quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Muito mais do que o simples apertar botões...


Retornando em parte de uma espécie de "exílio dissertativo", aproveito para devanear sobre um de meus temas preferidos: A questão da tecnologia no cotidiano de crianças e jovens.
Estava eu, entre o fichamento de um livro, a reformulação do sumário, e etc., quando, não lembro bem, recordei de uma cena de um episódio da clássica série de TV ALÉM DA IMAGINAÇÃO (The twilight zone). (e televisão, apesar das críticas que faço, também tem muita coisa boa, para a gente garimpar, principalmente na memória televisiva particular.)
No referido episódio, o protagonista um dia acorda, como nos dias anteriores e segue a sua rotina, até que ao falar, primeiro com a esposa, depois os filhos, não entende nada do que eles falam, e pelo jeito, eles também não o entendem (o seriado era dos anos 70/80, do século XX, e qualquer relação com fatos e pessoas - tipo pais e filhos de hoje que falam línguas diferentes - pode ser mera coincidência, ou não...).
O sujeito então, contrariado, vai para o trabalho e lá com os colegas e os chefes também ocorre a mesma confusão (idem do parênteses acima). Parece que ele fala uma língua estrangeira desconhecida, tendo sobre os demais a mesma impressão.
No dia seguinte, ao acordar-se, a incômoda situação se repete, até que um dia, cansado de tentar se fazer entender pela família, amigos, colegas de trabalho, o mundo em geral - já que tudo indicava que só ele é que não conseguia se comunicar, e os demais se entendiam normalmente -, o homem, emocionado, no quarto do filho, vendo-o dormir tranqüilo, pega uma espécie de cartilha, com caracteres estranhos, com figuras de animais - e, em especial, numa delas a de um dinossauro, com um curioso símbolo abaixo -, e começa a tentar aprender esse novo idioma para se fazer entender, dialogar, enfim, se comunicar com o mundo que o rodeia.
Essa série e, em especial, o episódio rapidamente narrado acima, nunca me sairam da mente, num tempo em que ser escritor para mim era algo "Além da Imaginação"...
Penso hoje nessa história como uma grande metáfora da nossa sociedade, cada vez mais individualista, egocentrista, consumista e todos os "istas" que ainda sobraram depois dessa imensa crise, mais do que econômica e financeira, mais ética e moral, em que estamos engolidos, quando economistas, para justificar o quase injustificável, apelam para uma língua - o economês - que só os iniciados entendem...
Mais que isso, entendo essa história "Além da Imaginação" como uma metáfora da Tecnologia Educacional, em que para alguns que não se atualizam, a informática e a tecnologia em geral resume-se apenas a apertar botões, como foi com a própria televisão, quando passou a ser utilizada por alguns no ambiente escolar.
Muitos professores, quando diante de um computador, agem como o protagonista da história. Mas nem todos pegam a "cartilha" de seu filho ou alunos para tentar entender aquele mundo que eles consideram coisa de "outro mundo", incompreensível, complexo, indecifrável para alguns... Para os que se aventuram - e cada vez mais professores vão descobrindo esse mundo "Alem da sua imaginação" -, gratas surpresas encontram, com o uso da internet, do laboratório de informática ou sala de aula digital (não importa o termo que queiram usar). Professores que usam blogs, orkut, msn, wiki para executar projetos de ensino e não apenas de aprendizagem. Tudo depende desse "sentar" ao lado e tentar se incorporar ao mundo de seus filhos e alunado. Sei que não é tarefa fácil, depende de tempo e de planejamento curricular, mas os alunos já estão nessa nova dimensão há tempos e são multifuncionais no que tange ao uso da tecnologia. A multifuncionalidade dos educadores, como já disse noutras vezes, é mais na questão de fazer tarefas além de suas funções (como espécie de assistentes sociais, enfermeiros, pais substitutos, orientadores, conselheiros, etc.).
Hoje, qualquer criança aprende com facilidade e com incrível naturalidade a usar qualquer produto eletroeletrônico, pois não têm medo de apertar botões. Não tiveram a mesma criação cerceadora, que seus pais e avós tiveram tipo: "Não mexe nisso, que estraga!!!" e coisas do tipo...
Noutro dia, quis explicar como se jogava um jogo eletrônico para meu filho Allan, e foi ele que me "repreendeu", dizendo que não era assim que funcionava, literalmente me ensinando. Com um pequeno detalhe: ele completará amanhã 4 anos de idade, não saber ler o alfabeto, mas é alfabetizado em imagens e símbolos. Sabe ler imagens e por conta dessas, ele aprende por experiência e erro. Nós, e eu me incluo às vezes nisso (pois sou fruto da geração "Não mexe que estraga!"), confesso que, por medo de estragar algo que desconheço, algumas vezes peço ajuda aos amigos, "aos universitários", às placas ou às cartas (parafraseando mais uma vez o famoso Jogo do Milhão).
Allan tem uma prodigiosa memória visual, como qualquer outra criança diante de um brinquedo (isso mesmo, PC, celular, câmera digital para ele e qualquer criança ou jovem é um mero brinquedo). Para nós, algumas dessas parafernálias, ainda em fase de experimento, e em breve no mercado, tudo é algo "Além da nossa imaginação". Então, para Allan, que é minha fonte inesgotável de observações pedagógicas e tecnológicas, mostro uma vez apenas como funciona tal joguinho e ele, mexendo melhor no mousetouche do que eu, se vira. Não entende nada do que está escrito, mas já aprendeu que as letras P-L-A-Y significam jogar, que Game Over, o jogo acabou, e outras mais... Aprendizagem é algo que não tem idade...
Lembro-me que mais de 10 anos atrás, com meu ex-enteado e seus amigos da quadra, fazíamos competição de videogame, principalmente simuladores de jogo de futebol (sou fanático por tudo que envolve futebol, seja de botão, de campo, futsal, futvolei, virtual, etc.). E um desses jogos tinha uma versão em coreano, outra em japonês. E eu me perdia direto naqueles estranhíssimos caracteres orientais (sem falar que era sempre o último no campeonato). Enquanto eu procurava os botões pra chutar, dar passe, dividir, cabecear, eles me goleavam. Acabava ao final do campeonato com o nada honroso "décimo último", como um deles me batizou... Mas meus "colegas", na faixa dos 8 aos 12, 13 anos de idade me ensinavam a escolher a tática de jogo, a mudar a escalação do time, trocar o ãngulo da câmera, etc. apenas pela intuição e memorização. Sabiam que a primeira palavra em corenao ou japonês era tal coisa, a segunda outra e por ai vai... Tudo intuição, experimentação, erro e descoberta... Algo "Além da imaginação", mas sem a gente tentar compreender a língua dos outros ( quando só nós é que não nos fazemos nos entender), pareceremos eternamente como o protagonista do famoso seriado, até que, como ele, resolvamos aderir a tal "conversão" ao novo idioma. Nesse caso, melhor compreender a nova geração, do que ser eternamente o "décimo último" nesse jogo, deste outro lado do mundo, Além da Imaginação...

Observação: Imagem acima, extraída da internet, do endereço abaixo
http://alemdaimaginacaobrasil.blogspot.com/