma revolução ou tempestade na vida futura de seu aluno. Como? Pela simples pedagogia do exemplo em sala de aula! Proibe fumar e fuma; não permite usar fone celular e usa o seu indiscriminadamente; proíbe o uso do boné em uma geração que boné, toca, bandana e outros adereços são parte da própria identidade e não diz o motivo de tal proibição, ou quando muito, alega falta de "respeito"... Ou, como o professor do filme Dead Poets Society (Sociedade dos Poetas Mortos), chama a todos seus alunos pra Carpe diem (aproveitem o dia!). Entre essas duas posturas, estará o futuro do aluno. Claro, de nada adianta um ótimo educador, se a família também não faz a sua parte. Tudo é, como dizia uma música do grupo Mamonas: "Uma faca de dois legumes".
Pra viajar no tempo com tranqüilidade e sem correr riscos, prefiro um bom livro, filme, música, ou um prosaico álbum de figurinhas, e já está bom demais...
Observação: Imagem acima, extraída da internet, do blogah.