sábado, janeiro 12, 2008

Vozes Avulsas


Ângelo Vigo e eu temos coisas em comum: ambos, além de amigos, somos poetas e servidores públicos. Há inclusive na história da literatura uma grande afinidade entre a palavra em prosa e verso com as repartições públicas. Grandes escritores como Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos, e também ilustres desconhecidos (escritores de gaveta) conceberam suas obras enquanto pagos pelo erário. Apesar disso, o verdadeiro escritor e artista é aquele revolucionário da palavra, contestador de idéias pré-estabelecidas e tidas como intocáveis. Um incendiário sem usar combustível ou riscar um fósforo sequer.
Ângelo tem belo livro de poesias, intitulado Não São Palavras Mágicas, que já me influenciou a escrever um artigo. Seu mais recente trabalho reúne poemas e canções, batizado de Vozes Avulsas. Vigo é também um premiado compositor. De sua parceria com o músico e também servidor público Miguel Isoldi, muitas canções e premiações decorreram e muitas estão por vir.
Ângelo, como todo grande poeta é revolucionário sem ser panfletário, não cai na armadilha do discurso fácil, do texto simplista, da rima feita, da idéia pré-concebida. Seus livros são de versos hipnóticos e intimistas sem serem herméticos; políticos sem serem doutrinários. Versos libertários sem empunhar bandeiras. Sua bandeira justamente é o verso livre.
“Para ser feliz nessa viagem,/ Eu não vou levar quem me feriu:/ - Não preciso cruzar o rio,/ Para saber o que há na outra margem!” - fragmento do poema Não Era Madalena.
Vozes Avulsas é escrito todo em letras maiúsculas, e não possui o título do poema junto ao mesmo – um artifício (?) que provoca o leitor. Ler o poema antes e procurar o título após, já é por si só um exercício de leitura e de comparação da idéia que se tem ao ler, e a que o autor quis dizer. O livro foi lançado no espaço cultural ArtEstação, na praia do Cassino, Rio Grande-RS, em novembro/2005 e na 33ª Feira do Livro do Cassino, janeiro/2006.
Mais alguns trechos:“(...)Como a primavera vêm, e não te espera,/ E, se não te apressares, quando tu chegares/ Até os lugares de ti fugirão...” - de Fecham-se Portas e Portas; “Eu saltei de cima da ponte./ Afundei na espuma do mar./ Eu pulei com todas as forças. Mergulhei pra me libertar”. – de Ponte dos Franceses. Pequenas mostras de uma poesia maiúscula, e nada avulsa.
Contato com o autor: avigon@bol.com.br
Observação 1: Texto acima, de minha autoria, publicado riginalmente no jornal Letra Viva, nº 21, edição de fevereiro/2006.
Observação 2: Imagem acima, cópia escaneada da capa do livro Vozes Avulsas.