sexta-feira, maio 30, 2008

Avaliar por quê?


Estranhei o teor do artigo “Avaliar o quê? A professora, ora!” do professor e empresário Lírio Zanchet, publicado na ZH, de 25/5 - crítica áspera ao texto “Avaliar para quê?”, da profª. Sonia Veríssimo. Professar é exercer uma profissão e alguns confundem vocação de professor (magistério) com o sacerdócio (ministério); em que pese a última ser melhor remunerada.
Como educador, discordo de Lírio, que compara a escrita de Sônia ao “linguajar granítico de Rui Barbosa” e a “verborréia de Os Sertões, de Euclides da Cunha”. O primeiro foi jurista e exemplo de ética na política; o segundo, jornalista e literato, autor de obra monumental, unindo História e Literatura. Para se avaliar ou criticar, requer primeiro o exercício da autocrítica.
A educação do RS é destacada, em relação à maioria dos estados brasileiros - índice que perdura há décadas, não sendo fruto de governos e sim do próprio magistério gaúcho. Tal histórico, ao invés de críticas, necessita de reconhecimento do papel de profissionais que, sem condições ideais de trabalho nem o merecido salário, exercem suas funções dentro de limites e possibilidades.
Óbvio que o ideal do educador não é o mesmo do empresário, que se diz professor. No mundo competitivo e individualista, a concepção libertária provoca duras críticas daqueles que vêem a escola como extensão da empresa, formando mão-de-obra barata. Num sistema mecanicista, a informática e a tecnologia ainda não repuseram as vagas que eliminaram; por isso, contra-senso é criticar empregados de lojas que usam a calculadora, supostamente por desconhecimento da tabuada. No mundo venal, qual patrão aceita apenas cálculo mental?
A educação é o espelho da sociedade e não o contrário. Avalie-se, então, não apenas professores, mas gestores públicos e escolares, e também pais omissos. Afinal, o professor é o segundo educador que a criança tem. Educação bancária não resolve a crise ética da sociedade. Escola pública não deve se confundir com empresa. Já existe o ensino profissionalizante.
Se todo professor cumprisse apenas com o que rege o estatuto da profissão, nenhuma escola pública funcionaria a contento, pois, além de educadores, todos são meio psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, pais adotivos, de 30 ou mais alunos por turma, enquanto a própria família se diz impotente diante dos próprios filhos.
O magistério, como qualquer profissão, possui bons e maus servidores. Entretanto, dados indicam que os bons são maioria, sem a devida valorização, tanto de pais, gestores ou de professores com a visão empresarial, acima da professoral. A escola é o local da incorporação de saberes e do preparo para a vida, e não da mera execução de ofícios. A verdadeira ignorância, às vezes, não é desconhecer a tabuada, mas não calcular a medida das próprias palavras.

Observação 1: Imagem acima, extraída da internet, do endereço
http://www2.eb23-avintes.rcts.pt/avintes/cr/imagens/avaliacao7.jpg
Observação 2: O texto acima, de minha autoria, em versão adaptada (2.400 caracteres) para publicação em jornal impresso, foi publicado em sua versão original (4.800 caracteres), em 29/05/2008, no portal do CPERS - Sindicato , podendo ser lido pelo link abaixo:

Avaliar por quê?

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