sábado, maio 30, 2009

Cinema, Futebol e Educação: a inter e hipertextualidade


Fonte: ww.nfl.com

Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=ExxbEw4yigU


Fonte: www.esportes.ig.com


Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=7_eaFIwG7qs

CINEMA, FUTEBOL E EDUCAÇÃO: A INTER E HIPERTEXTUALIDADE

Por José Antonio Klaes Roig

O que o cinema, o futebol e a educação têm em comum? Por qual motivo podem ser considerados inter e hipertextuais? Creio que a experiência de vida é o fio condutor de qualquer história que é contada, seja ela real ou imaginária. Não creio que alguma história seja de todo inventada. Tudo é intertextual com a vida que se leva, com a percepção que se tem do mundo e da própria vida a deslizar sobre o tempo...
Um exemplo prático dessa teoria pode ser observado no filme The Express, traduzido no Brasil para No Limite (2008)... Não confundir com o bom filme homônimo, com Anthony Hopkins e Alec Baldwin, cujo titulo original é The Edge.
The Express (No Limite) não é apenas um filme bom, é ótimo, e traz uma lição de vida ao seu final...
É curiosa as formas de denominarem os filmes, tanto no Brasil como nos EUA. Lá, fruto de uma sociedade pragmática e competitiva, cada filme tem um título bem objetivo (The Express, baseado em uma história real, remete a imagem do trem no início do filme, quando o jovem e negro Ernie Davis, veloz como um trem expresso foge a pé e correndo muito de seus perseguidores, por conta do racismo).
Aqui no Brasil, o filme foi traduzido por No Limite (já tendo outro com esse nome o que confunde muito), um cacoete que normalmente entrega já no título o segredo da história, como fizeram recentemente com o Foi Apenas um Sonho (Revolutionary Road, título original, ou Estrada Revolucionária, tradução literal), situação que já de cara mata a surpresa do que será contado... Como se o filme Traídos pelo Desejo (The Crying Game, título original), de Neil Jordan, de repente tivesse o título de "Ou Ele ou Ela?", e já tirasse no princípio todo o mistério da narrativa cinematográfica...
Noutros casos, os tradutores, até melhoram o título, como no clássico Giant (Gigante), que passou a ter no Brasil o poético nome de "Assim Caminha a Humanidade", protagonizado pela lenda James Dean.
Por fim, têm filmes como título muito semelhantes, na maior parte assim feitos para iludir ou confundir os espectadores, fazendo-os ver literalmente "gato por lebre".

A "inter" e hipertextualidade entre cinema, futebol e educação...

