Nem tudo que é, parece (ou aparece...)
Na mesma linha da postagem anterior, só que em sentido inverso, retomo o assunto das aparências e dos discursos...
Se nem tudo o que parece é, como discutido antes, podemos também conjecturar que "nem tudo que é, parece (ou aparece...) numa discussão, seja ela falada, escrita ou televisionada...
Sabido é que entre o pensamento e a fala, entre o dizer e o escrever, há um processo de perda do significado original, como quando se faz uma tradução. Um texto traduzido de um idioma estrangeiro para a língua nativa, por melhor que seja seu tradutor - que busque sempre o sentido primevo do texto e de seu autor, justamente por não estar na cabeça do autor, jamais poderá fazer uma tradução literal do texto... Será, quando muito, uma bela aproximação, uma nova versão...
Se quando lemos, a cada leitura do mesmo texto não somos mais a mesma pessoa, como quer escrever por outra pessoa o que ela quis dizer, ainda mais numa outra língua, que está impregnada de uma outra cultura, outra forma de ver e escrever sobre o mundo?
Se nem os gêmeos idênticos são completamente iguais, sendo parecidíssimos exteriormente, mas totalmente diversos em seu interior; se ninguém tem as mesmas marcas digitais, nem o mesmo fundo do olho, enfim, cada ser humano - e somos bilhões!!! - é um pequeno universo único, não podemos ter uma impressão exata sobre o Outro, ainda que o outro nos deixe pistas pelo caminho...
Uma das coisas que me deixam profundamente indignado é a manipulação da informação, feita de forma subreptícia, subliminar sem que a maioria das pessoas se deem conta disso.
Estamos rodeados de coisas que são, mas não parecem; outras sequer aparecem...
De vez em quando, sai uma manchete sensacionalista, que fulano disse tal coisa, mas quando vamos ver o contexto da frase, na verdade, foi plantado pelo entrevistador, que perguntou antes ao entrevistado - provocando uma resposta que depois será veiculado como tendo partido de forma natural de sua boca, quando sabido é que fora "estimulada" pelo repórter ou apresentador... Hoje, o que mais assistimos são essas "estimulantes" entrevistas, reportagens, matérias, pseudopolêmicas, para angariar audiência.
Quando o entrevistado tem o que dizer, o espaço disponível é curto, e ele precisa ter um poder de síntese tremendo. Quando é alguém que muito pouco tem a contribuir, salvo com suas caras e bocas, pernas e bundas, ai a coisa muda radicalmente, e essa figura ilustre fica preciosos minutos no ar, banalizando a programação, mas aumentando os pontos no "ibope".
Como educador, vejo serem desperdiçados grandes oportunidade de esclarecimento e instrução, com entrevistados que entram muda e saem calados, enquanto quem nada tem a dizer fica "dando nó em pingo d'água".
Alguém vê um professor ter o mesmo espaço que algum desses participantes de reality show, depois que são eliminados? O que um professor, como Robson Freire, Marli Fiorentin, Bernardete Motter, recentemente premiados nacional e até internacionalmente poderiam contribuir em espaço nobre, para o enobrecimento da própria programação, e da elucidação de aspectos que envolvem a tecnologia e a educação, a partir de suas experiências exitosas e destacadas, é algo de valor incalculável. Mas quem dá esse espaço para essas práticas educacionais relevantes serem descobertas pelo grande público? Sei, alguns programas em TVs educativas, que infelizmente não estão em sinal aberto e quando muito em TVs a cabo, onde não tem a devida audiência, se comparada com a das telenovelas e telejornais...
Porém, esses "personagens" de reality show, que ficam confinados meses, sem fazer nada construtivo, apenas fofocando e tramando contra o seu "adversário" na casa, por conta de 1 milhão em premiação, esse terá a sua disposição minutos e quase hora para o seu blá-blá-blá, que passado seis meses do final do programa, será irremediavelmente esquecido...
Alguém se lembra de qual foi o nome do candidato que escolheu na penúltima eleição? E o nome da penúltima telenovela? Parece que tanto um caso como outro são recicláveis, descartáveis, mesmo tendo todo aquele precioso tempo de exposição dentro e "Fora da Casinha", ops, da casa...
