segunda-feira, janeiro 21, 2008

A Síndrome do Microfone Aberto

“Quem não se comunica se trumbica”, já dizia o saudoso Abelardo Barbosa (O Chacrinha), criador de diversas pérolas, como: “Terezinha!!!”, e “Eu vim para confundir e não para explicar”. Ex-apresentador de TV (já falecido), Chacrinha, legou-nos várias frases de efeito, além da buzina e do show de calouros - que revelou grandes artistas brasileiros, dentre eles Roberto Carlos. Mas, quanto ao “Quem não se comunica se trumbica”, não me pergunte o significado desse incomum verbo (trumbicar), pois não tenho a menor idéia, pois parece ser alguma analogia com a expressão “se complicar”.
Porém, hoje em dia, sem querer entrar em uma área que não tenho conhecimento, apenas a admiração, que é a da psicologia, denomino (por pura ironia, mais do que ousadia) uma nova síndrome que tem tomado conta daqueles que detém o mais poderoso meio de comunicação de massas. A Síndrome do Microfone Aberto é um mal do século XX, agravado no século XXI, dominado cada vez mais por políticos eleitos, que têm em seu perfil social, apenas o fato de utilizar o microfone e as câmeras de TV em proveito próprio, sedimentando carreira política, amparada em milhares ou milhões de votos. Mas tal síndrome tem pequenas variantes. Pessoas comuns, que jamais terão as câmeras e os holofotes em sua direção, mas que em pequenos grupos monopolizam a atenção, dominando o microfone, mais pelo tempo que ficam com ele em punho, do que pela perícia e dicção. Quem possui essa síndrome, em sua versão menos virulenta, raramente se dá conta de que fala mais do que o entrevistado... Que dá palpite em tudo o que pode e não pode, nem sempre com conhecimento de causa... Que se o vivente tem 15 minutos para falar, mas assunto é para apenas 10, insiste em usar todo o tempo e mais um pouco, ainda que seja para repetir-se enfadonhamente. Tal criatura, que daria um belo personagem de ficção é mais real do que a realidade... Teima em escolher as palavras, e utilizá-las fora de seu sentido usual, para dar a falsa impressão de intelectualidade, normalmente descontextualizando-a. Palavras como “capilaridade” são utilizadas fora de propósito, para dar a conotação de que tal prática possui ou não uma abrangência... “Carecas de saber”, por sinal, estão todos aqueles que ouvem mês após mês esse tipo de discurso vazio e sem nenhuma implicação, a não ser o de expor seu autor aos holofotes de um pequeno grupo ou a mídia...
Aliado a essa síndrome, existe a geração “Tipo Assim...”, expressão repetida ad nauseaum. É um tal de “tipo assim, isso”, “tipo assim,aquilo”, e por ai vai... O que demonstra como a falta do hábito de leitura e a constante exposição a apresentadores “Tipo Assim...”, fazem com que uma geração inteira comece a repetir, que nem “papagaio-de-pirata”, meia dúzia de expressões vagas ou vazias, pela absoluta falta de vocabulário.
Porém, a Síndrome do Microfone Aberto tem a seu favor a democratização do acesso à palavra, mesmo que à duras penas dos ouvintes. Entretanto, tal equipamento, se usado apenas para autopromoção e a divulgação de idéias desarticuladas, contribui, e muito, à desinformação.
Observação 1: Texto acima, de minha autoria, publicado originalmente no Jornal Letra Viva, nº 34, março/2007.
Observação 2: Imagem acima, extraída da internet, do endereço
http://www.jobicudo.com.br/images/microfone_email.gif
Observação 3: O Jornal Letra Viva é um projeto meu, em funcionamento desde junho/2004, e pode ser solicitado o envio gratuitamente, mandando uma mensagem para a conta de correio eletrônico klaesroig@yahoo.com.br, para ser incluído na lista de contatos do jornal virtual, que já conta com mais de 500 leitores, de várias regiões do Brasil e do exterior, fora outros que repassam aos amigos dos amigos as edições.