Voltando ao filme The Express (No Limite), fui assití-lo primeiro com certa desconfiança, não por ser indicação do amigo e colorado (torcedor do S.C. Internacional) Daniel Sales, dono da videolocadora; mas por ter certo receio em pegar filmes que tenham a temática do futebol americano, um tanto quanto incompreensível para um brasileiro, torcedor do futebol tradicional (Soccer para os EUA). Embora o filme Hardball - O Jogo da Vida, com Keanu Reeves, sobre o mesmo tema foi também fantástico.
Voltemos mais uma vez ao filme No Limite(2008), dirigido por Gary Fleder, com o jovem, talentoso e carismático ator Rob Brown, de Encontrando Forrester, interpretando a vida de Ernie Davis que, segundo o portal Interfilmes (Inter de novo!) foi: "(...) o primeiro negro norte-americano a vencer o Prêmio Heisman e mesmo assim impedido de disputar a liga profissional. Ele superou os mais terríveis obstáculos, econômicos e raciais, para se tornar um dos mais rápidos e habilidosos 'running back' do time Syracuse Orangemen. Sob a orientação do técnico linha dura Bem Schwatzwalter (Dennis Quaid), um pai de família obcecado pelo Título Nacional, Ernie se transforma numa verdadeira lenda do esporte universitário. Em meados de 1960 a América estava dividida e à beira de uma guerra civil, com os negros revoltados com as leis racistas impostas de maneira autoritária e Ernie teria de provar a todos mais uma vez que o esporte pode superar todas as barreiras."
Já nas primeiras cenas do filme, quando mostra "O Expresso" fugindo dos perseguidores implacáveis pela linha de trem, remeteu minha imaginação de forma intertextual a figura do jovem negro Taison Barcellos Freda, atacante velocista do time de futebol (brasileiro) Sport Club Internacional, que literalmente deixa para traz seus marcadores implacáveis! Assim como na tática americana de concentrar jogadores no meio e deixar disparar pelos flancos o "running back", tipo Ernie, Nilmar e Taison, as semelhanças não param por ai, pois o esquema tático utilizado atualmente pelo treinador Tite - que não é tão severo como Schatzwalter -, é de deixa 7 jogadores atrás (mais o goleiro), para a fuga do trio veloz: o argentino D'Alessandro pelo meio, e Nilmar e Taison pelas pontas. Nesse 2009, tal tática - que eu não sou muito simpatizante, pois expõe o time à pressão demais, preferindo mais o toque de bola - tem obtido significativos resultados: time com a maior quantidade de gols feitos (mais de 90) na temporada; como o maior goleador, o Taison, com cerca de 23 gols, até esse momento; com uma das defesas menos vazadas (o goleiro Lauro ficou quase 5 jogos sem tomar gol) etc.
Taison tem seu nome em homenagem a outro ídolo do esporte, o boxeador Myke Tyson.
Ernie e Taison vieram de famílias humildes e conseguiram literal e intertextualmente obter reconhecimento e sucesso graças às suas arrancadas velozes e brilhantes sempre direto ao gol ou touchdown. Ambos driblaram o preconceito, a violência, a criminalidade e tudo mais... Até ai já mostrei parcialmente as ligações entre cinema e futebol, a partir da vida intertextual de dois personagens de cara e osso... Falta falar sobre a educação e o que cinema e futebol têm a ver com isso...
Pois bem, em determinada cena, lá pela parte que antecede o final do filme, Ernie Davis, já de malas prontas para o futebol profissional, encontra-se com o seu provavel sucessor na equipe de Siracuse, um jovem que assim como aconteceu com ele, sucedendo outro ídolo da camisa 44, Jim Brown, tem os planos de superar seu ídolo. Davis, passeando pelos jardins da universidade, de repente se abaixa e pega do chão uma garrafa de vidro, aparentemente de refrigerante sem rótulo. E pergunta ao aspirante, algo mais ou menos assim: "O que você vê aqui? Uma garrafa, não é? Mas essa garrafa não tem rótulo. Não queira ter também um rótulo de melhor jogador negro. Eu nunca quis ser o melhor. Queira apenas ser o melhor jogador independente do rótulo que te queiram dar">. Fantástica, incrível, maravilhosa lição de vida.
Se de fato Ernie Davis deu tal lição ao seu aspirante, ou é apenas licença póetica do roteirista e/ou diretor não importa. Essa mensagem que o filme me deixou é o que basta e quero aqui replicar: "Que a gente precisa ser e fazer o nosso melhor, sem se importar com o que os outros pensam ou dizem sobre nós. Tudo afinal é rótulo. Mas o que fica mesmo, além dos rótulos, é a garrafa, ou melhor, o gênio da garrafa. Ai está a inter e hipertextaulidade entre cinema, futebol e educação".
Hipertextual pelos links e hiperlinks que se coloca num textos, como esste post, mas também com os "links" e "hiperlinks" que se faz, com esses insights com nosso alunos e cursistas, mostrando a eles as ligações entre realidade e ficção, entre vida e arte, história e literatura, individualidade e sociedade. Nós não estamos ós, e nossas ações podem ser "links", exemplos para nossos filhos e alunos...
Podemos, sendo professores ou alunos, treinadores ou atletas, atores ou diretores, pais ou filhos legar aos outros nossos exemplos e lições que a própria vida antes nos deu, além dos rótulos...
A inter e hipertextualidade também em minha vida têm sido assim (crio blogs, projetos, atividades, escrevo e reflito a aprtir dos links que faço com meus colegas e amigos, no mundo real e no virtual), trazendo as experiências e os insights que tenho tanto na vida como na arte...
No mesmo dia em que vi Taison voar para cima das defesas adversárias, deixando caídos ou para trás seus duros marcadores (alguns até desleais, como os racistas do filme), vi horas depois The Express (No Limite) e a internacional, ops, a intertextualidade entre cinema e futebol me fez propor essa análise educacional de um filme. Um filme que ao final, até que em função do que foi dito, o título No Limite não ficou tão mal, pois tanto Ernie Davis como Taison Barcellos Freda superaram não apenas os algozes, mas os próprios limites e limitações que a própria sociedade quis lhes impor. Driblaram o futuro nebuloso a partir do próprio talento natural que todos temos para algo, mas nem todos correm atrás de seus sonhos... Dependendo dos pais, treinadores, professores, patrões que tivermos na vida, poderemos ser apenas rótulos que com o tempo caem das garrafas, jogadas ao chão... Ou ser o que acreditamos e corremos atrás disso. A lição que deixarei para meu filho é a minha lição de vida, tal qual a de Ernie e Taison: "Não querer ser o melhor, mas fazer o seu melhor, independete dos rótulos que nos venham dar!"
E para finalizar esta postagem que pretendia ser breve e não foi (risos, para breves comentários deixo mesmo o Meu Twitter), minhas saudações coloradas a todos! E viva o meu Sport Club Internacional, no ano de seu centenário!!! Que ele seja um Expresso até o final do ano!!!

Observação 1: Aos leitores e visitantes do Letra Viva do Roig, sugiro todo sábado visitar ao blog Caldeirão de Ideias onde consta o Projeto Cinema no Caldeirão, onde seu editor, o colega e amigo Robson Freire, do NTE Itaperuna - RJ - Brasil, indica filmes com a respectiva proposta pedagógica de uso na escola.
Observação 2: Vejam acima, as fotos e vídeos, e percebam a incrível semelhança física e de estilo de correr/jogar de Ernie e Taison. Mais inter e hipertextual que isso, impossível. Talvez, se Ernie Davis fosse brasileiro, seria colorado, e se Taison norte-americano, jogasse em Siracuse. Risos.
Observação 3: Do jeito que está a marcação severa dos adversários contra Nilmar e Taison, em breve talvez eles tenham que se transferir pro futebol norte-americano, pois lá pelo menos pode-se usar capacete e equipamento de proteção contra entradas violentas, como tem acontecido sistematicamente com os dois atacantes do Internacional. Lamentável a falta de critérios de certos árbitros de futebol (tal qual certos juízes de direito), permitindo o revezamento de faltas por parte de alguns em detrimento do verdadeiro futebol-arte de jogadores que entram em campo só pra participar de um esporte, enquanto outros fazem disso uma batalha campal. Quem dera isso fosse apenas rótulos...