Um livro é uma leitura de mundo
Como escreveu Arthur Schopenhauer, filósofo alemão: "Seria bom comprar livros se pudéssemos comprar também o tempo para lê-los (...)" Para todo o aficcionado por livros, como eu, este é um dos grandes paradoxos do bom leitor: muitos livros comprados e pouco tempo de vida útil para lê-los. Sempre brinco com meus amigos que toda vez que entro em uma livraria, sebo ou assemelhado, me endivido, pois gasto com livros (que sei antecipadamente que não terei nesta vida tempo para uma leitura, quiçá, releitura), mais que o bom senso diria a "um rapaz latino-americano, sem dinheiro no bolso, sem parentes importantes e vindo do interior" (verso de famosa canção do cantor e compositor Belchior, um dos ídolos de minha geração).
Toda vez que viajo a trabalho e/ou estudos, lá estou eu, "enforcando" o horário de almoço ou os finais de tarde, entre prateleiras antigas de sebos ou refinadas de livrarias modernas, à caça de minha presa preferida: um bom livro. Não tenho vícios, salvo ser um leitor e comprador compulsivo dos mesmos. Mas, infelizmente, dando razão ao velho "Schopen", toda vida e mais seis meses não adiantariam para ler os que já possuo e os que ainda irei adquirir até o final de meus dias de leitor e escritor...
Somente nós mesmos para entendermos certas paixões que temos em vida. Tenho uma tia que adora colecionar sapatos, e com certeza, sem levar em conta bolsas, colares e demais adereços, tem o suficiente para essa e mais duas ou três "encadernações", aliás, encarnações (desculpem-me a brincadeira, mas livros e leituras fazem isso... Risos). Mas toda vez que ela me vê com diversos livros embaixo do braço ou empilhados em minha escrivaninha em casa, alguns adquiridos, outros emprestados, por amigos ou bibliotecas, fica escandalizada e me pergunta: "Pra que tanto livro?"
Sem conhecer Schopenhauer, deve pensar intuitivamente na assertiva dele, de que uma vida apenas é insuficiente para tantas leituras... Eu, aqui comigo, digo a mesma coisa de seu "arsenal" de sapatos, ou melhor, pequena sapataria particular, rivalizando com algumas dessas estrelas de cinema e TV. E também me pergunto: "Pra quê tanto sapato se não tem uma vida social tão intensa que faça jus a tamanho acervo?" Pois, é... Não adianta querermos julgar os outros por nossos valores nem querer entender os valores dos outros por nossos breves julgamentos. Sapateiros e livros dariam razão a um e outro, além dos próprios clientes. Um amor - seja por livro, sapato, roupas, etc - somente é possível de parcial entendimento vivenciando-o plenamente. Mesmo assim, gostos não se discutem. Alguém já disse que "no mundo existem belos livros que ninguém lê..." E eu complementaria: "Ninguém lê, por desconhecimento, por não gostar, por não ter dinheiro ou, como é o meu caso e de muitos que conheço, pela falta de tempo..."
Sem falar que uma releitura nos abre um outro universo. Quando li, lá pelos anos 1980, na adolescência Solo de Clarineta, autobiografia de Érico Veríssimo, tive um leve entendimento, depois, em 2006, retomando-a para minha monografia sobre a figura do gaúcho típico e seu arquétipo na obra de Veríssimo, descobri mais um pequeno tesouro que a juventude não conseguiu vislumbrar. Este ano, na dissertação de mestrado, mudarei o enfoque, do histórico mais para o literário, e com certeza terei mais gratas surpresas. Assim é a vida, uma repetida leitura de mundo que fazemos sobre os livros que lemos e sobre a vida que tivemos, temos ou ainda teremos...
Observação: Imagem acima, uma colagem digital, feita no Paint, a partir de 4 figuras extraídas dos seguintes endereços na internet:
1 (janela_aberta) http://tijolices.no.sapo.pt/janela_aberta.jpg
2 (bibliochaise) http://www.mikatech.com.br
3 (mondo) http://www.libreria.com.br
4 (img_aquario) http://www.motivus.pt
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