domingo, agosto 10, 2008

Aos Jovens do Ano 2000


Hoje, Dia dos Pais, resolvi recuperar um texto, uma de minhas primeiras crônicas, escrita no löngínquo ano de 1985, quando tinha 21 anos, estava concluindo o ensino médio, e vivendo todas as esperanças e desilusões de quem tem essa idade.
Em 1985, incrível, ainda existia o Muro de Berlim, a Guerra Fria, e o texto é escrito nesse contexto caótico. Não existia a internet; a informática e o computador pessoal ainda não tinham se popularizado. Eu vivia uma transição de poeta para cronista, depois contista... Era um "rato de biblioteca", e devorava vários livros por semana... Lembro que naquele ano ganhei meus primeiros concursos literários a nível escolar. Um deles, o primeiro lugar com a redação chamada Sangue Farrapo, em comemoração ao Sesquicentenário da Revolução Farroupilha, promovido pela Brigada Militar, aqui de Rio Grande - RS (a polícia militar do Rio Grande do Sul) e que me rendeu uma calculadora científica, que existe e funciona até hoje; incrível, já que atualmente os equipamentos eletrônicos são descartáveis e ficar mais de um ano com algo é sinônimo de descaso, para alguns. Ou de sorte para outros, já que nada mais é feito para durar, sejam as máquinas e os relacionamentos mecânicos, que não duram mais que algumas temporadas.
Bom, em 1985, fiquei em segundo lugar noutro concurso com a mesma redação entre estudantes das escolas estaduais. Muitos anos depois, soube que acharam meu texto acima da média para minha idade, carregado de figuras poéticas, e que na dúvida, escolheram o de outro colega, que era mais realista e compatível com a idade. Recentemente, participei de uma comissão julgadora, cuja dúvida de alguns membros era também sobre a possibilidade de um jovem ter escrito um texto acima do que consideravam apropriado para sua idade. Resgatei perante eles minha experiência de vida, e acho que com isso contribuí indiretamente para o incentivo de um jovem talento para as letras.
Hoje, Dia dos Pais, quis recuperar então um texto meu, escrito em 18/10/1985, para um concurso estudantil de crônicas, mas que não obteve classificação (era fruto de um jovem sonhador e dessa forma deve ser lido e compreendido). Uma espécie de carta Aos Jovens do Ano 2000, e ao meu filho, no futuro... 23 anos depois, é uma pequena mensagem de Dia dos Pais, para que não deixemos pelo caminho a esperança nem o desejo de construir um futuro melhor para nós e para os que virão depois de nós... O referido texto pertence ao meu primeiro livro de contos e crônicas, ainda inédito, já que o primeiro livro publicado, Realidade Virtual, foi o segundo a ser escrito.
Então, um Feliz Dia dos Pais a todos aqueles que acreditam em seus sonhos e vão atrás deles...

