quarta-feira, setembro 17, 2008

Palavras de papel e o papel das palavras

Primeiramente, gostaria de agradecer mais uma vez ao destaque dado pelo amigo e colega Robson Freire, editor do Caldeirão de Idéias ao projeto RPG Literário, que tem no blog RPG - Role Poetic Games, do qual sou um dos colaboradores o seu canal de escrita literária em grupo.
Agradeço a indicação dele e do material sobre o uso de RPGs na prática educacional (links abaixo), disponibilizado no Caldeirão. Em breve comentarei aqui sobre essas possibilidades.
Mas, o motivo deste post é também para destacar o papel das palavras em nosso cotidiano.
Em época de propaganda eleitoral obrigatória e gratuita, vivemos um tempo de ficcionalização total dos discursos. Políticos profissionais rivalizam com os escritores em criatividade, dando asas a imaginação dos eleitores, prometendo mundos e fundos que jamais realizarão, pelo menos no mundo real. Em época pré-eleições há um choque de realidade. Todos os candidatos descobrem as mazelas de seu povo e têm propostas inteligentes e projetos eficientes para resolver tudo. Passado o pleito, tudo volta ao normal. No mundo político a ficção impera...
Então as palavras são relativizadas e perdem muitas vezes o sentido e significação pela banalização dos discursos. Sorte que para colocar um pouco de crítica e realismo no dia-a-dia existe a Literatura, que por mais inventiva e fantasiosa, é sempre calcada na realidade. Não existe narrativa totalmente ficcional, nem toda autobiográfica. Da junção de realidade e ficção surgem belas narrativas que envolvem o leitor, criando um mundo a parte.
Uma delas é a criada por um outro projeto muito interessante de produção literária colaborativa on-line, que une tecnologia e literatura, através do uso de blog.
Chama-se Palavras de Papel, blog encontrado por minha colega de RPG, Andréia Alves Pires, editora do blog Solstícios.
Conforme Marina Melo, editora do blog Do Fundo do Mar, e uma das integrantes do Palavras de Papel, em depoimento a Comunidade RPG no orkut, seu blog surgiu assim:
"Eu tive um vislumbre da idéia em um dia em que procurava alguma coisa para fazer. Eu já tinha um projeto diferente do PDP para um blog - além do meu blog pessoal -, mas encontrei muitos no mesmo estilo e queria mesmo fazer algo totalmente diferente.Foi quando comentei a idéia das cartas com Helô, minha amiga e uma das autoras, e ela gostou. Mas ainda não tinha uma idéia certa de como seria. Então eu montei a figura de cima no photoshop e mostrei a ela. Foi quando terminei falando da minha idéia a Bruno, outro amigo e autor, e ele me ajudou a definir a idéia inicial.Então escrevi a primeira carta, uma abordagem bem ampla e genérica sobre uma cidadezinha do interior da Inglaterra, com uma personagem inicialmente sem forma, de nome Amelia. A partir dela, Bruno pegou um dos ganchos e construiu outro personagem, de nome William, sem combinar nada comigo. Logo depois, Helô puxou outra história e outra personagem. Nenhum deles tinha um rumo certo; eu só dizia para cada um aproveitar os ganchos das cartas já postadas. O objetivo era 'ampliar o nosso universo' para depois tentar convergir tudo numa história só.Algum tempo depois, terminei falando do projeto a outros amigos: Paulinho, Alexandre, Tiago e Kamilla, e eles se interessaram em escrever. Foi quando a história começou a crescer muito e tivemos que nos reunir de vez em quando para discutir algumas idéias, para saber o que o outro espera; porém sem nunca perder a espontaneidade de cada carta. Assim, a história chegou onde está hoje.Quanto aos autores, Helô, Bruno e Kamilla já se conheciam; Paulinho e Tiago também já se conheciam; Alexandre conhecia alguns deles. Atualmente, quase todos se falam, mas apenas eu conheço todo mundo.Acho que consegui reunir um grupo bem legal e que está fazendo um ótimo trabalho".
No blog Palavras de Papel percebe-se o papel das palavras na bela construção narrativa de suas personagens. Confiram esse criativo projeto da Marina Melo e seus colegas escritores de Recife(4), São Paulo (1), Fortaleza (1) e Minas Gerais (1), e comentem lá o que acharam.
O Palavras de Papel também possui Comunidade no Orkut:
E não deixem de visitar também a Comunidade do RPG.
http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=66534489
Observação 1: Imagem acima, extraída da internet, do blog Palavras de Papel, pelo endereço
http://palavras-de-papel.blogspot.com/
Observação 2: Ontem escrevi um poema, chamado Palavras no Papel, inspirado um pouco no blog Palavras de papel, um pouco em comentários em aula de minha tutora, profª. Lisandra Gomes, do curso de Letras. O poema está publicado no meu outro blog, chamado Controlverso, e pode ser acessado pelo link abaixo:

4 Comments:

Blogger Marina said...

Nossa, cada vez que vejo o Palavras de Papel ser citado em algum local e discutido fico um pouco surpresa. Não que não acredite no projeto, pois sou uma das fãs mais tietes de cada um dos colaboradores; mas é como se fosse uma parte de cada um de nós que tomou forma para navegar por outros mares, buscando outros horizontes. É estranho vê-lo tomar um rumo, mas não deixa de inspirar um certo orgulho e grande felicidade.

