domingo, janeiro 13, 2008

A Estrela Solitária, Um Brasileiro Chamado Garrincha

Ruy Castro escreveu A Estrela Solitária, Um Brasileiro Chamado Garrincha (Ed.Companhia das Letras, 1995), bem em seu estilo peculiar e cativante, numa verdadeira arqueologia social, tomando por base a história de um dos maiores jogadores de futebol, não só do Brasil, mas do mundo inteiro. Impossível comentar em breve linhas a importância deste livro, do homem Garrincha, sua origem humilde na pequena Pau Grande, interior do Rio de Janeiro, o seu desapego ao dinheiro, suas conquistas dentro e fora do campo, seus inúmeros filhos, os clubes por onde passou, títulos conquistados com genialidade e muitas vezes superação das limitações que a vida desregrada lhe impôs. Enfim, somente lendo essa magnífica obra, para entender a devida dimensão do homem e do atleta Garrincha. Para desmistificar a importância de uns e a não-importância de outros, como a da injustiçada cantora Elza Soares, que pagou um alto preço por seu amor incondicional, sendo perseguida, tendo uma vida atribulada por 15 anos junto ao jogador. Nada é o que se parece, até sabermos, anos depois, o que realmente acontecera.
A Estrela Solitária é uma daquelas jornadas literárias ao centro do universo brasileiro, que a maioria dos próprios brasileiros desconhece. Sabemos apenas da ponta do iceberg, daquilo que a imprensa, muitas vezes, de forma sensacionalista divulgou. Afinal, para ser coerente com o gênio da bola Garrincha, tudo que envolvesse o seu nome deveria ser sensacional, mesmo quando não. O alcoolismo, os falsos amigos, os amigos de fé, os fãs, as grandezas e misérias humanas que perseguiram o anjo das pernas tortas, tão severamente como seus mais desleais marcadores. Um mosaico quase surreal.
Não há como não rir, se emocionar, ficar perplexo, se indignar com cenas tão dantescas na vida do homem que participou da conquista de 2 Copas do Mundo, ganhando quase que sozinho a de 1962 no Chile, mesmo já com problemas no joelho, jogando a base de infiltração. Se Pelé, merecidamente é considerado o rei do Futebol, Garrincha, com certeza, por tudo que fez à seleção brasileira, deveria ser hours concours. Um livro para todos que desejam conhecer um pouco das belezas e mazelas nacionais, pelas linhas e entrelinhas da vida deste personagem shakespeareano, vulgo Mané, que ajudara a moldar parte de nossa História, fazendo-nos orgulhar de ser brasileiro e viver no País do Futebol. Entrementes, se hoje, ele fosse revivido (por clonagem, etc.), seria punido por antifutebol, por seus dribles desmoralizantes... sobre atletas que praticam justamente o antifutebol, confundindo virilidade com força bruta, e que têm carreira longa por causa de árbitros despreparados ou omissos.
Observação 1: Texto acima,de minha autoria, publicado originalmente no jornal Letra Viva, nº 09, edição de fevereiro/2005.
Observação 2: Capa do livro em questão, extraída da internet, do endereço http://i.s8.com.br/images/books/cover/img0/27080.jpg
Observação 3: Resenha do portal onde foi extraída (em 13/01/08) a imagem da capa do livro: "Esta é mais que uma espantosa biografia. É um livro cheio de revelações até para os que julgavam conhecer Garrincha. Para os brasileiros de hoje, que só conhecem o seu mito, Estrela solitária será lido como um romance de paixão e desventura, tendo como cenário o Rio e o Brasil dos anos 50 e 60. Só que os personagens e os fatos são reais. Para descrever essa trajetória, Ruy Castro fez mais de 500 entrevistas com 170 pessoas. Garrincha renasce em "Estrela solitária" como um herói - um herói tragicamente humano".