E se Hans Donner fosse um educador?
Este post vem de encontro aos dois anteriores, Breve reflexão sobre a evolução tecnológica no ambiente escolar e Pequena reflexão sobre "a transitoriedade das coisas..." , no que tange a questão de uma rápida mas essencial discussão e reflexão sobre as diversas possibilidades da inclusão da tecnologia no ambiente escolar, promovendo o inovador e não apenas o novo. (Por favor, leiam até o final desta postagem, pois lá estará o sentido do título deste texto...)
Nem tudo que é novo e de fato inovador. Inovar é acrescentar, ampliar horizontes. Trazer algo novo, como máquinas pra escola, sem que as mesmas estejam integradas a uma prática inovadora é, como naquela piadinha infame, "trocar seis por meia-dúzia", apenas substituindo um material obsoleto por outro novo, para continuar fazendo as mesmas coisas, do mesmo jeito, de novo, novamente e outra vez...
Tenho refletido muito sobre isso, às vezes, a partir de insights, por conta de citações que encontro pelo caminho, como foi o caso daquela atribuída a Drucker, no NTE Porto Alegre e a de Darwin, na exposição do MCT - PUCRS (vide posts acima citados); e, noutras oportunidades, a partir de leituras diversas, nem sempre com enfoque tecnológico. Em muitas vezes, pela observação da aprendizagem que ocorre com meu filho de 4 anos. Hoje, observando-o a cada dia, percebo como o "método clínico" de Piaget, que estudei durante a especialização em TICs na Promoção da Aprendizagem (UFRGS-2007), pode ser um grande recurso ao professor para perceber o potencial de seu alunado. Claro que para o professor com 30 ou mais alunos em sala de aula, com diversas turmas, turnos e escolas, fica quase que impraticável sua utilização.
Porém, a sondagem do grupo é possível, para descobrir o que as tribos que compõem uma turma gostam, pensam, sonham... Uma coisa é certa: deixem os alunos soltos em um laboratório de informática, sem nenhum planejamento prévio e evidentemente que eles irão direto acessar a internet, e nela ao orkut, msn, e-mail, chat. Os professores tradicionais, que desconhecem esses recursos, torcerão o nariz; proibirão o acesso, como fazem com a questão do boné na escola e na sala de aula. Para alguns é mais fácil proibir do que dialogar...
Os professores que dialogam com seus alunos, descobrem que esses recursos podem proporcionar possibilidades de interação extra-classe: blog, orkut, msn, email, chat, podem ser ambientes de aprendizagem a distância. Por que não? Basta, primeiro, planejar a atividade a ser levada para tais ambientes. No orkut, montar uma comunidade da turma ou da escola, de algum projeto ou atividade... No MSN, através de videoconferência, interagir com outras turmas e escolas, na mesma cidade, no estado, país ou pelo mundo afora. No chat, a mesma coisa... Através de uma lista de discussão, via e-mail, pode-se manter os alunos conectados com os prazos das atividades a serem feitas e enviadas por arquivo digital, se for possível, deixando para aqueles alunos que não dispõem desse meio, o formato convencional ou o uso do laboratório de informática no turno inverso ao que estuda. Pode-se também trabalhar com a questão da monitoria. Alunos mais experientes auxiliando e treinando outros alunos a usarem o computador, a internet, as tecnologias em geral...
Ao professor, cabe esse planejamento, deixando a cargo dos alunos e alunos-monitores a tarefa mais, digamos, braçal ou cerebral, dependendo do recurso a ser utilizado. Sempre digo que nenhum professor precisa ser um técnico ou especialista em informática... Deixem esse conhecimento a cargo dos alunos. Se preocupem em saber adaptar o conteúdo e adaptar-se a esse novo mundo de possibilidades.
Vejam só, certa vez (não sei precisar o ano), assisti surpreso a entrevista de Hans Donner, o designer, mago das aberturas de novelas e vinhetas da Rede Globo, dizer ao repórter que não usava microcomputador para bolar aqueles efeitos de computação gráfica incríveis, fantásticos, inovadores... Esboçava tudo no papel... Sua equipe é que cuidava disso: jovens com formação em computação e artes gráficas é que executavam seus "devaneios poéticos". Assim aconteceu com uma dupla famosa (nada sertaneja, mas no coração do Brasil), chamada Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. Niemeyer criou os esboços para a arquitetura futurista de Brasília - DF, enquanto que Lúcio Costa elaborava os cálculos de engenharia para dar vida e sustentação às curvas ousadas de seu parceiro.
