sexta-feira, agosto 22, 2008
Tempos atrás ouvi a expressão "espetacularização da vida", que tratava da intensa exposição de algumas pessoas pela mídia. Mas há que se convir que muitos, antes da fama, usam a própria mídia, e o "efeito paparazzi" de alguns veículos, em seu favor. Depois, rebelam-se com a "caça" que fotógrafos e jornalista da tal "imprensa marrom" ou sensacionalista faz, vasculhando sua vida, dando ares de verdade a simples fofocas ou especulações...
Porém, quando acontecem megaeventos como uma Olimpíada, a espetacularização da vida toma proporções gigantescas, e se os jogos olímpicos são disputados em um dos maiores países do mundo, com a maior população do planeta, tudo é elevado a proporções fantásticas.
Que lições os jogos olímpicos que estão já na fase final nos deixam? Que o importante é competir? Que o espírito olímpico está acima das disputas de beleza individuais e de países? Que o homem está acima da máquina, ou que deseja tornar-se uma, tentando superar cada vez mais seus limites?
Bom, muitas lições e reflexões são possíveis, pós-jogos olímpicos de Beijing (Pequim) 2008. Um deles que a cada geração há uma evolução física e genética do homem, surgindo fenômenos das pistas, piscinas, quadras, que pulverizam recordes mundiais, como Michael Phelps (natação), Usain Bolt (atletismo, corrida), Yelena Isinbayeva (salto com vara), entre outros.
Nunca o esporte foi tão espetacular e tornou-se espetacularizado pela mídia, que deposita sobre os favoritos o peso de ouro das críticas e dos patrocinadores milionários. É muito ouro em jogo! No caso brasileiro, curiosamente, salvo alguma exceção, os atletas favoritos não correponderam às expectativas criadas pela mídia, é verdade, em função de um bom retrospecto antes da Olimpíada na China. Para alguns patrocinadores, veículos de comunicação e atletas de ponta, era a oportunidade de fazer um verdadeiro "Negócio da China". Nem todos conseguiram seu intento. Pode ser leviano dizer, mas credito sim, parte de escorregões, quedas, deslizes, "salto alto" e tropeções dos nossos favoritíssimos atletas a uma poderosa campanha de marketing esportivo da grande mídia tupiniquim, no famoso "Já Ganhou!", que não aprende a lição... Desde 1950, quando a seleção brasileira de futebol, favoritíssima ao primeiro título mundial de futebol, em casa, perdeu para o Uruguai - em parte, fruto da badalação de autoridades, socialites, imprensa e etc, achando que o título já estava certo, antes da disputa -, não aprendemos com os erros. O futebol mesmo é emblemático. Sucessivas derrotas em olimpíadas, ainda que "no papel" e sempre nele, sejamos os eternos favoritos à medalha de ouro. Nem tudo que reluz diante dos holofotes midiáticos é ouro! Nem sempre individualidades (e temos de sobra pra formar duas, três seleções...) consegue formar um espírito de equipe, seja olímpico ou não, em um esporte que é essencialmente coletivo. Ai, como sempre, a batucada e a empáfia de alguns aspirantes a craque aliados a jogadores consagrados é substituída pela "marcha fúnebre", como de soldados que são derrotadas num campo de batalha. Tudo parece um imenso espetáculo a céu aberto. Com a diferença substancial de que a maioria tem consciência que é uma personagem que posa para flashes e câmeras de TV (escondidas ou não) quase 24 horas por dia. E quando se tem a consciência de que é observado, gravado, fotografado, nunca se é natural. Isto é fato e não foto.
A maioria do time de futebol masculino já está consagrada, milionários antes dos 23 anos, jogando nos melhores clubes, com comemorações ensaiadas para às câmeras, quando fazem um gol. Uma coisa tenho percebido, desde 1982, quando, para mim, a melhor seleção de futebol brasileira e uma das melhores do mundo vi jogar, perdendo para a Itália, com Zico, Falcão, Cerezzo e Zico, no meio-campo: a falta de emoção, seja na vitória como na derrota. Parece que ganhar um título pelo time europeu ou fechar outro contrato milionário com algum é mais importante que defender a bandeira do seu país. Tudo bem, a maioria deles superou graves problemas sociais, por conta do talento individual. Como então querer que tenham este espírito de corpo social, se a sociedade na maioria das vezes não os têm como um dos seus? O que seria da maioria dos nossos craques espetaculares e espetacularizados, se não fosse o enorme talento individual que possuem? Talvez estatísticas de evasão escolar, trocando o talento de craque da bola pelo uso do crack e do tráfico de drogas, e por ai vai... O esporte, para muitos, é a redenção, e tal redenção, por si só, já é espetacular e paradoxal, e merece ser destacada...
