sexta-feira, setembro 19, 2008
Uma vez, se não me falha a memória (cada vez mais falha!), Millôr Fernandes escreveu que não era apenas no dicionário que a palavra Dever deveria estar antes da Direito... Parafraseando-o, digo que também acontece o mesmo com as palavras Conhecimento e Reconhecimento...
Falo isso, não apenas em relação a questão literária, mas à vida em geral, em que muitas pessoas querem o reconhecimento instantâneo nem sempre tendo o devido conhecimento do assunto tratado.
Hoje, alguns articulistas de opinião parecem saber tudo a respeito de tudo, mas desconhecem a questão básica que o reconhecimento de fato e de direito só advém de um sólido conhecimento prévio, continuado e persistente... Não há ainda nenhuma invenção que nos torne catedráticos em qualquer coisa que seja, senão pelo exercício da leitura de livros e a vivência de mundo... Um complementa o outro...
Como já disse noutras oportunidades, aprendi muito com mecânicos, pedreiros, eletricistas, pintores, etc., vendo seu modus operandi... Na construção civil mesmo, primeiro se faz a sólida fundação do prédio, erguesse os alicerces, depois as paredes, colocando nos primeiros andares tijolos maciços, para nos demais colocar os tijolos furados, para garantir a estabilidade embaixo, e a leveza em cima... Daí, só após garantir essa firmeza, parte-se para o acabamento, que ai sim, deve-se vir, por força da lei da gravidade, da estética e do bom-senso, rebocando e pintando de cima para baixo... Afinal, se começarmos a rebocar as paredes de baixo para cima, quando chegarmos lá no alto, todo o resto estará emporcalhado...
Assim deveria ser a educação, sólida no ensino fundamental, maleável no médio e com um belo acabamento no ensino superior, o que evitaria cotas e outros artifícios, que minimizam as conseqüência de um passado injusto, mas não resolvem a médio prazo as causas de tal distorção histórico-social...
Entretanto, fora as boas intenções de alguns administradores e gestores; outros, com desconhecimento de causa de determinada área, e querendo o reconhecimento a qualquer custo, invertem a lógica da construção civil ou do conhecimento... E ai, logo veremos tragédias em prédios e em vidas mal encaminhadas...
Seguidamente eu faço um exercício de regressão, nada hipnótica, ao meu passado, e lembro como o menino tímido foi alicerçando a sua vida em torno dos tijolos, aliás, dos livros... E curiosamente a pilha de livros e mais livros lidos foram uma espécie de EAD, isso mesmo... Educação a distância, nada de aprendizagem por correspondência ou coisa similar... Muito do que sei hoje, aprendi com os escritores e seus livros mágicos. E minha primeira professora em EAD foi minha mãe... Isso mesmo.
Minha mãe, professora aposentada, mesmo não tendo convivido comigo na mesma casa, foi minha primeira educadora, sempre me emprestando livros e revistas, sempre com uma palavra de incentivo, quando ía visitá-la. Até hoje, morando em cidades próximas, é uma de minhas maiores incentivadoras, minha fã número um. Ela nem tem noção (ih, sem noção?), do quanto seu incentivo e suas palavras me encorajaram a adentrar no mundo da literatura e de lá me aventurar a escrever meus primeiros versos, depois crônicas, contos, novelas... Com ela aprendi a acreditar nos sonhos possíveis, desde que mantendo os dois pés firmes ao chão...
Dona Hildette têm um papel fundamental no que sou hoje, estimulando desde menino o meu interesse pela leitura mais variada possível. Visitá-la desde a tenra idade - já que devido a perda parcial da visão de meu pai, me fez ser criado pelos avós paternos, depois pela tia - proporcionou-me a integração ao mundo da educação a distância. Ironicamente vemos hoje a crise do modelo familiar repercutindo na escola, fruto muitas vezes de pais sem tempo para os seus filhos... Não precisa-se estar sempre junto, desde que saiba quando necessário, estar presente, ainda que a distância...
Hoje, se tenho um reconhecimento pelo meu trabalho em diversas áreas do conhecimento, credito em parte a minha tutora e mãe, que sempre esteve presente no tempo e distante no espaço... Eis uma lição que tento compartilhar com meu filho, quando estou distante, em viagens a trabalho, ou presente em casa, mas com o pensamento distante, conectado às inúmeras atividades on-line ou não... Se reservarmos parte de nosso tempo, por mais ínfimo que pareça para dar atenção a quem amamos, e compartilhamos com estas pessoas o nosso conhecimento, o reconhecimento futuro um dia virá... Pais e professores deveriam ter essa consciência que todos são tutores de filhos/alunos que replicarão no futuro o que lhes ensinaram ou deixaram de ensinar...
Citando Oscar Wilde: "A educação é uma coisa admirável, mas é sempre bom lembrar, de tempos em tempos, que nada daquilo que realmente vale a pena saber pode ser ensinado".
Observação: Imagem acima, extraída da internet, do endereço
2 Comments:
Olá amigo Zé Roig
A minha mãe também foi a minha grande incentivadora e a pessoa que me iniciou no mundo magico das letras. Em minha casa livros sempre faziam parte da decoração da casa. Livros sempre foram a minha paixão e a minha mãe sempre presente lendo para nos ou acompanhando a leitura junto a mim e meus irmãos.
As vezes tenho dito que coincidências não são apenas obras do acaso e sim um plano superior pré definido.
Hoje postei um texto que se chama "Leitura cura tudo". Fantástica leitura e há uma passagem no texto que diz "Leitura cura tudo. E, claro, cura até mesmo o maior de todos os problemas. Cura a própria falta de leitura!" que alias é o grande mal dessa juventude: Falta de Leitura.
Abraços do amigo
Oi, Robson, com certeza, a leitura de mundo é essencial para os leitores de livros e vice-versa. Tenho acompanhado com satisfação o reconhecimento de teu blog, a partir do cochecimento e da informação que ele disponibiliza aos seus leitores. Ter média de 200 ou mais visitantes ao dia não é casualidade e sim reconhecimento de um trabalho sério e competente. Parabéns amigo, é um privilégio poder trocar idéias contigo e ser teu colega e amigo digital. Um abração! Zé.
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