A relatividade do tempo cotidiano...
O tempo não pára!, já dizia o grande filósofo contemporâneo Agenor Miranda Neto (vulgo Cazuza), em prosa e verso (vide clip acima, extraído do YouTube)...
Esse post, que trata da relatividade do tempo cotidiano, foi inspirado em um comentário do colega prof. Marco Costa, durante uma das atividades do Programa de Educação Ambiental do Porto do Rio Grande/ProEA-PRG, semana passada, quando observando a foto de uma ampla vista área da cidade, disse que as duas torres de transmissão de energia elétrica entre os municípios de Rio Grande e São José do Norte, no extremo do Rio Grande do Sul - Brasil, deveriam ter entre 4 ou 5 anos de instalação. Exclamei de imediato: "Capaz, Marcos! É muito mais que isso!" E "rebobinando a fita" da memória, lembrei-me que tinha ido lá na estrada da Barra, de bicicleta com meu irmão, também chamado Marco, para conhecer a obra. Na ida foi fácil a favor do vento, só no embalo, mas a volta, contra o mesmo, foi uma pequena odisséia... Lembro que em 1994 vendi minha bicicleta, quando deixei de morar em casa e fui para um apartamento (ou apertamento, para uns), onde não havia espaço para nós dois (risos). Naquele ano as torres já existiam. Então, lá se foram, no mínimo, 14 anos e não 4 ou 5, como o prof. Marco pensava ser.
Sabemos que o tempo (escolar e cotidiano) na zona rural, sem a mesma agitação da zona urbana, parece andar mais devagar, mas é tudo relativo. Lá os relógios e os cronômetros marcam a mesma quantidade de segundos, minutos, horas, dias, etc... Não é o tempo que passa mais ou menos, mas nossos hábitos e modo de vida que dão essa falsa impressão.
Ou então, estamos sendo "abduzidos" sistematicamente e em larga escala, por alguma conspiração governamental ou de aliens (sic), para termos esses cada vez maiores lapsos de tempo. Apesar de escritor de ficção, nas horas vagas, nao creio nessa hipótese. Até pelo fato de que conheço alguns até são abduzidos durante 6 meses, nos mesmos dias, hora e local, e quando acaba a telenovela, passado um tempo já não se lembro mais sequer do nome da mesma e de seu enredo; ou então são abduzidos por 3 meses, por reality shows, que também mostram pessoas "abduzidas" numa casa "com dezenas de olhos nas paredes (lembrando conto de Edgar Allan Poe) sem nada pensar nem nada dizer. Incrível. Mas tanto em um caso como no outro, não são os aliens os vilões, mas a própria programação de qualidade duvidosa, que dá esses lapsos de tempo e de memória nos tele-espectadores.
Falando em lapsos, eu também às vezes penso que fiz algo ano passado, e o passado foi há 3, 5, 7 anos atrás. Na vida agitada e no modo de vida atual, dias parecem minutos, décadas parecem anos... Ayrton Senna, morreu em 1994, e desde lá nunca mais assisti uma corrida de F-1 completa. Quebrou o encanto, a magia, e claro, nenhum sucessor a altura surgiu. E também já fazem 14 anos de sua partida. Se eu não tivesse associado sua morte à Copa do Mundo de 1994, em que o Brasil sagrou-se campeão de futebol, com Romário, Dunga & Cia, talvez não pudesse precisar com certeza quando tinha acontecido, e tivesse a impressão de ter sido há uns 4 ou 5 anos atrás... Incrível, o tempo não pára! O próprio Cazuza foi embora em 1990, em um 07 de julho (dia de meu aniversário), quase 18 anos atrás. Uma geração inteira não ouviu Cazuza cantar. Mas o tempo é uma concepção humana, uma forma de calcular a transitoriedade da própria humanidade sobre a nave-mãe Terra.
Lendo recentemente, para o mestrado em Letras A poética do devaneio, de Gaston Bachelard, quando ele trata dos devaneios da infância, constatei essa sensação que somos tomados, como na infância, de não poder calcular exatamente o tempo e vincular os acontecimentos que nos marcam a outros eventos que se relacionam. Começamos a criar marcos temporais, quando passamos a nos conhecer por gente: ao entrar na escola, o primeiro amor, o primeiro beijo, a primeira namorada, o primeiro livro lido, enfim... Somos, não importa o tempo vivido ou que vivemos, eternas crianças, que não podem mais calcular exatamente os fatos aos dias, salvo os detalhistas que anotam tudo em seu diário particular. E mesmo esses, que relerem algum tempo depois suas anotações, perceberão que não são mais a mesma pessoa que escreveu aquilo, pois tudo muda. Ainda que vivamos cheios de manias, de fazer o mesmo caminho, pelas mesmas ruas, num itinerário metódico, a cada dia que passa somos a soma de todos os dias vividos e convividos... Da mesma forma, como leitores, não de nós mesmos, mas dos outros, quando lemos livros de terceiros, pela segunda vez, percebemos que o livro e a história ainda são as mesmas, mas o leitor já é um outro passageiro do tempo. Ou como dizia um poeta (xiiii, que esqueci o nome): "mudamos e esquecemos de avisar para nós mesmos..." Às vezes essas mudanças são saudáveis e necessárias, outras vezes, a não-percepção de tais mudanças é um grande entrave a nossa convivência cotidiana (até conosco). Toda vez que vejo um aluno, que era apenas um menino(a) tornar-se um jovem, quase de meu tamanho, já constituindo família, e trazendo seu filho para a escola, percebo que a "abdução" continua, e que o tempo não pára para àqueles educadores que fazem da sua profissão uma vocação.
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