O Projeto
Clipes que Parecem Curtas, foi criado em 2010, amparado na Poética do Olhar, ou seja, buscar no alunado uma visão crítica, social, educacional e poética, levando em conta a sua visão de mundo, pois em se tratando de Literatura, assim o requer, que o jovem, mesmo vendo, aprenda a enxergar o que observa, além da linha horizontal de um texto e de suas palavras, verticalizando sua visão, sua interpretação e sua leitura de mundo; e até incentivando a produção textual.
Já dizia Paulo Freire que
“a leitura de mundo antecede a leitura da palavra”. Portanto, a relevância deste trabalho justifica-se pela intenção de unir as mídias, tanto informática (internet, microcomputador, datashow e videoclipes extraídos do You Tube) como impressa (livros e revistas) num diálogo entre a Língua Portuguesa e a Literatura, entre a leitura da palavra e a leitura da imagem; unindo também, além da Língua Portuguesa e da Literatura, a Arte e a Cultura, a História e a Sociedade, dentro da linha de pesquisa Literatura e Ensino (Educação e Tecnologia).
No projeto, iniciado em
outubro de 2010, com alunos do ensino fundamental e retomado em 2011, no ensino médio da rede pública da cidade do Rio Grande – RS - Brasil, tratei de comunicação, linguagem e leitura, utilizando videoclipes que os alunos veem apenas com olhos musicais, buscando um olhar literário para a construção de videoclipes que parecem curtas-metragens. Um deles, por exemplo, foi analisar o videoclipe
Minha Alma, da banda O Rappa, filmado em uma favela do Rio de Janeiro, em 1999 (século XX) e compará-lo com fragmentos do livro
O Cortiço, de Aluizio Azevedo, clássico da Literatura Brasileira, escrito em 1860 (século 19), lendo as imagens e as palavras, e observando tempo, espaço e enredo de cada um, no que eles se parecem e no que se diferenciam. E pedindo ao final, que os alunos me relatassem em texto curto, o que viram e leram, através das imagens.
Coloquei em prática formas de motivar um alunado que não tem hábito de leitura, valendo-me de uma aprendizagem significativa, que leve em conta a realidade deste jovem e o seu conhecimento de mundo, que traz diariamente para a escola, usando os recursos que ele domina e utiliza diariamente como a internet e os videoclipes, mas num contexto educacional e literário e não apenas recreativo e de lazer. Busquei estratégias para isso, usando a arte e a cultura como elementos adicionais ao fazer pedagógico.
Assim sendo, o projeto teve como objetivo principal analisar as possibilidades do uso das mídias (em especial, videoclipes) como material didático no processo de ensino-aprendizagem da disciplina de Literatura e do incentivo ao hábito da leitura de alunos do ensino médio. E como objetivos específicos: Propor formas de utilização das mídias, como computador, datashow, internet, videoclipes como estratégias de motivação do aluno para a leitura de imagens, e a interpretação de textos visuais; incentivar o hábito da leitura crítica, a partir de imagens, analisando num segundo momento clássicos da literatura; desenvolver o senso crítico do aluno, trabalhando com as formas de linguagem verbal e não-verbal, em suas diversas manifestações; motivar o aluno para as aulas de Língua Portuguesa e Literatura, a partir de uma aprendizagem significativa, levando em conta o conhecimento prévio que o mesmo traz de casa, unindo ao conteúdo e competências do ensino formal.
O referencial teórico deste trabalho, alguns conceitos do Construtivismo, como a Flexibilidade Cognitiva e a Aprendizagem Significativa, a partir de teóricos como D. P. Ausubel, Carl Rogers, Paulo Freire, entre outros, serviram para amparar a prática escolar, (é o mesmo que utilizo-me nas formações de professores da rede pública estadual, minha principal atividade. Projetos envolvendo alunos são atividades extras, para pesquisa ou em parceria com outros colegas educadores).
O construtivismo pareceu-me o melhor referencial, pois, segundo Rogers (1998), a Aprendizagem Significativa possui diversas implicações no domínio da educação, dentre elas:
“(...) que a aprendizagem seja significativa pela percepção da problemática e da busca pelos meios prover um ensino compartilhado; da autenticidade do professor frente aos desafios promovendo a interação mútua professor-aluno e o grupo entre si; que o educador precisa aceitar e compreender seu alunado, para assim poder mediar o conhecimento”. Ainda mais quando se pensa na problemática da falta de leitura dos jovens, que quando muito leem mais por obrigação do que por prazer.