Hoje, vejo narradores e comentaristas esportivos, mais fãs do que críticos, longe no sentido terminológico desta palavra. Criticar é avaliar sensata e ponderadamente. Agora me digam quem, na grande mídia, salvo raríssimas exceções, deixam de ser "porta-vozes" dos clubes e interesses bairristas do que de fato comentaristas fiéis ao espetáculo, e não apenas comentaristas de resultados? Criticar, após a derrota é fácil. Quero ver criticar e fazer uma salutar autocrítica, antes dos eventos espetaculares ou espetacularizados por um efeito paparazzi de querer tudo saber, tudo dizer que sabe, tudo querer fazer crer aos demais que é o que está sendo dito, como expressão da verdade. A Verdade é algo muito pessoal. Cada um tem a sua particular. A verdade geral, se existe, é um mito tão fantástico como o dos deuses do Olimpo, e quem sabe esteja aprisionada atrás dos portões da Cidade Proibida, em Pequim (Beijing) ou em mim...
Para termos uma pequena mostra dessa espetacularização da vida e dos efeitos colaterais que ocorrem, leiam abaixo o link (atalho) para notícia extraída do portal Yahoo!Esportes, que destaca o fato do ex-campeão olímpico, o norte-americano Carl Lewis, estar impedido de comentar sobre velocista jamaicano Usain Bolt, o homem mais veloz do mundo em Pequim, pulverizando recordes com incrível facilidade. Não se trata de disputa de beleza, ou inveja de Lewis em relação a Bolt, muito pelo contrário. Se há disputa de beleza não é entre os atletas em questão, mas por conta de seus patrocinadores de material esportivo, duas gigantes do mercado que não gostam que seus patrocinados valorizem o adversário, por estes usarem material concorrente.
A notícia acima remete a outro fenômeno do mundo dos espetáculos: a televisão.
Em primeiro lugar, o fato que Usain Bolt, quando se aproxima dos 30 metros finais, em uma das provas que venceu disparado e folgadamente dos adversários, se preocupar mais em fazer pose pra sair bem nas fotos do que baixar a cabeça e tentar pulverizar mais ainda os recordes olímpico e mundial já é um sinônimo daquelas que falam sempre na Terceira Pessoa do singular. Narcisismo explítico, via satélite... Só faltou ele gritar, antes de cruzar a linha de chegada - como o coelho da fábula diante das tartarugas olímpicas arregaladas tentando acompanhar sua rapidez -, aquela frase que muito jogador de futebol dirige à câmera de TV, quando faz o gol: eu sou bom!!!; eu sou f...!!! Tudo prima dona.
Em segundo momento, podemos perceber hoje que a maioria das redes de TV criam seus programas de Reality Show, com seus personagens sendo vigiados e tendo consciência desse efeito paparazzi. E, como penso, não agindo de forma natural, mas simulada, que nem num jogo como o Second Life. TVs criam seus cantores, que vendem CDs, mas que não podem divulgar seu trabalho nas emissoras concorrentes, ou por imposição da empregadora, ou por negação da concorrência. Ai acontece outro fenômeno mais curioso ainda que é a escolha de melhor cantor, ator, artista do país, na opinião daquela televisão. O particular como universal. Pessoas que nada são além do fato de ter fama e viver desta, são endeusadas como se fossem campeões olímpicos, que bem ou mal, ralaram muito para conseguir o ouro, até prova (ou contrapova do antidoping) em contrário.
Enfim, como era bom antigamente assistir um espetáculo ao ar livre, ao natural, que não fosse extremamente espetacularizado, usando ou não efeitos de inteligência artificial...
Observação: Colagem acima, a partir das imagens extraídas da internet, dos seguintes endereços:
m_papeldeparede.php?papel=4065olimpiadas
-a-webcam-300-da-GOTEC
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2 Comments:
Olá amigo
“O verdadeiro espírito olímpico não é ganhar uma medalha de ouro, mas superar seus próprios limites”. Essa foi uma das principais mensagens transmitidas pelo canadense Christopher Jarvis, medalha de ouro na categoria Remo (dois sem, masculino), nos Jogos Panamericanos 2007. Mas como você bem diz "business is business" e "the show must continue" tudo isso aos olhos famintos da TV. Hoje tem cardápio chines no MacDonald´s, entre outras "coisinhas" na mídia, atletas naturalizados que nem sabem onde fica o pais que eles representam ( em alguns casos NUNCA foram lá).
Gostaria mais de ver o verdadeiro espirito olímpico, do Ademar Ferreira da Silva, Jesse Owens, gostaria mesmo de ver era um roteiro do Carruagens de Fogo executado do inicio ao fim numa olimpíada (sem deixar a maravilha do Vangelis de fora).
Abraços Olimpicos
Com certeza Robson. O espírito olímpico está em alguns atletas despojados da vaidade e do nascisismo à flor da pele. As meninas do futebol, por exmeplo, sem quase incentivo, reunidas às vésperas, sem a décima parte da estrutura e mordomias dos homens, e mesmo assim fazem sempre campnha melhor que os "medalhões". Rssss Um abração, Zé.
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