terça-feira, janeiro 22, 2008

A "mánica" do tempo


O título desta postagem não é um erro de digitação e sim a forma que as crianças até os três anos - e, em especial, meu filho Allan -, chamam às máquinas, invertendo as sílabas... Trabalhando há 15 anos com educação (e há 4 com informática educativa) e tendo contato direto ou indireto com alunos, ora como educador, ora como amigo, conversando, jogando bola, acompanhando em passeios outras turmas da EEEF Barão de Cêrro Largo, onde está implantado e em funcionamento o Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE) Rio Grande/18ª CRE; em toda essa trajetória educacional, não apenas minha, mas de colegas e dos alunos, percebo certas curiosidades que me motivam e motivaram diversas postagens neste blog e projeto diversos, usando a tecnologia educacional.
Confesso que apesar de meus quase dois metros de altura e quase cem quilos, sou no meio de crianças e jovens o mais "crianção" de todos. Adoro música e grupos que qualquer adolescente gosta (Coldplay, Radiohead, The Calling, Simple Plan entre outros), gosto de viodeogame (ainda mais se for simulador de futebol!), ADORO também mp3, além de bolachinha recheada, iogurte, batata frita e refrigerante, entre outras coisas "engordantes". Risos. Considero-me um educador interativo que, por entender gostos e a identidade dos alunos, consegue melhor transitar entre todas as "tribos"... Muitos alunos que conheci ainda no jardim de infância, hoje são adultos, pais ou mães de família, e é com satisfação que vejo seus filhos adentrarem à escola. Alguns não reconheço mais (eles que vêm falar comigo na rua), pois o jovem quando entra na adolescência muda muito física e emocionalmente. Principalmente aqueles que eram mais agitados, e que acabam ficando mais maduros. Uma nova geração que vem e um novo desafio à escola e ao educador, conectado ou não com esse outro universo.
É a tal "mánica" do tempo, que não pára... Vivemos cada vez mais entre máquinas, e não há como não sentir-se de vez em quando surpreso ou quase lesado. Digo isso, pois ontem, enquanto assistia no computador, através da placa da captura de TV, os gols da rodada do final de semana, Allan, meu filho de quase 3 anos de idade (faz aniversário em 20/2) pegou o joystick ao lado e queria jogar, confundindo as imagens reais com algum jogo de realidade virtual, pincipalmente os que seu pai joga no mesmo PC. Não apenas ele, com 3 anos se confunde, seu pai, com 40 anos há mais, já sentiu a mesma sensação, certa feita, ao passear por uma loja e ver um jogo da seleção nacional (virtual), que à primeira vista parecia a original, de carne e osso, e não de bits, bytes e megabytes.
A segunda sensação desconfortável refiro-me a que nos assalta logo que adquirimos um equipamento eletrônico, que une o útil ao agradável: bom preço e funções desejadas. Passadas algumas semanas e ao vermos novas promoções com equipamentos mais baratos e com maior memória de armazenamento de dados, sentimo-nos invariavelmente lesados. E lamentamos a pressa! Mas que nada, se ficarmos esperando nada adquiremos pois esse é o movimento retilíneo e uniforme (MRU) da "Mánica" ou máquina do tempo, dependendo da idade que tivermos... Sei que por mais que tentemos não entrar nesse carrossel consumista, os equipamentos, sem a mesma durabilidade do tempo de nossos avós, nos força a rever nossos conceitos. Meu aparelho celular me deixou ontem na mão, resisti o que pude para não trocá-lo, mas agora uma das teclas essenciais para seu funcionamento travou... Mas já é uma façanha, pois estou com ele há mais de 3 anos. Uma eternidade! Risos. Então, mesmo contrariado, vou procurar um novo, que sei que daqui a seis meses estará ultrapassado, diante da cada vez maior diversidade e capacidade do mercado de se reconstruir para que todos possam usufruir e consumir mais e mais... Conheço pessoas que trocam de celular a cada promoção, mesmo que o aparelho continue em condições regulares de uso, só pelo fato de ter enjoado do modelo ou querer nova função que o antigo não possui. Esse mesmo "consumidor" age com seu(sua) parceiro(a) quando a rotina e outros "equipamentos" de carne e osso passam a ser uma tentação irressistível. Hoje, os relacionamento afetivos são mais descartáveis que alguns equipamentos. Esse modo de vida, tanto a "mánica" como a máquina do tempo não irão me aprisionar. Prefiro valorizar as pessoas, acima das máquinas...
Ah, já ia me esquecendo de outra aflição que toma conta do internauta, que é a "eternidade" de alguns segundos perdidos, quando a página ou as páginas custam a abrir e estamos acostumados que com apenas um clique entremos no Novo Mundo (virtual). E quando conectados, perdemos a noção do tempo, lá fora, ficando horas e mais horas diante da tela de um computador, num labirinto digital, para nenhum Jorge Luis Borges pôr defeito. Portanto, ao adentrar no ciberespaço, antes ligue o despertador...
Observação: Imagem acima, colagem de minha autoria, feita há cerca de 8 anos atrás (como terapia ocupacional), a partir de recortes de revistas antigas, usando tesoura e cola bastão, e depois digitalizando o resultado para o computador, através do escâner. Tudo artesanal.