segunda-feira, janeiro 14, 2008

Concreto Equilíbrio


O que é afinal ser poeta? Tal dúvida assalta poetas e aqueles que tratam da matéria-prima desses, a poesia. Seria poeta juntar palavras mágicas ou palavras cruzadas? Jauri Machado, poeta de Esteio – RS, é um desses que busca nas palavras um sentido pra existência, como todo bom poeta. No poema VI, do livro Concreto Equlíbrio, ele expressa essa vocação: “Não nasceste/ para ser apenas homem./Nasceste para/ter teu nome,/para fazer-te eterno,/para ficar para história./Teu nome não fica/ele é pedra/sepultado no tempo”.
Da relação entre escritor e leitor, outra pérola: “Do lado de lá/alguém acena/e a cena/fica retida/como/menino/brincando com bola/O mundo tem dois lados,/do lado de lá é noite/e o breu exige seriedade./Do lado de cá/fica o poeta/imaginando como/será tua outra face.” O poeta é um descobridor das incertezas da vida, vejam esses versos: ”Certeza/Levo na mala/As bagagens de meu tempo/e vivo nas filas.” No Poema XLIV, o lírico saudosismo: “Sinto medo da saudade/da rua da minha infância/que ficou/esquecida/na imagem de quem/já não lembro./Foram tantos fantasmas/que habitaram aquele tempo/que hoje o mar morto/já não mais assusta/os eus e os meus segredos”.
Em Jauri, como em todo poeta, há a eterna procura do poeta por si mesmo, como no poema L: “Morro na manhã/que arde o sol/com face/de tantos eus/que se perdem/em busca de modelo./Vive o ser humano/a procura do perfeito/como se todos/fossem iguais/quando há/tantos segredos”. Há um lado enigmático e breve, no poema LXIII: “Fio que conduz/minha vida,/tece minha alma/em tua teia/de vidro”. E a procura do Eu persiste, em LXXVII: “Parte do/que desconheço/é verdade/refletida/no espelho./A outra/é incerteza/e busca/incessante/do eu perfeito”. Um poeta de versos sensuais também, em LXXX: “Que a tua parte fugidia/fique presa ao meu corpo./Que o olor de tua pele/entranhe em mim./Para que fique eterno./Que meu sexo morra em ti/para te tornar etéreo”. Um poeta, com domínio do versos, que nos convida pra uma viagem entre o mágico e o concreto. Nascido em Porto Alegre-RS, professor, escritor, ator e poeta, e, acima de tudo, ativista cultural, Jauri tem trajetória poética que lhe dá bagagem para incursões líricas, acima da média. Já conhecia o livro Para os Meninos de Minha Rua , de 1998, e já tinha ficado tocado pela poética de Machado. Concreto Equilíbrio, um exercício de arquitetura verbal e poética para ficar solidamente entre os bons exemplos de fusão entre o mágico e o real.
Observação 1: Resenha acima de minha autoria, publicada originalmente no Jornal Letra Viva, nº 37, edição de junho/2007.
Observação 2: Imagem acima, capa escaneada do referido livro.