Paraísos artificiais
Paraísos Artificiais é título de livro de Charles Baudelaire (autor de As Flores do Mal), considerado - junto com Arthur Rimbaud (autor de Uma Estadia no Inferno) - expoente da poesia Romântica francesa e mundial no século 19. Dizem os críticos que ambos tiveram experiências com o haxixe e o ópio – espécie de alucinógenos -, colocando suas impressões no papel. Naquele tempo, esses paraísos artificiais ainda não eram estudados a fundo, nem descoberta sua relação destrutiva com o homem e a sociedade, como atualmente está mais do que comprovado. No início do século 20, a partir de estudos de Sigmund Freud – pai da Psicanálise - com a cocaína, é que essa droga e outras passaram a ser conhecidas e combatidas mundo afora.
Há quem use esse artifício para atingir o Paraíso perdido. Repetitivo e necessário dizer o quanto o uso de drogas, além da dependência física, causa desestruturação emocional e moral, levando, muitas vezes, jovens e adultos, à marginalidade, ao roubo e à prostituição. As portas desses paraísos artificiais, normalmente encontram-se abertas (em frente de escolas e outras aglomerações juvenis), como os portões do Inferno, na literatura de terror, para atrair ingênuos, desajustados ou simplesmente quem procura ilusões baratas, e que ao ultrapassá-los lembram aquele filme: Pague para entrar, reze pra sair. Esses paraísos estão disfarçados em comprimidos, balas, pó, injetáveis e até em insuspeitas figurinhas de álbuns infantis. Essa é a maneira que o tráfico usa para capturar suas vítimas, oferecendo sem custos a primeira passagem, até que João e Maria descubram que o cara bonzinho não passa de uma Bruxa Malvada, aprisionando-os para devorá-los pouco a pouco, caso não paguem a fatura. A partir daí é que os ingênuos descobrem a maldade humana. Os paraísos perdidos estão somente em nós mesmos, disse o escritor francês Marcel Proust, autor de Em Busca do Tempo Perdido.
Confesso: nunca experimentei drogas, salvo a atual programação da TV aberta. Oportunidades não faltaram, apenas “coragem”, devido a exemplos próximos, através de conhecidos, para que nunca quisesse fazer essa “viagem”, muitas vezes sem volta. Meu pequeno paraíso artificial é a literatura, e foi ela que me fez valorizar a lucidez acima de qualquer outra coisa e deu-me o senso crítico para separar o joio do trigo, ainda em tenra idade n’outra viagem ao imaginário. De que vale querer ver cavalos alados e outras bobagens que alguns alegam, se quem usa esse tipo de fuga, acaba tornando-se uma “metamorfose ambulante”? Quando jovem e ingênuo, um sujeito recém apresentado a mim por um “amigo”, disse que ao final da festa iria me mostrar uma loirinha linda que me faria ver o Paraíso. E eu acreditei! Sorte, que um verdadeiro amigo, aproximou-se de mim e cochichou ao meu ouvido: Cuidado! Essa loirinha não é o que tu pensas; é um comprimido apenas. Noutra festa, também duas décadas atrás, numa brincadeira juvenil, um colega, muito tímido, recebeu um lenço com estranho perfume para cheirar. Aquele sujeitinho que tinha medo da própria sombra ficou alucinado, querendo agarrar as meninas à força. Precisou ser contido por cinco “amigos” (que se divertiram muito com sua cara de doidão) e receber literalmente uma ducha de água fria para voltar à normalidade. Exemplos que me fizeram querer estar sempre com os dois pés fincados na realidade.
Hoje, os valores estão invertidos e o normal é não ser normal. Acuados por falsos amigos, muitos jovens acabam induzidos precocemente a perder a virgindade, usar drogas, roubar, prostituir-se, mentir e até matar, para manter esses paraísos, como se isso fosse a coisa mais natural. Depois de estar-se cativo, fugir do vício, é muito pior do que escapar de um campo de concentração ou correr num terreno minado.
Paraísos artificiais (e fiscais) existem em toda parte: ilhas Caymãs, bancos da Suíça e etc., para (sigilosamente) depositarem lá os lucros obtidos com o narcotráfico, o jogo ilegal, a corrupção política, a venda de armas contrabandeadas, a prostituição, etc. Mario Quintana escreveu: “O mais triste de um pássaro engaiolado é que ele parece estar feliz”. Eis a dura realidade, nada virtual.
Observação 1: Artigo de opinião, acima, de minha autoria, publicado no Jornal do Norte, de São José do Norte-RS-Brasil, em 09/06/2005.
Observação 2: A imagem acima, colagem de minha autoria (jan/2008), feita a partir de recorte de revistas, usando tesoura e cola bastão, e o resultado digitalizado para o PC, via scanner.
1 Comments:
Zé, aqui no meu computador a barra lateral continua aparecendo abaixo das postagens,penso que o visual do blog fica melhor com a barra aparecendo ao lado. Olhe Zé, 35 visitas diárias não é para qualquer um, penso que o teu blog é o mais visitado do Brasil.Parabéns, como já te disse tu mereces!!!
A barra lateral vai para baixo por duas razões ou colocaste nas postagens algo que é maior , em tamanho, comprimento, ou na própria barra lateral.
Agora estou com mais tempo, arrumei minha Internet que estava com problemas, qualquer coisa estou aqui.
bjs
Berna
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