A importância de uma segunda opinião
Seja na informática, na medicina, no direito, na educação ou outra área, sempre ouvir uma segunda opinião é fundamental.
Na informática, digo de cadeira, que se alguém afirma que tal equipamento não tem conserto, melhor levar noutro técnico. Já tive impressora condenada, modem desenganado, e outros equipamentos que voltaram à vida, após uma segunda opinião de especialista. Na medicina, o mesmo ocorre. Diagnósticos devem ser confirmados. No direito, tudo é extremamente subjetivo, ainda que a lei seja clara, visto que o poder da argumentação e da contra-argumentação é o diferencial entre ganhar e perder uma causa.
Na educação, o rendimento muitas vezes está vinculado a prática de seu professor. Não o paizão e tolerante com tudo, nem o "sargentão", linha-dura, onde o silêncio e o respeito (temor) imperam. Respeito se conquista com competência e com certa flexibilidade. Grito e cara feia assustam na primeira vez e nunca mais.
Cena antológica do filme Sociedade dos Poetas Mortos, em que o professor, interpretado pelo ator Robin Williams, rasga páginas de livros devem ser encaradas como uma simbologia e crítica ao ensino mecânico e robotizado, antes mesmo do advento da informática na educação. Evidentemente que não se muda a prática educacional rasgando ou queimando livros, muito menos endeusando cartilhas. O livro didático não é vilão nem herói. Apenas uma ferramenta como tantas, inclusive, o microcomputador, que não mudará a realidade de sala de aula, se não foram incorporados aos laboratório de informática educativa (LIE), planejamento, compartilhamento, sentido e significado. Como se faz isso? Penso que, tanto na informática como na educação, e principalmente na informática educacional, os educadores não devem simplesmente reproduzir conteúdos que vêm de cima para baixo. Podem e devem produzir conteúdos educacionais, de baixo pra cima, mostrando via apresentação de slides, blogs, páginas na internet, jogos educacionais que incorporem em si a teoria e a prática educacional daquela comunidade, que poderá ser conhecida, via mundo digital, e adaptada à realidade de outra localidade.
Sempre fui muito crítico, como leitor e escritor, e também como educador. Mas um crítico construtivo. Hoje, ter-se opinião a respeito de tudo que conhece é dar seu depoimento, não significa ser dono da verdade, e sim divulgar a verdade de cada um. Ao expor as opiniões, estamos sujeito a provocar controvérsias. Lamento, mas não me arrependo de atitudes que tenha tomado em vida, no cumprimento de uma atividade. Todas foram fruto das circunstâncias que vivi. Por formação legalista e jurídica, muitas vezes minha opinião contrariou a de outros, inclusive a de amigos. Acho curioso que a cada publicação de artigo de opinião, em jornais da região, é espelhado nos rostos dos conhecidos, ao me cumprimentarem ou negarem o cumprimento, uma concordância ou discordância com meu texto. Mas, opinar é preciso, viver não é preciso, se for pra reproduzir o que os outros já disseram, e melhor. Ou se for para agradar alguém, melhor fazer versos de louvação, o que não é o meu caso.
Escrevo desde os 17 anos, e aos trinta e muitos anos, resolvi, aconselhado por amigos e familiares, publicar meus escritos. Primeiro em jornais da região (poemas e crônicas), depois buscar uma publicação individual em livro. Optei pelo livro de contos Realidade Virtual, escrito em 2000, num tempo de transformações pessoais, familiares, funcionais e mundiais, que repercutiram na minha obra. Remeti os originais para algumas editoras. A maioria sequer respondeu; algumas responderam em formulário pronto e assinado previamente, agradecendo gentilmente o envio do material e dizendo que não seria publicado; outras enviaram orçamento, talvez somando número da páginas pelo custo, mas para isso, preferia gráfica que sairia mais econômica a edição. Por fim, duas editoras responderam. A primeira, alguns dias após envio dos originais, escrita de forma cortês, mas crítica, fazendo com que o homem de 30 e muitos anos ficasse 2 meses sem pegar num livro e outros tantos sem escrever uma linha sequer; se fosse o jovem de 17 anos, nos primeiros passos literários que recebesse a tal resposta, eu não estaria hoje aqui, minha vida teria mudado, tomado outro rumo, já que foi a literatura que me fez ser o que sou. A segunda editora, após 120 dias, remeteu uma carta elogiosa ao trabalho e uma proposta tentadora de edição. Diante das duas opiniões, que dilema atroz me corroeu. Ou 8 ou 80? Pensei, pensei, pensei muito, até arriscar, e ao invés de desistir da publicação, como a primeira sugeriu, "pois não merecia ser publicada, pelo menos por aquela editora"; resolvi juntar algumas economias e publicar meu primeiro livro. Logo surgiu o convite para lançá-lo na Feira Internacional do Livro de São Paulo (2004), onde fui; depois, o convite da editora para que o livro participasse da Feira do Livro de Frankfurt (Alemanha-2004), maior evento da literatura mundial. Aceitei e o livro Realidade Virtual encontra-se desde aquela data no catálogo internacional de direitos autorais, disponível às editoras estrangeiras que se interessem pela aquisição para publicação. Evidentemente, como escritor iniciante, em publicação, sem uma grande editora, sem tempo nem condições financeiras para ter um agente literário, ou viajar para divulgação do mesmo, morando no extremo sul do Rio Grande do Sul, Brasil, tudo fica mais complicado. Mas um pequeno sonho foi realizado, e para um escritor não há satisfação melhor que ver leitores folheando seu livro, pedindo autógrafos, indicando para amigos, vendo o livro exposto em vitrines, junto aos livros de consagrados escritores...
Por isso, em palestras com alunos, professores e outros, quando possível, gosto de lembrar dessa experiência de vida e "da importância de uma segunda opinião", seja na literatura, na medicina, na informática e principalmente na educação. Nesta área, o professor deve ser o mediador do conhecimenmto e não o detentor do mesmo, determinando o que é certo e o errado, mas compartilhando experiências e ensinamentos. Como disse alguém: Aquele que julga saber todas as respostas pra tudo, não se dá conta que as perguntas, as dúvidas, os anseios e os sonhos mudam a cada geração". Lição que aprendi com a vida é que para tudo sempre terá uma segunda opinião.
Observação 1: Imagem acima, intitulada "Decalcomania", de René Magritte, pintor belga, mestra do surrealismo, extraída do endereço
http://artscenecal.com/.../RMagritte2D.jpg
Observação 2: Aos interessados em conhecer meu estilo de escrita literária, basta acessar ao meu outro blog ControlVerso.
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