quinta-feira, agosto 30, 2007

Nem tudo é o que primeiro parece...

Ontem, pela manhã, depois das atividades de discussão do Piso Salarial Nacional para Trabalhadores em Educação, a ser votado no Congresso Nacional, conversando com os colegas sobre a inclusão (alguns a favor, outros contra em função de questões estruturais), ouvi uma definição ótima da professora Daina e da intérprete Cris, que lidam com alunos surdos: "Deficiência não significa incapacidade". Achei uma definição perfeita, pois o leigo ou o professor que não lida com processo de inclusão de alunos portadores de necessidades educativas especiais (PNEE's) têm a idéia equivocada de que o aluno deficiente - seja mental, auditivo, visual, com problemas neurológicos ou de coordenação motora, etc. - é um incapaz, o que é ledo engano e injusto estigma. Na verdade a deficiência, seja qual for, não incapacita o aluno para a aprendizagem, claro, respeitando sua especificidade. Não queiramos, por exemplo, que um cadeirante, na aula de educação física, faça certos tipos de exercícios que seu organismo não permite. Tudo é questão de bom senso. Mas nada impede que um aluno em cadeira de rodas pratique certos tipos de exercicios e até mesmo esportes. Da mesma forma, os demais alunos considerados deficientes tem limitações físicas ou mentais, que não impedem a aprendizagem. Mas a aprendizagem significativa só ocorre, como disse David Paul Ausubel, "quando o ensino é significativo", seja para PNEE's ou alunos regulares. Trabalhando, desde 2005, em projetos de aprendizagem com o uso da informática na educação especial, percebo que, como qualquer aluno regular, o PNEE tem seu tempo de aprendizagem. A forma de lidar com cegos é diversa da com DM, que é diversa da com surdos, que é diversa com superdotados, e por ai vai. Se levarmos em conta que nem tudo é o que primeiro parece, veremos que o corpo com deficiência é apenas uma embalagem. Conheço pessoas que são belas embalagens vazias, outras que a embalagem é singela e simples, mas pela convivência, descobresse uma riqueza interior fantástica. O grande erro, seja na educação, como na vida em comunidade, é avaliarmos superficialmente coisas e pessoas pelo que elas aparentam à primeira vista. Se não conhecemos, muitas vezes, familiares, amigos, e nem a nós mesmos, como avaliar algo que não se conhece, apenas pelo clássico "ouvi dizer"? Creio que devemos ser contra algo que conhecemos profundamente, e por isso, com cátedra e fundamento, podemos afirmar o motivo de nossa relutância. Agora ser contra pela visão da "ponta do iceberg", convenhamos, é muito cômodo, ingênuo ou inconseqüente. Posso não concordar com o ponto de vista de alguém, mas se ele fundamentar bem, aceito sua opinião, embora diversa da minha. Mas não vejo com bons olhos àqueles que são contra por que "ouviram dizer", por que "um amigo, colega, vizinho disse tal coisa..." Ai, já me parece a brincadeira do "telefone sem fio", do "quem conta um conto aumenta um ponto". Educar é algo sério demais pra se afirmar algo com desconhecimento de causa. Mais do que ter opinião a respeito de tudo, é melhor saber muito sobre uma área, de preferência a que atua, e que ousa a emitir "verdades" para o mundo. Eu nada afirmo, apenas dou minha contribuição, pois me considero um eterno aprendiz, com limitações. A aprendizagem é um processo em aberto e infinito. Se não temos uma visão clara de nós mesmo, jamais saberemos ver nitidamente o Outro...
Observação: Imagem acima extraída da página:
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