sexta-feira, março 14, 2008

O mundo não é mais como antigamente

Hoje, concluí a leitura do livro de Kledir Ramil, O Pai Invisível, e continuo surpreendido pela aguçada leitura que o cantor e compositor, agora escritor, faz do mundo de pais e filhos, e da escola e sociedade, estando ele fora do ambiente escolar. Seu olhar é bem interessante. Sugiro a leitura, com fiz nas outras 2 postagens sobre a primeira parte do livro, a pais, professores, filhos e alunos. Vejam só o que ele diz sobre esse choque de gerações, à p. 76:
"Nossa geração tem uma enorme dificuldade de impor regras aos filhos. Claro, gastamos nossa juventude lutando contra elas. Escancaramos todos os limites com muita paz, amor, sexo, drogas e rock and roll. Fizemos várias conquistas e empurramos o mundo pra frente. Só que ele foi ladeira abaixo e esquecemos de perguntar onde fica os freios.
Agora, na idade adulta, temos que nos aproximar, pelo menos um pouco, de um modelo de comportamento que ajudamos a demolir. Não é fácil".

Realmente, a escola assiste estupefata problemas extra-classe repercutirem em seu interior, fruto muitas vezes de questões que têm origem na família, em processo de desestruturação social. Há que se avaliar o papel social de cada um nesse triângulo: família - escola - sociedade. É um tema que tenho abordado desde os primeiros passos deste blog. É algo que requer uma leitura de mundo e uma visão de comunidade. O livro de Kledir traz uma dessas faces.
Noutra passagem, por exemplo (p.103), trata de algo que representa o modo de vida atual, que valoriza o banal acima de qualquer coisa:
"A televisão apresenta reality shows, programas com ninguém, sobre coisa alguma. E a gente fica olhando. Paga pra olhar".
Na p. 107 dá pra entender o motivo que fez Kledir e turma escolher o nome de "Os Almôndegas" pra aquele grupo de sucesso nos anos 1970/80. Essa parte deixo pra os leitores de seu livro descobrirem. Não vou ser desmancha-prazeres.
Por fim, entre as boas risadas e as tiradas espirituosas, há um manancial de observações de um pai conectado ao mundo de seus filhos, e ao mundo que o rodeia.
Por fim, cito uma das passagens que mais me chamaram a atenção, às p. 110-111, onde conta o exemplo familiar, de seu pai, um professor que um dia decidiu parar de fumar e datou e assinou na carteira de cigarro o dia que a partir dali não mais fumaria, carregando-a sempre no bolso da calça. E a tentação fez seu pai algumas vezes levar o giz a boca, num gesto instintivo de fumante. E como escreveu Kledir: "Voltava pra casa com o bigode todo branco e, é lógico, na escola virou motivo de chacota". Porém, para os filhos foi motivo de orgulho.
Como num reality show, avaliamos as pessoas pelo que elas aparentam e não pelo que de fato são.
Um dos grandes desafios da sociedade moderna é justamente os pais e os professores (ambos educadores) servirem de referência para os filhos e alunos, que não têm paciência para conversar nem auxiliar aos pais no manuseio de toda uma parafernália tecnológica que eles usam com a maior destrza e seus progenitores tratam como um bicho-de-sete-cabeças. Quem, como Kledir, consegue deixar o saudosismo de lado, lá no tempo que eram jovens e não volta mais, e fazer uma viagem ao futuro de seus filhos/alunos, perceberá que não é possível querer que eles façam a viagem às avessas. Nós já fomos igualmente jovens e imaturos como eles são. Eles não conheceram práticas de nossos pais, que hoje são peças de museu. O que o educador, seja pai ou professor, deve entender que a viagem no tempo só é possível por enquanto na literatura. O mundo mudou, os jovens e seus pais também. E sendo assim, o jovem atual jamais será como nós, quando tínhamos a sua idade. Até pelo fato que, por experiência própria, alguém na situação de aluno, seja jovem ou professor-cursista, reproduz as mesmas idiossincrasias, ou seja, conversa, chega atrasado, espicha o intervalo pro café, quer sair mais cedo e por ai vai. Sem uma auto-avaliação do professor, enquanto aluno, não deve o mesmo criticar tanto seus alunos pela imaturidade, que realmente tem e não negam. Ser imaturo com 14 anos é compreensível. Surpreendente é encontrar alguém nessa faixa de idade com a mesma maturidade que seu professor exige. Portanto, conhecer o mundo do jovem é um bom caminho para descobrir meios e estratégias de contornar o choque de gerações. Um dos meios de fazer essa ponte entre jovens e adultos, pode ser a tecnologia educacional, que abordarei na próxima postagem. E por tecnologia educacional não me refiro apenas a micromputador conectado a internet.
Observação: Imagem acima, intitulada "Geração Futuro",extraída da internet, do endereço http://injuado.wordpress.com

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

José Antônio. Muito bacana seu blog. Sou um dos donos do injuado.wordpress.com e vim agradecer a sua citação no blog.
Um grande abraço e parabén pelo trabalho.

11:50  

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