Assim penso que deva ser vista a futura parceria tecnológica e educacional entre professores e alunos, em projetos de fato e de direito inovadores: o professor planeja seu conteúdo e com uma equipe de apoio de alunos monitores organiza o que pode ser utilizado com determinados projeto e turma...
Ainda, continuando a usar o YouTube como exemplo de recurso disponível ao professor e alunado para interação e diálogo "tecno-pedagógico", pode o educador planejar a seguinte atividade:
- Com uma câmera digital ou algum celular com tal dispositivo, fazer pequenos vídeos da turma e do projeto; transferindo o vídeo e áudio para um microcomputador; ali, editando o mesmo, usando softwares de edição como o Movie Maker ou similares, onde o filme é aberto e fica dividido em frames (fotogramas), que podem ser reacomodados, excluídos, invertidos, acrescentando a isso som, legenda, fotos, etc. Depois disso, criar uma conta no YouTube para inserir no portal o referido vídeo que depois poderá ser copiado (endereço embed) para o próprio orkut, blog, página na internet, enviado como link para a turma, divulgado na comunidade escolar, etc. Claro, sempre lembrando ao educador que deverá solicitar a autorização do aluno ou dos pais ou responsáveis (se for menor de idade) para o uso de sua imagem na internet ou qualquer outro local. Feito isso, estando o vídeo no YouTube, estará na rede mundial de computadores, passível de ser reproduzido milhares de vezes e, quem sabe, se for inovador, até mesmo influenciando outras escolas a copiarem essa receita de bolo.
Bom, ai os apressadinhos irão me perguntar: Mas se o professor fizer tudo isso, não sobrará mais tempo pra dar aula, corrigir provas, etc. Calma!!! E quem disse que deve ser o professor a fazer esse trabalho "braçal ou cerebral"? Lembram-se do que eu escrevi antes? Da história do Hans Donner? Pois então! Cada educador interessado nesse tipo de proposta que seja ele o criador, o Hans Donner de sua escola, e deixem a cargo da equipe de alunos-monitores o trabalho de edição, inserção, ajustes e tudo mais... Com isso, o professor não perde um tempo precioso com um trabalho que para o jovem é feito de forma rápida, compartilhada e com a significação de ver seu esforço tornar-se uma produção coletiva. Dessa forma, professor e turma dialogarão, cada qual ao seu jeito, com a tecnologia educacional... O professor se integrando ao mundo tecnológico do aluno, e este adentrando ao ambiente educacional proposto pelo "teacher". Hoje está mais nítida a impressão de que o eixo inclinado da Terra, no que tange a educação, por conta da tecnologia, movimentou-se. E cabe ao professor adentrar ao mundo digital do alunado, e não querer que os alunos continuem a repetir a mesma fórmula para qualquer situação... Interagir com o grupo e extrair dele o que tem de melhor é o grande desafio, tanto de quem trabalha com a educação como com a tecnologia.
Acho que "Se Hans Donner fosse um educador", faria com a sua turma de sala de aula o que propus nessa postagem, pois de certa maneira sua forma de trabalho parece-me similar ao que sugeri. Pensando bem, acho que Hans Donner, ao seu modo, é um brilhante educador ao saber dialogar com o seu grupo, delegando tarefas e preocupando-se mais com o conteúdo (a criação e a significação) de seus atos, do que com a forma. O Professor Datashow, que utiliza equipamento de mesmo nome pra substituir o conteúdo feito antes em matriz e passado no mimeógrafo, depois em retroprojetor, copiando tudo de velhos cadernos amarelados, esse sim, nada tem de show e está datado... O importante não é a idade do projeto nem da pessoa, mas a significação no tempo e no espaço tecnológico e educacional das práticas que se dizem inovadoras.
Observação 1: Imagem acima, extraída da internet, do endereço abaixo
http://www.revistawindowsvista.com.br/timedimension
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