quarta-feira, março 12, 2008

Histórias do tempo que eu era criança...

Ainda não concluí a leitura do livro O Pai Invisível, do Kledir Ramil, e o tenho lido aos poucos, em doses homeopáticas, entre um intervalo e outro das atividades, para poder saborear cada detalhe. Uma escrita leve, bem humorada, porém, mais que isso, uma forma muito interessante de abordar o choque de gerações entre pais e filhos, através das tecnologias de antanho se comparadas às de hoje. Marquei algumas partes pra citar, mas ficou impraticável, pois teria que citar praticamente todas as crônicas e quase o livro todo. O que digamos, feriria os direitos autorais de Kledir. Então, para deixar todos com "água na boca", citarei mais as páginas e a idéia central nelas contida. Agora, fui ver onde parei a leitura, e vejam só: pág. 70, de um total de 133. Quem se lembra de minha relação com o número sete: 70= 7+0= 7; 1+3+3= 7. Mais uma casualidade. Mas, números a parte, vamos às letras juntas, que formam palavras, que formam frases, que formam idéias, todas muito interessantes...
Na p. 19 há um trecho, que já comentei em postagem anterior, sobre a invenção de uma língua nova a cada geração e o código secreto usado pela atual, via MSN e celular cheio de gírias, abreviaturas e carinhas feitas com os caracteres do teclado, como essa cara de feliz :-) , formada por dois pontos, hífen e fecha parenteses; na p. 42, fala da vida pré-invenção do controle remoto e como o tempo parecia transcorrer de forma mais remota em relação a vida contemporânea; na p. 49 uma pequena radiografia de alguém de fora da escola que capta o que se passa com essa geração e que cada educador (pai, responsável e professor) deveria ler (e por isso mesmo, vou ter que citar um fragmento: "Você pode estar imaginando que eles odeiam ir pra escola. Ao contrário, adoram. Só que a maioria não vai pra estudar, vai pra encontrar a galera e se divertir. E fazer bagunça, pois as garotas gostam é dos garotos que ficam zoando, aprontando. Entre agradar uma gatinha esperta ou a coordenadora da escola, eles sempre ficam com a primeira opção. É claro.)"; outra pérola, à p. 52, que quem lida com tecnologia e jovens sabe bem é que: "Eles não gostam de fazer uma coisa só, preferem várias ao mesmo tempo: computador, TV ligada, um som rolando, um bate-papo no telefone... Parece falta de interesse ou atenção, mas não, é o jeito deles./No início, pensei que só os meus filhos eram assim, mas descobri que são todos iguais. Acho que o cérebro dessas crianças já veio de fábrica com outro tipo de processador. E um upgrade de memória", o que concordo plenamente. Um pai conectado com o mundo em que vive, um escritor que mesmo fora do mundo educacional dá uma lição de bom humor e entendimento sobre os jovens. Continuando, à p. 55, fala sobre o novo perfil da família brasileira, sua estrutura e desestruturação, numa clara intertextualidade com um poema de Drummond, aquele chamado Quadrilha, em que os versos dizem: "João amava Teresa que amava Raimundo/que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili/que não amava ninguém./João foi para o Estados Unidos, Teresa para o convento,/Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,/Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes/que não tinha entrado na história". Vejam esse trecho de Kledir e notem as influências poéticas em sua crônica: "(...) O menino chama a avó de tia, que gostaria de ser chamada de mãe. O atual marido chama o neto de filho, pois ele é irmão dos filhos. A mãe do garoto, que casou com o pai do irmão e também é irmã do próprio filho, resolveu chamar o seu pai pelo nome, o que só confundiu tudo ainda mais. O filho mais velho encheu o saco e virou punk."
Às páginas 60-61, o trecho onde retirei o título dessa postagem, é quando Kledir conta ao seu filho que a TV, em sua época de criança, "era em preto e branco, [ai] ele [o filho] viajou na idéia de que o mundo todo era em preto e branco e só de uns tempos para cá é que as coisas começaram a ganhar cores". E, para finalizar, por enquanto, à p. 67, o cantor e escritor conta suas experiências familiares junto a "janela eletrônica", a televisão, antes do advento do controle remoto.
Cheguei a metade do livro e já dei boas risadas, refleti muito e me vi refletido também nas lembranças de criança do Kledir, que é quase da mesma geração que eu (nasci em 1964, acho que ele no final dos anos 1950). Pouca coisa de diferença, pois quando ele era jovem, no grupo Os Almôndegas, "Eu era um garoto que amava os Beatles e os Rolling Stones". Ou um tempo - para usar as próprias palavras dele (p. 8) - "Quando eu era guri, no século passado, o tempo andava mais devagar. As férias eram enormes e o ano letivo durava uma eternidade. (...) Não sei o que aconteceu. O tempo está passando cada vez mais rápido. deve ser culpa desses relógios digitais. Antigamente, o relógio era um negócio com ponteiros e precisava dar corda para funcionar".Antigamente, eu lembro que até chegar aos 18 anos, levou um século, mas depois dos 20, nunca mais o tempo parou de acelerar... Enfim, mais adiante, quando concluir a leitura da segunda parte do livro, voltarei a comentar aqui. Já era fã do cantor e compositor, agora virei fã antes mesmo de concluir a leitura do livro.
Observação: Imagem acima, do antigo seriado de TV norte-americano "O Túnel do Tempo", que eu quando menino adorava ver, junto ao "Terra de Gigantes", "Viagem ao Fundo do Mar", "Perdidos no Espaço", "Planeta dos Macacos", entre outros. Imagem extraída do endereço
http://tuneldotempoartesplast.blogspot.com/