quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Não basta ser pai, tem que participar...


Aproveitando o aniversário de meu filho Allan, que completou 3 anos ontem, utilizo antigo slogan de propaganda sobre remédio para contusão, até pelo fato de que Allan se contundiu na escolinha na véspera do seu aniversário, e, além de usar a pomada, está até hoje levemente mancando, fruto de um tombo sobre seu pé.
Ele é ainda muito criança para "cair em si", salvo na forma física e não na emocional. Allan ainda tem pela frente alguns anos de fantasias e idealizações, mas um dia terá que descobrir o outro lado da vida.
O grande problema do Superpai é justamente a tal superproteção dada ao filho "Superboy", esquecendo que o melhor remédio pra enfrentar o mundo, não é esconder da criança as coisas e sim previni-las gradualmente dos perigos que vêm de Krypton ou da esquina, através de uma pedrinha verde, ou doutra cor, ofertada pelo Lex Luthor, ou outro arquiinimigo, travestido de super-herói. Essas balinhas coloridas são hoje, junto a outros tipos de "kryptonitas" o maior dilema de pais e filhos.
Estou sendo aprendiz nessa fase de 0 a 3 anos, em que tenho descoberto um universo infantil que desconhecia. Já tinha participado direta ou indiretamente deste universo, por parentes, amigos e um outro relacionamento, mas ser pai é uma experiência única, que só se aprende vivenciando. Sempre que posso comento com amigos e colegas que para se entender o outro lado, deve-se atravessar a fronteira e não apenas ficar formulando hipóteses do outro lado da margem; tipo, criando "teorias da conspiração" sobre o que deverá ter de fato do lado escuro da Lua, que nunca vemos... Precisamos, como educadores, adentrar ao universo do jovem, saber de seus sonhos e anseios, trazendo-os para o universo da educação. Sem fazer esse caminho inverso, não há como querer que uma geração mais nova e sem a mesma vivência e maturidade que nós, nos entenda. Tenho aprendido muito a lidar com os jovens, sendo um jovem de espírito e entrando em seu mundo.
Da mesma forma que digo que não basta ser pai, tem que participar do aprendizado direto de seu filho, o mesmo digo ao educador, que é muitas vezes o pai/mãe de 30 ou mais filhos dos outros. Mas não há como fazer essa transição da família para a escola sem o envolvimento direto dos pais biológicos ou responsáveis, que em tese devem conhecer melhor cada um de seus rebentos, e que deveriam, antes do filho adentrar aos bancos escolares, ser o primeiro educador que a criança tem na vida. Se a sociedade, por questões de subsistência e etc., cada vez mais delega à televisão ou a outros meios o seu papel de primeiro educador, ficamos muitas vezes vendo na própria sociedade uns delegando a outros o seu papel e as suas atribuições num revezamento pouco eficaz em que executores legislam, legisladores julgam a si mesmos, juristas se envolvem em questões políticas enquanto políticos se envolvem com a esfera desportiva, e assim por diante.
Não basta ser remédio, mas prevenir - seja na vida em família ou em sociedade - sempre é melhor do que remediar. Eu acompanho os passos de meu filho, que fora do período de férias passa maior parte do tempo em escolinha, pois eu e minha esposa, professora Elisabete, passamos o dia fora trabalhando. Desde os 3 meses de idade Allan freqüenta escolinha, tipo maternal, mas em 2008, precisou trocar de escola, de professores e amigos, pois a anterior fechou. Está sendo um período de adaptação para filho e pais. Se para nós uma mudança de emprego, de casa, de função traz transtornos, imaginem para uma criança de 3 anos e todo seu imaginário.
Por isso, digo e repito o slogan de remédio, que adotei como meu, muito antes de ser pai, pois sempre gostei de criança (desde o tempo que isso nada tinha demais nem trazia em si alguma suspeita). Hoje, demonstrar atenção e interesse sem segundas intenções ficou estranho num mundo assolado por denúncias de pedofilia. Lembro que em2007, lá no campus da FURG, ainda tendo as aulas do mestrado em História da Literatura, vinha eu pela estrada interna do Campus Carreiros, só pra poder tirar umas fotos (um de meus hobbys prediletos) da paisagem, cheia de lagos e bosques. No meio do caminho, de uma tarde de sol forte, um Senhor de meia idade estacionou o carro e perguntou se eu queria carona, e como já tinha tirado algumas fotos e o calor era escaldante, aceitei. Mas, confesso, à primeira vista fiquei constrangido de fazer desfeita à carona e também receoso de alguma segunda intenção. No fim, foi uma agradável conversa com um rio-grandino radicado em Porto Alegre, que veio visitar a Universidade onde ele trabalhou e ali se aposentou; e que queria ser somente cordial e solidário com um outro cidadão. O Sr., que esqueci o nome, me contou indignado que tinha oferecido momentos antes a mesma carona a duas jovens que recusaram com cara de reprovação, como se ele fosse algum maníaco. Tempos estranhos e paranóicos esses que fazer favor é o maior dos pecados. Tempos estranhos onde pessoas "acima de qualquer suspeita" são acusadas de fatos abomináveis. Alguns comprovados!
Ser pai, hoje dia, mais do que nas gerações passadas, é ter o dilema do mundo em que vivemos, de acreditar meio desconfiando de tudo e de todos, e tentar prevenir do que remediar. Que meu filho e os filhos dele possam, se não herdar um mundo melhor, trabalhar para um mundo novo, em que gostar de crianças ou do seu semelhante não cause estranheza e desconfiança à sociedade.
Mas uma coisa aprendi, desde que cai em mim, que não podemos afirmar categoricamente que somos feitos à imagem e semelhança de Deus. Todavia, afirmo com todas as letras, que os filhos são criados à imagem e semelhança de seus pais, e de acordo com essa "criação" encontraremos lá no futuro o resultado dela, seja bom ou ruim.
Observação: Foto acima, de Allan, que não gosta muito de ser fotografado, brincando com o trenzinho que ganhou de aniversário. Além de brinquedos e brincadeiras, seu passatempo predileto é assistir à programação do Discovery Kids que instrui e diverte ao mesmo tempo.