A maior invenção do mundo
Listas, todos têm a sua: da mulher mais linda, de melhor jogador, atriz, filme, música, livro... Algumas são corriqueiras, outras visam valorizar pessoas e situações. Uma delas, causou polêmica e discussão. Trata-se da coordenada pelo editor e ensaísta americano John Brockman, coletada entre uma centena de intelectuais, cientistas e pesquisadores, e que deu origem ao livro As Maiores Invenções dos Últimos 2 Mil Anos. Nesta lista surgiram as tradicionais e esperadas indicações, como: tecnologia das comunicações, imprensa, internet, telescópio, relógio, arado, sistema de contagem indo-arábico, caravela, óculos; até indicações curiosas, e, à primeira vista, excêntricas, como: estribo, aspirina, borracha de apagar, espelho, cesta e feno. Cada um, ao lado da invenção que achava a mais importante, colocava seu comentário. Como a lista era aberta, após as primeiras, sucederam-se indicações sui generis. Alguns, querendo ser mais original que a própria originalidade, tornando-se por si só inventores.
A justificativa de Freeman Dyson, professor de física no Instituto de Estudo Avançado de Princenton, EUA, para indicar o feno como a maior invenção em 2 Mil Anos, diz: “No mundo clássico não havia feno. A civilização só existia em climas quentes, onde cavalos podiam pastar no inverno. Até que o feno foi ceifado e armazenado e a civilização atravessou os Alpes, originando Viena, Paris e Londres”.
Já o escritor Carl Zimmer, escolheu encanamento e esgotos, justificando: “Tenho dificuldade para me lembrar de outra invenção que tenha detido tanta doença e morte. Sem o serviço de águas, as condições de amontoamento seriam insuportáveis. Basta ir a uma cidade pobre, sem água limpa, para ver isso”. Concordo com ele. O saneamento básico e o tratamento das águas - se não é a maior - é uma das maiores invenções da humanidade, já que neste mundo vivem mais de 6 bilhões de seres humanos, defecando, urinando e poluindo o meio ambiente diariamente. Imaginem só se não existisse a rede de água e esgotos! Que atoleiro, epidemias, e outras pestes, como na Idade Média, já teriam dizimado a maioria da população mundial. Para ratificar essa indicação, reproduzo uma citação do jornalista indiano Vishwa Nath: “Como espécie, o homem tem procurado aniquilar os ratos da face da Terra, mas jamais conseguiu. Da mesma forma, fomos subjugados, torturados, conquistados, mas ninguém conseguiu nos aniquilar. Essa tem sido a força da nossa civilização. Mas como vivemos? Como ratos”. Que o digam os pobres, deserdados das obras de infra-estrutura.
É verdade que a caravela, segundo Alun Anderson, editor da revista New Scientist “é o equivalente medieval da cápsula espacial Apollo” e que “...abriu caminho para a Era dos Descobrimentos e para o comércio internacional” (e também para a colonização e exploração das Américas, Ásia e Oceania). A internet tornou o mundo uma aldeia global; o microcomputador proporcionou o mapeamento genético do ser humano, através de sua capacidade de armazenar e fazer cálculos complexos em grande velocidade, e que indiretamente poderá favorecer a descoberta de remédios e tratamentos para doenças até hoje incuráveis; a imprensa ofereceu informação a milhões de pessoas; o relógio organizou as relações interpessoais e profissionais; trem, automóvel, avião, moto e bicicleta são eficientes meios de transportes, aproximando as pessoas e as cidades. John D. Barrow, professor de ciências matemáticas da Universidade de Cambridge, Inglaterra, disse que “o sistema de contagem (indo-arábico), com conteúdo da informação da posição (de modo que 111 significa 100 mais 10 mais 1), é hoje universal e está na base de toda ciência quantitativa, econômica e matemática”.
Enfim, dependendo do ponto de vista, várias são as invenções que contribuíram para a melhoria da qualidade de vida. Mas o encanamento proporcionou o saneamento básico e a água tratada, ajudando o homem a sair da Idade das Trevas, e deixar de viver como rato e entre os roedores. Mesmo assim, ainda há muita gente pela face da Terra sem essa invenção básica em sua casa. Pode-se viver sem tecnologia e conforto, mas sem higiene e saúde, é insuportável.
Observação 1: Artigo de opinião, de minha autoria, publicado originalmente no Jornal do Norte, de São José do Norte, RS, Brasil, em 29/09/2005.
Observação 2: Imagem acima, colagem de minha autoria (datada de quase 10 anos atrás), que trata dos contrastes entre a tecnologia de ponta, disponível a poucos, diante das desigualdades sociais pelo mundo afora. Colagem feita a partir de recortes de revistas antigas, usando apenas tesoura e cola bastão, digitalizando o resultado para o computador, uma grande invenção, mas que prefiro continuar creditando nos esgotos o título de melhor das invenções de todos os tempos.
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