Conforme Rogers (1998):
“A aprendizagem é muito mais significativa à medida que o novo conteúdo é incorporado às estruturas de conhecimento de um aluno e adquire significado para ele a partir da relação com seu conhecimento prévio”. D’outra forma, torna-se um processo repetitivo e mecânico. E as mídias e as tecnologias da informação e da comunicação (TICs), embora possuam uma mecânica própria, podem ser formas mais dinâmicas de passar um conteúdo pedagógico, sem “mecanizar” este fazer pedagógico.
Foi o psicólogo David Paul Ausubel, nos anos 1960, o primeiro a pensar sobre a aprendizagem escolar em um contexto fora da escola. E nesse contexto, outras condições são destacadas por Ausubel para que ocorra a AS, dentre elas:
“a disposição do aluno em aprender e o conteúdo escolar significativo”. Nos dois pólos em questão, cabe ao professor estimular o interesse do alunado a partir da elaboração de um conteúdo que seja atrativo, aliando a informática e os multimeios como ferramentas deste processo.
De acordo com Ausubel, o modelo de FC propõe, entre outras coisas, que
“(...) para que os estudantes desenvolvam esta flexibilidade cognitiva é preciso que os ambientes de aprendizagem repliquem esta complexidade e permitam a abordagem multidimensional a estudos de casos realistas”; o que pode-se dizer:
“promover a interdisciplinariedade e a intertextualidade de práticas, visto que (...) o computador, devido à sua flexibilidade de representações é adequado à construção de tais ambientes de aprendizagem”.Replicar o mundo do jovem, significa incoporar às estratégias pedagógicas elementos deste mundo, como videogames, internet, videoclipes, dança, etc. E no caso deste projeto, a interdisciplinariedade e a intertextualidade se expressam a partir da junção de clipes que parecem curtas (música e cinema), numa visão literária e também histórica.
Paulo Freire em a
“Pedagogia da Autonomia”, dizia que
“a leitura de mundo antecede a leitura da palavra”. O que se evidencia na forma que alunos que, sequer são alfabetizados, interagem com as TICs e, mais especialmente, com os jogos eletrônicos, muitos deles legendados em idioma estrangeiro (inglês, japonês e até coreano). Sabem ler os ideogramas japonês por experimentação e associação, erro, e acertos, mesmo que não consigam ainda ler as palavras, sequer em seu idioma natal.
Já o educador Sebastião Rocha trata de
“A função do educador”, em que a arte e a cultura, a memória e a sociedade devem andar juntas, também para maior significação dos atos e fatos de um educador.
E, para elencar mais um autor essencial a este trabalho, refiro-me a Pier Cesare Rivoltela, filósofo e educador italiano, que desenvolveu o termo
“Mídia-educação”, que é dar significado educacional às mídias, em que o professor seja um mediador em sala de aula e que o aluno seja tratado como co-autor do que lê, vê, escreve e produz. Segundo ele, o professor do futuro deverá tornar-se um “mídia-educador”, a fim de dar conta das possibilidades e demandas de um mundo cada vez mais integrado às TICs.
Unindo às mídias como suporte didático, utilizei-me de vídeoclipes que se parecem com curtas-metragens, para tratar tanto da Língua Portuguesa, como da Literatura, da arte e da cultura, da história e da sociedade com o alunado, procurando tornar esse processo de ensino-aprendizagem significativo e significante tanto para os alunos como para este educador. Afinal, como dizia Freire:
“Educar é ter a consciência do inacabamento”; é um processo em aberto, em que a intervenção do educador deverá ser como mediador entre o conhecimento prévio do aluno e o conteúdo formal, proposto pela escola.
A metodologia do projeto
“Clipes que parecem Curtas”, serviu-me de base para a reflexão sobre as mídias na educação, mas precisamente no processo de ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa e Literatura, no ensino médio, composta de 10 encontros (períodos), utilizando dos seguintes recursos: sala de aula convencional, microcomputador (notebook), internet (conexão 3G), datashow, livro, videoclipes (que baixei para o notebook, via
RealPlayer), folha de papel e caneta. Ou seja, que devemos levar em conta o conhecimento de mundo que o aluno traz de casa e buscar propor apresentar o conteúdo formal, a partir de meiso que o alunado conheça e goste de utilizar. No caso, as mídias.
