quarta-feira, janeiro 23, 2008

O campo de distorção de realidade


A expressão acima, faz parte da notícia extraída do portal Yahoo! Brasil, seção tecnologia, que trata de mais uma das aguardadas palestras do mago Steve Jobs, sempre inovando no que se trata de tecnologia de ponta. Leia a notícia, no link abaixo:
Palestra de Jobs tem certo clima de culto
Gostei da expressão "campo de distorção de realidade", pois isso sintetiza não apenas a postura de Jobs em suas palestras, mas na própria postura dos internautas quando acessando o ciberespaço, seja jogando on-line , pesquisando, batendo papo, enfim, qualquer coisa... O cibernauta entra literalmente numa outra dimensão em que o tempo e o espaço são outros.
Hoje, se formos levar a sério todas as notícias e ameaças, dentro e fora deste campo, via e-mails ou noticiário impresso, nos tornaremos paranóicos, pois mensagens de correio eletrônico nos avisam de supostos perigos, caso alguma prosaica apresentação de slides for aberta por desavisados, contendo em anexo inúmeros perigos, que podem instalar vírus espiões (para copiar senhas e dados pessoais), vírus letais que destroem tudo, enfim, um verdadeiro apocalipse digital. O fim daquele mundo virtual e do HD onde temos acumulada em gigabytes uma vida de realidade alternativa, com apelidos, logins, senhas, avatares (personagem e personalidade virtual), etc. Tais e-mails que em tese tentam nos proteger podem ser justamente vírus maliciosos para que caiamos em tentação e comecemos uma enorme corrente, repassando a todos os contatos de nossa lista, e assim, sem querer, disseminando o mal ao invés de combatê-los. Tudo é possível, nesse mundo virtual que lembra filmes de espionagem, tipo 007. Mas, tudo deve ter bom senso e cuidado.
Ainda falando sobre o campo de distorção de realidade, lembro-me que muito jovem, na década de 1970/80, assistia no programa Fantástico: O Show da Vida, algumas experiências em universidades dos EUA, em que jovens cientistas e pesquisadores (como deveriam ser na época Bill Gates e Steve Jobs) digitalizavam fotos e mais fotos de casas, ruas e cidades inteiras para simular algo em três dimensões. Parecia algo para um futuro muito distante. Hoje, essa realidade alternativa está presente no dia-a-dia, disponível para crianças, desde jogos eletrônicos simples a outros mais complexos como o Second Life, sem falar em experiências em universidades e em agências de informação e contra-ninformação que nem temos idéias de sua existência, como uma espécia de "Área 51 digital".
Em pouco mais de 20, 30 anos, o que era apenas ficção científica, como o relógio e fone de pulso do Dick Tracy se tornaram realidade e se banalizaram ao ponto de ter quase um aparelho celular por cada habitante de certos países como o Brasil. A maioria dos aparelhos nas mãos de adolescentes, e outra grande parte, nas gavetas, visto a cada vez maior descartabilidade do produto e da vontade de cada jovem ter o celular da moda, assim que é lançado um novo modelo com um recurso ainda inexistente nos demais.
Trabalho com tecnologia educacional, mais com o fazer pedagógico do que com a questão técnica e tecnológica. Mas gosto de me manter a par das novidades, que se mantém "novas" em período cada vez menor. A janela (windows) dos lançamentos vão diminuindo precocemente. Celular, iPod, IPhone, CD, DVD, Mp3, Mp4, Mp,5,6, 7... E o que virá depois? Teremos no futuro, do jeito que os meios eletrônicos se tornam mais e mais populares, energia suficiente para mantê-los em funcionamento? E o lixo digital decorrente dessas trocas? O que fazer com ele sem comprometer os recursos naturais, como rios, matas, mares, etc? E os empregos, que a cada revolução tecnológica são extintos e nenhum outro criado em seu lugar? Como reverter esse quadro?
Mas, o que mais me desconforta nessa era da informação cada vez mais veloz é o fato de não termos mais tempo para conversar olho no olho com ninguém, apenas on-line. E mais: nunca mandamos em nenhum outro tempo tantas mensagens, na maioria de terceiros, mas sequer com uma mensagem nossa inclusa. São dezenas de emails com apresentação de slides que recebo diariamente, e diariamente sigo o ritual de mandar todas àquelas que não vêm junto com um mísero "Oi, como vai?" para a lixeira. Sorte que esse lixo virtual não polui o meio ambiente real, apenas nosso HD e nossa mente. Desculpem os amigos que têm o hábito de repassar tudo que recebem dos outros, sem encaminhar uma frase sequer de mensagem. Para essas mensagens, no meu caso, o destino é o lixo mesmo. Podem até conter belos textos atribuídos a escritores famosos que os desconhecem, lindas imagens e boa intenção, mas o que eu gosto mesmo é de saber novidades por parte dos amigos, seus projetos. Claro que se vier com um recadinho dizendo do que se trata, para esses reservo alguns momentos, na agenda sempre cheia, para dar uma olhada e ver se me interessa o conteúdo, se terá utilidade em minha vida real ou digital.
Para esses que usam o "efeito bumerangue" de ficar repassando adoidado as mensagens que recebem, deixo uma mensagem particular: o trecho final do conto A ESCAVAÇÃO, de minha autoria, incluído no meu livro REALIDADE VIRTUAL, lançado na Bienal Internacional do Livro de São Paulo (17/4/2004), pela Ed. Litteris - RJ, e selecionado (o livro) em outubro do mesmo ano para participar da Feira do Livro de Frankfurt (Alemanha), e que trata de pequenos contos que bem poderiam ser encarados como uma espécie de "campo de distorção da realidade":
"Então, as gerações futuras descobrirão que nós, homens das cavernas para eles, usávamos estranhos aparelhos para nos comunicar uns com os outros. Mesmo assim toda a parafernália, hoje existente, fora insuficiente para nos impedir de continuar guerreando uns com os outros, como desde o início dos tempos, segundo o primeiro livro de Moisés, capítulo 11, versículo 1, que já nos dizia há muitos séculos atrás: “Mas todo o mundo tinha o mesmo idioma e a mesma palavra ...” Tempo distante que não volta mais, quando todos falavam a mesma língua, mas não sabiam se comunicar".
Observação: Imagem acima, colagem recente (janeiro/2007), de minha autoria, a partir de recortes de revistas antigas, usando apenas tesoura e cola bastão, e digitalizado o seu resultado artesanal para meu computador pessoal através de um escâner.