quarta-feira, janeiro 23, 2008

Como vidro em conserva

Todos já ouviram dizer sobre o poder da imagem, que vale por mil palavras.
Recentemente vi estampado numa padaria um desses cartazes elaborados pelo Ministério da Saúde (foto ao lado), que adverte para os males do tabaco, com a seguinte mensagem: “fumar pode causar aborto espontâneo”. Tal mensagem pode ser impressa e distribuída gratuitamente sem causar nenhum efeito no fumante inveterado. Mas, a divulgação da imagem (num maço de cigarros) de feto abortado, mantido dentro de um vidro, que lembra vagamente esses produtos em conserva, é a demolidora constatação dos efeitos negativos do fumo. Tal publicidade impositiva lembra os próprios cartazes distribuídos no início do século XX, pelo médico-sanitarista Oswaldo Cruz, quando de sua campanha pela vacinação maciça da população do Rio de Janeiro e do Brasil, utilizando-se de imagens fortes, pela forma direta, visual e impactante, na busca da conscientização da população dos males à saúde. Talvez, aí a comprovação de que para que campanhas institucionais funcionem, o cinema e as artes visuais são aliados mais contundentes do que a palavra. Na Educação, também, o desafio é saber lidar com a geração da Imagem e do Som.
Desenvolvo projeto de aprendizagem, através de especialização à distância sobre tecnologia educacional, cujo tema que abordo é: “A televisão pode ser uma aliada da educação?”. Tenho coletado vários dados, desde a programação, como a forma de televisão (a cabo, aberta, educativa, comercial, pública e privada) e as maneiras de entretenimento e aprendizagem. Penso que, apesar dos pesares, a TV pode auxiliar ao professor e ao aluno, desde que usada com critérios.
Discuto os avanços tecnológicos (TV digital, etc) sem o acompanhamento equivalente da programação, ainda calcada em índices de audiência, e a exploração do sensacionalismo, da “espetacularização da vida” e da banalização da violência, sem a devida autocrítica. Analiso o papel do jovem e do aluno em geral frente a um modelo consumista, que prioriza o sentido mercadológico, em detrimento do educacional. Disponibilizo diário virtual (http://letravivadoroig.blogspot.com), e lá tenho postado e recebido contribuições de interessados em tecnologia, educação e cultura. Nele estão postados artigos, sugestões bibliográficas, links (atalhos) para outros blogues educacionais, fotos e imagens variadas.
Todo telespectador diante da TV tem duas posturas receptivas: ativa e passiva. O receptor ativo é aquele que observa e compara o noticiário de mais de um canal, que debate com a família, os amigos e no trabalho, sobre os temas veiculados, tendo postura crítica e analítica das artes e fatos mostrados. E não aceita todo “artefato” produzido como sendo informação fidedigna, e a contextualiza. Já o receptor passivo é quem tem na TV e no rádio as únicas formas de informação. Por falta de poder aquisitivo ou alienação, não lê jornais, revistas, nem acessa à internet. Tem como verdade única tudo que é noticiado. Assiste ao telejornal à espera da telenovela. Dá boa noite ao apresentador do noticiário, confunde o ator com a personagem da novela e não separa o falso do verdadeiro, entre a tela envidraçada da TV e o mundo lá fora. Enfim, é aquele que recebe o sinal, mas não reflete sobre este.
Como num vidro em conversa, alguns telespectadores vivem como peixes num aquário, sem a noção de que o local não é mar aberto, e sim espaço limitado. Votam nas personalidades da TV para cargos eletivos, desconhecendo o passado social do candidato e seus projetos. Novela após novela, como vidro em conversa, esses usuários permanecem a assistir aos folhetins eletrônicos, que em determinado horário, o humor torna-se besteirol; pois a trama é feita com o propósito de continuísmo de uma fórmula que deu certo, pela própria repetição continuada. Basta perceber que na Novela das Sete o protagonista, seja qual for o enredo e o ator, vive sem camisa, ainda que a trama não seja sobre índios, selva, etc. Porém, segundo dados atuais, tais novelas, que eram campeãs de audiência aqui e no exterior, em ambos os locais, vêm perdendo receptores passivos, talvez, fruto dessa fórmula vitrificada, que já não convence mais.
Observação 1: Texto acima, de minha autoria, publicado originalmente no Jornal Letra Viva, nº 33, fevereiro/2007. Também publicado, no mesmo período, em jornais da região.
Observação 2: Imagem acima, propaganda antifumo do Ministério da Saúde, escanada de uma carteira de cigarro.
Observação 3: O Jornal Letra Viva é um projeto meu, em funcionamento desde junho/2004, e pode ser solicitado o envio gratuitamente, mandando uma mensagem para a conta de correio eletrônico klaesroig@yahoo.com.br, para ser incluído na lista de contatos do jornal virtual, que já conta com mais de 500 leitores, de várias regiões do Brasil e do exterior, fora outros que repassam aos amigos dos amigos as edições.