terça-feira, março 11, 2008

O impacto social das comunicações móveis na geração SMS


Ontem, postei um comentário sobre as "Incríveis casualidades", e, hoje, torno a voltar ao assunto...
Como comentei no dia anterior, pesquisando as relações sobre a pintura e a fotografia, a história e a literatura para o ensaio do mestrado, sobre o livro O pintor de retratos, de Luiz Antonio de Assis Brasil, encontrei farto material, evidentemente não utilizado em sua maior parte, pois embora também seja especialista em tecnologias da informação e da comunicação (TIC's) na Promoção da Aprendizagem, meu foco no referido ensaio era a área de História da Literatura. Mas esse material não ficará no limbo, pois o usarei em atividades que liguem a tecnologia e a educação. Entre alguns textos, dois falvam sobre o surgimento da televisão, que sem nada a ver com o que pesquisava, poderia ser utilizado futuramente em alguma atividade com alunos e professores. Dito e feito.
Hoje pela manhã, pra cumprir atividade do curso de mídias na educação, me reuni com o prof. de Éverton Aguiar, de História, para tratar de um projeto, ainda em esboço, da montar uma rádio escolar. Neste projeto, Éverton pretende fazer primeiramente um resgate histórico sobre o rádio no Brasil, depois na cidade, para num segundo momento elaborar trabalhos com alunos na montagem de uma rádio e demonstração do funcionamento da mesma à comunidade escolar numa futura Feira de Ciências. Achei ótima esta idéia.
A tarde, num intervalo das atividades do NTE, postei um comentário (abaixo desta)sobre a tecnologia 3G. E a noite, recebi um e-mail de minha prima, que vendo o comentário anterior tinha lido um artigo falando das novas tecnologias e do uso do SMS pela geração atual. Tudo casou uma com a outra.
Diante de farto material pude perceber as inter-relações entre as antigas e novas tecnologias. A fotografia, por exemplo, passou a ser executada em parte por pintores de retratos até o surgimento de fotógrafos-retratistas sem esse vínculo direto com as artes plásticas; os primeiros profissionais da TV brasileira eram pessoas que trabalhavam no rádio e trouxeram técnicas e procedimentos de lá, que foram paulatinamente sendo adaptados ao novo veículo de comunicação de massas. Porém, com a informática de uso pessoal, foram surgindo especialistas da própria área sem intervenção direta de outros meios, e estes jovens desbravadores do mundo digital foram fazendo um processo inverso que forçou que o mundo real se adaptasse a essa nova realidade. Prova disso que a geração SMS (mensagem via celular, também chamado de torpedo) tem uma relação de "segunda pele" com o celular, controle remoto, MP3, câmera digital, iPod e toda a parafernália tecnológica, melhor que qualquer adulto. Em termos de uso rápido da tecnologia de ponta, provavelmente, se fossem apresentados em igualdade de condições um novo equipamento a um adolescente ainda no ensino fundamental e a um adulto com PhD em qualquer área que não seja ciência e tecnologia, o primeiro descobriria os comandos básicos e as funções avançadas em menor tempo que o segundo. Entretanto, é bom lembrar que manipular adequadamente uma máquina e saber fazer um uso eficiente, significativo e produtivo do mesmo já é outra situação. Requer maturidade, capacitação e filosofia de vida.
Repito sempre: Para mim, o que difere um laboratório de informática educativa (LIE) de uma lan house é o uso que o jovem faz dele. No primeiro, enquanto aluno, se tiver um projeto planejado e acompanhado pelo professor, logo a interação entre a tecnologia e a pedagogia tornam-se nítidas. Já no segundo caso a interação será entre a tecnologia e a terapia ocupacional, sem limites nem controle, sem muitas vantagens para a aprendizagem, pois acabarão usando apenas MSN, Orkut, chat, e outros blá-blá-blás. Mas se o educador tiver uma proposta motivadora, até mesmo MSN, orkut, chat, blog e outros recursos de interação podem ser uma das formas de planejar estratégias de uso do ambiente informatizado em benefício da educação. Um blog, onde a turma, dividida em grupos de pesquisa virtual e bibliográfica possa postar imagens, textos e opiniões sobre um Projeto de Aprendizagem sobre uma área de interesse com vinculação ao currículo escolar é uma forma de trabalho colaborativo e aprendizagem significativa para professor e alunos.
Os jovens nunca se comunicaram e de forma instantânea entre si tanto e em um período tão curto na história da própria Humanidade. Porém, pais e filhos, professores e alunos nunca estiveram tão distantes quando trata-se do uso da tecnologia e da troca de experiências entre ambos os grupos. O jovem não tem paciência para ensinar (isso mesmo) ao adulto o ABC da tecnologia, e o adulto tem receio de usar essa tecnologia em prol da própria educação.
Eis, abaixo, fragmento do texto "vc eh velho d+: O conflito de gerações chega à era do SMS", de Laura M. Holson, com tradução de Deborah Weinberg, publicado hoje (11/03/2008) no The New York Times:
Cada vez mais, as crianças dependem de seus aparelhos eletrônicos como telefone celular para se definir e criar círculos sociais separados de suas famílias, mudando a forma que se comunicam com os pais. As inovações, é claro, sempre geraram amplas mudanças na sociedade. Quando os telefones se tornaram comuns no século passado, os usuários -adultos e adolescentes- encontraram uma espécie de privacidade e fácil comunicação desconhecida para Alexander Graham Bell ou suas filhas.
O automóvel acabou inaugurando uma era em que os adolescentes podiam sair para namorar longe dos "chaperones". E o computador, junto com a Internet, deu até a crianças muito novas vidas virtuais distintamente separadas dos pais e dos irmãos.
Analistas de empresas e outros pesquisadores acreditam que a popularidade do telefone celular -junto com a mobilidade e intimidade que permite- acelerará ainda mais essas tendências. Até 2010, 81% dos americanos de 5 a 24 anos terão um telefone celular, subindo de 53% em 2005, de acordo com o IDC, empresa de pesquisa em Framingham, Massachusetts, que acompanha o setor. Psicólogos sociais como Sherry Turkle, professora do MIT, que estudou o impacto social das comunicações móveis, diz que essas tendências provavelmente continuarão, enquanto os telefones celulares
vão se transformando em minicomputadores de mão, formadores de rede social e telas de cinema.
"Para as crianças, tornou-se um objeto que formula a identidade e modifica a psique", disse Turkle. "Ninguém cria uma nova tecnologia compreendendo realmente como será usada ou como poderá mudar uma sociedade".
Os fabricantes de telefones celulares ficam felizes em preencher essa nova lacuna de geração. No último outono, a Firefly Mobile introduziu o glowPhone para a pré-escola. O aparelho tem um pequeno teclado com dois botões de discagem automática, um com uma imagem de uma mãe e outro de um pai. A AT&T promove seu serviço sem fio com comerciais de televisão que zombam de uma mãe que não compreende o vernáculo de telefone celular da filha.
O IDC diz que a renda de serviços e produtos vendidos para consumidores jovens e seus pais deve crescer para US$ 29 bilhões (cerca de R$ 58 bilhões) em 2010, subindo de US$ 21 bilhões (aproximadamente R$ 42 bilhões) em 2005. Até agora, o celular tem mais vantagens do que desvantagens para a família, pois permite que os pais atinjam seus filhos a qualquer momento.

Observação 1: Imagem acima, de um celular com câmera muito "rudimentar", extraída da internet, do endereço
http://www.ataliba.eti.br/trackback/700
Observação 2: A íntegra do texto publicado no The New York Times pode ser acessado no seguinte blog:
Resíduo Digital