Agradeço mais uma vez, Zé, pelo apoio e por acreditar no papel das nossas palavras.

23:51  
Blogger Bruno Malveira said...

Ow... a Marina não é a única que conhece todo mundo mais, viu?

hehehehe

Estou simplesmente pasmo com todo esse reconhecimento. Muito obrigado mesmo. Essas coisas só faz a gente querer ainda mais continuar esse projeto.

00:08  
Blogger José Antonio Klaes Roig said...

Caros Bruno e Marina. Se alguém tem que agradecer su eu, por poder destacar um projeto desse nível em meu blog que trata de arte, cultura, tecnolgoia e educação... O blog de vcs perpassa tudo isso... O reconhecimento que vcs estão tendo é fruto do trabalho sério e dedicado do grupo. Trabalha coletivamente é um imenso desafio, e sendo a distância então, duplamente desafiador... Mas, como dizia meu amigos das letras Fernando, uma grande Pessoa: Tudo vale a pena se alma não é pequena. O Palavras de papel é o que chamo de universal através do particular. As situações que vcs abordam são vividas pelo leitor, como se estivesse passeando pelos locais narrados. Isso não é pra qualquer um... Como digo, existem escribas e escritores... Os primeiros apenas copiam estilos, juntam letrinhas e palavras umas do lado das outras, mas as próprias palavras já nascem mortas... Escritor é aquele que dá vida às palavras, às histórias e ao mundo. Tem escritor que mundo o munmdo através de suas narrativas. Toda vez que vejo um sonhador delirante, remete minha imaginação a Quixote; quando vejo casais que os pais não permitem namoro, lá vem Shakespeare; quando pessoas saem em perdidas viagens em busca de si, lá vem Dante e sua Divina Comédia... Não são eles que criam clichês, é o mundo que é um eterno clichê captado e capturado por certos autores. Dar vida às palavras, somente bons escritores, que são antes de tudo ótimo leitores de livros e de mundo, é que conseguem essa façanha. Vcs são com certeza bons escritores. parabéns pelo trabalho, e continuem colaborativamente dando vida às suas belas histórias... Um abraço, do leitor que virou fã, Zé Roig.

09:53  
Blogger Robson Freire said...

Três trabalhos atraentes

Escrito por Gabriel Perissé
28-Abr-2008

Ler é trabalho. Eleger um livro, livrar-se do tempo para ter tempo de percorrer suas linhas, penetrar nas entrelinhas. Ler é trabalho trabalhoso. Comer a carne da leitura, sugar-lhe o sangue, roer-lhe o osso. Suportar o que há de insosso até chegar ao poço de água viva. Mais: saborear o insosso. Sentir no insosso o gosto que poderia ter.

Ler dá trabalho. Guardar da leitura a palavra exata, a frase contundente, a imagem certeira, a metáfora nova, a idéia paradoxal, o personagem mais vivo que os próprios vivos. Ler é trabalhar sem salário, sem recompensa material. Ler é trabalho puro, trabalho duro, trabalho divino.

Ler é também trabalho sujo. Ler é lamber os séculos, digerir tudo o que há em outras mentes. Leitura suja. Leitura suja de vida. E por isso é trabalho limpo. Trabalho decente, atraente.

Pensar é trabalho. Raciocinar é pouco, apenas racionar idéias, contar os passos, evitar falácias, economizar processos. Pensar mesmo, que cansa, é transbordamento, perda do tempo que não temos. Pensar é imaginar e relembrar, transgredir e transcender.

Pensar dá trabalho. É virar do avesso o que já estava certo. Pensar é misturar. Bom senso com não-senso, senso prático com senso moral, senso comum com senso estético.

Pensar é trabalhão. Emagrece a alma. É sempre hora extra, hora extensa, hora extrema. Pensar é pensar nas horas mortas e nas horas vivas, nas horas vagas e perdidas, em cima da hora, pela hora da morte.

Escrever é outro trabalho e tanto! Escrever é ser escravo das letras. Trabalhar de sol a sol, de lua a lua, de segunda a segunda, de hora em hora, de chaga em chaga, de ano em ano, tudo e nada, com leitor ou sem, com editora ou sem, com dinheiro ou sem.

Escrever dá trabalho. Dá medo, dá dor, dá dó. Catar palavras nas areias, correr atrás de algumas, que fogem. Ou fugir das que nos perseguem, repetidas, redundantes, replicantes.

Escrever, trabalho braçal, trabalho de cão, trabalho de Hércules, trabalho de Sísifo, trabalho de parto que nos parte ao meio, trabalho forçado que liberta.

Ler, pensar e escrever. Três trabalhos que atraem, subtraem, maltratam e enriquecem. Trabalhos ocultos, solitários. Trabalhos que aumentam a fome de trabalhar. Trabalhos impunes. Trabalhos sem perdão, sem a devida remuneração. Trabalhos que não têm preço. Que não têm fim. Que não têm jeito.

Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor – Web Site: http://www.perisse.com.br/

Obs.: Precisa dizer mais alguma coisa?
Perfeito.
Abraços e Parabéns pelas postagens e pela citação e homenagem ao Caldeirão de Idéias.

12:19  

Postar um comentário

<< Home