A prática foi composta de três fases (exposição de vídeos e leitura de fragmentos de livros; interpretação e produção textual), analise das formas de linguagem verbal e não-verbal, a partir de videoclipes que podem ser lidos como se fossem curtas-metragens, em que cada aluno viu, interpretou e produziu um texto a partir de suas impressões sobre a palavra cantada e a história contada através de imagens, tratando de interdisciplinariedade e intertextualidade.
Das reflexões, algumas conclusões: o hábito da leitura precisa ser incentivado desde a tenra idade e pela família, seja através de livros só com imagens, HQs etc; que boa parte dos alunos entende a literatura como uma obrigação e não como prazer, justamente por essa falta de costume; que o uso de audiovisuais, ainda que pequenos vídeoclipes ou curta-metragens, possibilitam essa comunicação entre gerações (pais e filhos, professores e alunos); que o professor do século XXI precisa de fato, como diz Rivoltella, tornar-se um mídia-educador, automotivando-se para poder motivar o alunado; que quando usamos recursos que o jovem conhece a interação funciona melhor do que através dos meios tradicionais; que as mídias podem ser uma grande aliada, quando utilizadas com planejamento e proposta significante a todos os atores sociais envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.
José Antonio Klaes Roig
Mestre em letras (área História da Literatura), especialista em Tecnologias da Informação e da Comunicação na Promoção da Aprendizagem, especialista em Mídias na Educação, coordenador do Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE) Rio Grande/18ª CRE e multiplicador em informática educativa.
Rio Grande – RS – Brasil.
Link para a primeira fase do projeto/2010:
Clipes que parecem Curtas - fase Ihttp://educa-tube.blogspot.com/2010/10/palavra-cantada-historia-contada-clipes.html
Link para segunda fase do projeto/2011:
Clipes que parecem Curtas - fase IIhttp://educa-tube.blogspot.com/2010/11/minha-alma-paz-que-eu-nao-quero-clipe.html
ANEXOS:
MATERIAL UTILIZADO NA FASE II:
Minha Alma, de O Rappa (videoclipe)http://www.youtube.com/watch?v=vF1Ad3hrdzY
O Cortiço, de Aluízio Azevedo (resenha crítica)http://guiadoestudante.abril.com.br/estude/literatura/materia_415646.shtml
Another brick in the wall, Pink Floyd (videoclipe)http://www.youtube.com/watch?v=M_bvT-DGcWw
Do The Evolution, Pearl Jam (videoclipe)http://www.youtube.com/watch?v=aDaOgu2CQtI
Crystal Ball, Keane (videoclipe)http://www.youtube.com/watch?v=lKrFfp67NDQ
Radiohead, All I Need (videoclipe)http://www.youtube.com/watch?v=cdrCalO5BDs
Daniel Powter, Bad Day (videoclipe)http://www.youtube.com/watch?v=gH476CxJxfg
Sigur Ros - Viorar Vel Til Loftarasa (videoclipe)http://www.youtube.com/watch?v=34ZtT4Th9Ys
OUTROS CLIPES UTILIZADOS NA FASE I:
James Blunt, Carry You Homehttp://www.youtube.com/watch?v=2IFF9yu5i3k&ob=av2e
Greenday, Wake me up when september endshttp://www.youtube.com/watch?v=KjNJmwwf7QA
A-Ha, Hunting High and Lowhttp://www.youtube.com/watch?v=s6VaeFCxta8
MATERIAL SUGERIDO:
Signs (Placas) – curta-metragemhttp://www.youtube.com/watch?v=uOiLLhOGJVQ
A revolta e as reviravoltas de uma letra (slides)http://educa-tube.blogspot.com/2010/10/revolta-e-as-reviravoltas-de-uma-letra.html
A maior flor do mundo, de José Saramago (animação)http://www.youtube.com/watch?v=YUJ7cDSuS1U
The Killers, A Dustland Fairytale (videoclipe)http://www.youtube.com/watch?v=-3hyrkzFRss
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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