AOS JOVENS DO ANO 2000

Hoje paira sobre nós a sombra de um confronto mundial. O homem moderno deixou de desfolhar bem-me-queres para colher cogumelos atômicos. Somos peças de uma grande engrenagem enferrujada. O sistema atual, que valoriza a máquina insensível e sem alma, numerou nossas vidas, deixando-nos confusos com tantos problemas indissolúveis... Nossos sentimentos mais humanos foram armazenados nos bancos de dados de um enorme computador.
O mundo está dividido: na Europa se armam ogivas nucleares; no Oriente continuam as intermináveis guerras por causa da fé; na África a riqueza de poucos é paga com o massacre, a discriminação racial e a exploração de muitos; o mesmo acontece com a nossa América Latina.
Amanhã, quem sabe, eu deixe de ser filho, irmão e amigo, e venha a ser pai, marido, homem normal. Talvez, meu filho não pense como eu e isso será ótimo, pois ele terá que saber por si só o que eu já sei, mas não quero acreditar.
Talvez, não me case, fuja pra Marte no primeiro ônibus-estelar que passar; e, lá, tal qual um ermitão, venha a me esconder em suas cavernas, colonizar seu chão inculto, pôr minha bandeira branca em seu solo virgem. Ou então, venha a me perder na eterna procura da Fonte da Juventude, pois hoje não estou preparado para envelhecer. Ainda não comecei a viver meus vinte e poucos anos. Deixei minha vida de lado, dependurada num cabide qualquer, na esperança de vesti-la daqui algum tempo, quando meus problemas tiverem sido resolvidos. Aí, não será tarde demais? — às vezes, me pergunto. Não sei, isso só o futuro irá me dizer. Talvez não queira ouvir essa verdade, quando ela vier me visitar.
Nossos filhos de amanhã, quem sabe, nem venham a ler o que hoje lhes escrevo, mas isso pouco importa. Quando falo em nossos filhos, dirijo-me a toda essa geração perplexa que perdeu os documentos e também a identidade quando o último trem da felicidade passou sem avisar. Geração a qual eu também pertenço e já nem lembro mais do meu número de série, senha ou código-secreto que tínhamos pra nos comunicar. O elo perdido do homem, talvez não esteja em seu passado pré-histórico, mas no seu futuro pós-guerra nuclear.
Adoro o vôo dos anjos, mesmo sem nunca ter visto nenhum deles voar. Pra falar a verdade, nem ao menos vi algum anjo em minha vida; salvo os das igrejas, cemitérios, hospitais e tudo mais que me deixa confuso e desorientado, diante daquele ser alado de pedra, aprisionado por uma grossa camada de mármore, granito, gesso ou pedra-sabão. Porém, mesmo assim, prefiro contemplar essa idéia de liberdade, a viver em constante alerta, esperando que a qualquer momento o homem cruel aperte o botão e mais uma vez tudo desapareça...
Se o Sol fosse um Deus, certamente se sentiria ameaçado pela loucura de seus filhos (loucos meninos), que construíram um brinquedo destruidor e agora tentam insanamente testá-lo uns nos outros para ver se funciona mesmo. Quem será o primeiro a arriscar? Isso ninguém saberá, pois dizem os sábios de plantão - e quem serão estes seres perfeitos que adivinham o futuro? - que ninguém sobreviverá a esse confronto de titãs. Tomara que, dessa vez, eles cometam um pequeno engano!
Se a Terra se partir em dois, pouco restará de nós, mas finalmente será feita a vontade de seus donos (e quem serão eles?), que decidem friamente o destino do mundo como jogassem uma partida de xadrez.
Bem, se antes disso acontecer eu não fugir pra Marte — pois, se outras pessoas que pensam como eu forem mais espertas o último ônibus-estelar estará lotado demais — então, ficarei por aqui mesmo, aguardando o momento final. Não construirei um abrigo subterrâneo; pois se eu não puder ser um anjo liberto, voando pelo céu sem destino, minhoca se enterrando na terra suja com medo, isso jamais serei...
Hoje, o presente me chama pra seu lado, sussurrando nos meus ouvidos, verdades que na boca do homem parecem mentiras. Não sei se escuto o que ele me diz ou se tapo meus ouvidos.
Minha casa é meu castelo e não quero me trancar em nenhuma torre distante, nem construir um fosso profundo que me aprisione dentro de mim, mais do que já tenho feito. Por isso, meu filho, meu amigo ou quem quer que leia estas poucas linhas retilíneas de minha clara juventude — que amanhã poderá estar manchada de poeira cósmica ou coisa pior — não se importe com futuro incerto, apesar de que tudo lhe indique ser obscuro. O que interessa é o hoje (amanhã, para os jovens do ano 2000), que está batendo a minha porta e vou ter que atendê-lo pra ver se não é um trote.
Não espere muito se eu não vier te buscar. É que o destino poderá me levar pra longe do que penso e desejo; e, talvez, eu chegue tarde demais pra te encontrar. Por isso, meu filho, não me censure por ter perdido a chance de ter sido teu pai, só por ter querido aproveitar meus minguados anos de liberdade. Eu sou assim mesmo — tão inseguro e inconstante —, amando a vida (mulher irresistivelmente jovem e bela) sem nunca querer me entregar.

José Antonio Klaes Roig
Observação 1: Foto acima, de minha família, que é a responsável por muita coisa que tenho obtido nesses anos 2000, e que, não é por mera coincidência, passou a ser formada em 2000, quando casei com a profª Elisabete. Em 2005 veio Allan, para me proporcionar a paternidade/maturidade. Quando somos verdadeiramente pais, deixamos de pensar como filhos, e passamos a ser responsáveis por uma vida que é um pedaço de nós, e que nos garantirá indiretamente a tão sonhada eternidade...
Observação 2: Ano passado criei o blog Olhar Virtual , para divulgar vida e obra do artista plástico José Américo Roig, o Zeméco, meu pai, de quem herdei o gosto pela arte cultura desde sempre... E minha mãe, a profª Hildette me "entronizou", ainda criança, no mundo das letras. Meus pais são o exemplo real da Educação a distância (EaD), em minha vida. Criado por meus avós paternos e uma tia, meus pais sempre foram exemplo para mim e sempre estiveram por perto, ainda que distantes no espaço. Os pais são o primeiro educador que a criança tem. E em quase 16 anos de educação, aprendi que quando se conhece os pais do aluno-problema, descobre-se enfim o problema daquele aluno...

6 Comments:

Blogger D.T.G.Lanceiros da Tradição said...

Oi José . Parabéns pelo dia dos pais , muito linda a foto de vcs. Adorei o texto que escreveste em 1985 !
Um abraco
Beth

19:37  
Blogger Elis Zampieri said...

É Zé, e nessa época nem imaginávamos ainda de quantas desgraças mais seríamos testemunhas... infelizmente continuamos a viver a lógica do progresso para a destruição.
Lindo texto, emocionante a forma como lidas com as palavras e os sentimentos.
Um abraço.

08:44  
Blogger José Antonio Klaes Roig said...

Oi, Beth, brigadão pelo comentário. Tenho divulgado pros nossos cursistas o teu blog, ontem fizemos oficina de blogs e mostramos o teu. Pessoal gostou muito pela riqueza de conteúdo e efeitos. Parabéns, miga, um abraço, Zé.

11:17  
Blogger José Antonio Klaes Roig said...

Oi, Elis. Que coisa né, miga? Quando escrevi o texto Aos Jovens do Ano 2000, 23 anos atrás, qdo eu tive 21 anos (é a versão original q postei), muita coisa era diferente, muita coisa mudou na questão tecnológica, mas na questão de relacionamento humano, parece que involuímos, o terror agora é de ambas as partes. A tecnologia na educação aidna engatinha e esperamos que ela possa ser a nossa redenção, já q a internet e coisas como blogs podem fazer o diferencial, já que somos editores de conteúdos. Brigadão pelo comentário, um abração, Zé.

11:20  
Anonymous Anônimo said...

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Blogger John said...

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