Assim como os três colegas acima citados, já indicados diversas vezes nesse blog, antes, durante e depois das devidas e merecidas premiações; conheço outros tantos (a serem destacados futuramente), que atuam nas mais variadas áreas educacionais, e que mesclam teatro, brincadeiras, arte e cultura, tendo um trabalho fantástico, e que poderiam participar com louvor do Show da Vida - o televisivo, pois no show da vida real, sem nenhuma câmera escondida, eles são profissionais realmente fantásticos, que se pudessem sua prática ser televisionado, tipo o BBB, talvez servissem de fato e de direito como modelo a outros educadores, pais e alunos. Hoje, para mim os BBBs são também modelos, mas no sentido estrito e não amplo da palavra, pois salvo raríssimas excessões, todos ou quase todos são mesmo modelos fotográficos, de passarela, etc., que mal saem da casa e já vão posar para sites e revistas.
Mas isso, que é nem sempre parece ou aparece... E o que deveria aparecer, não tem a mesma oportunidade. Daí aquela falsa impressão que temos de vir no eterno caos, que o ser humano não tem jeito, que a corrupção é regra, que o povo brasileiro não tem mais solução...
Pera aí, conheço experiências fantásticas de Norte a Sul desse país, e sou um ferrenho defensor do Povo Brasileiro, as "formigas" que trabalham para que as "cigarras" continuem a cantar e discursar... E por conta de certa "blindagem" desses senhores acima do bem e do mal, alguns deles, denos de redes de TV, rádio e jornal são algo que esses veículos jamais noticiarão... Parecem algo que de fato não são... E aí a ficção toma conta irremediavelmente conta da realidade naqueles veículos de comunicação de massa, que criticam quem não se enquadra em seu padrão, digamos, de qualidade... É uma pena que a rede social, que movimenta tantos educadores e pessoas interessadas no bem comum não tenha quase espaço na rede de comunicações, que prefere divulgar apenas e tão-somemte a "roda do consumo pelo consumo"...
Independente disso, o importante mesmo sempre será o ser mais do que o parecer...
Por isso, nesses tempos de reality shows, como educador, continua a ser o que sou e não querer parecer o que os outros valorizam, em programas de dupla exposição...
Sigo a máxima do ex-presidente Thomas Jefferson, que disse, séculos atrás: "Sempre que você fizer algo, mesmo que ninguém nunca venha a saber; faça como se o mundo estivesse olhando para você." Para quem analisar apenas o texto e não o contexto, cabe dizer que Jefferson nada tinha de profético. Sua frase é extremamente e tão-somente uma defesa da ética, acima dos interesses vãos...
Deixo aqui, então, o meu chamado, chamada ou sugestão, para que se dê mais valor ao que deve de fato ser valorizado, deixando a banalização para o segundo plano.
Observação 1: Imagem acima, ilustrativa do filme O Chamado, extraída da internet, do endereço abaixo
http://www.bocadoinferno.com/romepeige/artigos/ringu1.html
Observação 2: Sugestão de filmes e livros: O Chamado, em que a televisão é quase uma personagem da trama; e o livro de contos O Anão no televisor, do sensacional Moacyr Scliar, um dos responspáveis indiretos por eu ter querido um dia tornar-me também escritor...
1 Comments:
Zé!
Perdoe essa amiga distraída. Teu texto merecia ser lido e comentado bem antes, mas como sempre ando tão cheia de atividades que cometi o pecado de deixar passar em branco. Fico lisonjeada de ser tão considerada por você. Não tenho pretensões de ser uma BBB, hehehe, mas tudo que faço na educação está aí bem à mostra, para servir de exemplo ou até de contra exemplo.È colocar a cara pra bater, expondo o trabalho, mas também acho que se servir para que os alunos construam outra forma de aprender , de forma mais participativa e menos consumista de informações, já terá valido a pena. E se essas experiências puderem inspirar alguns colegas, melhor ainda. Quanto à midia, sabemos que as emissoras ditas "nobres" tem uma misssão clara de distrair as pessoas com imbecilidades, na maioria das vezes. Mas mesmo assim nós, educadores, temos de ter consciência da nossa importante missão de construir gente, independente do reconhecimento ou não. Quando ando na rua e encontro ex alunos de muitos anos atrás, eles continuam me chamando de profe. eu penso que somos mesmo importantes na vida de cada um deles e espero sempre que essa importância seja positiva e as sementes lançadas brotem, gerando frutos para a construção de uma sociedade melhor. Obrigada, Zé. Continuemos a luta enquanto tivermos forças. BJ!
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