sexta-feira, setembro 14, 2007
Ontem (passado), na aula da disciplina de História da Literatura Brasileira, no Mestrado de História da Literatura (FURG-2007/2008), meu prof. Mauro Nicola Póvoas, nos deu para analisar alguns dos primeiros textos que tratam de nossa literatura. Um deles, em especial, achei por bem comentar hoje (presente), neste espaço que reflete sobre tecnologia e educação.
O referido intitula-se "Nosso Estado Intelectual: Conclusão", e, como o próprio título demonstra, é um fragmento de um trabalho maior, de autoria de José Inácio de Abreu e Lima, que tem uma visão negativa do Brasil, escrito em 1835. Curiosamente, ano incial da Revolução Farroupilha, que é comemorada no dia 20 de setembro (futuro).
Abreu e Lima, refere-se mais de uma vez sobre a educação de seu tempo. Eis alguns fragmentos: (...) porém tudo isto chega tarde para nós outros; já agora temos de carregar com toda a ignorância, que nos legaram nossos pais; cuidemos unicamente em emendar a mão, educando os nossos filhos, e dirigindo-os pelo caminho das ciências e das artes. Preocupação que se assisti inclusive pela TV, de comentarista esportivos, conforme comentou o prof. Mauro. Mas Abreu e Lima continua, ao falar de literatura a discutir o papel da educação e da política. Vejam só mais de algumas de suas críticas ao seu tempo (presente para ele, passado para nós): Entretanto, que esperanças podemos conceber dos nossos estabelecimentos científicos? Que nos digam de boa fé estes fatos encomiadores do nosso saber, o que há de esperar das nossas academias, dos nossos CURSOS, e dos nossos seminários, no estado em que se acham montados? Qual é a escola que promete entre nós um resultado lisonjeiro? Qual a instituição que anuncia uma colheita de homens sábios?
Ressalva seja feita que naquele tempo não existiam as instituições de ensino público nem privado como concebemos hoje. Mais adiante, com sérias e duríssimas crítica a futura República, ele um monarquista convicto, diz: que (...) não possuímos verdadeiro caráter nacional; Que não havendo afinidade entre os interesses individuais, tampouco pode haver interesse geral, fundado na participação de todos na pública administração, porque cada classe ou família quererá a primazia; Que não podendo verificar-se a participação de todos na pública administração, está destruído o elemento democrático, que consiste na igualdade de direitos para todos os cargos da República; Que uma república democrática no Brasil não poderia existir sem degenerar em timocracia, isto é, sem que participasse do mando supremo uma porção de homens de todas as classes para equiparar a desvantagem da nossa heterogeneidade; Que independente da nossa diversidade de famílias, temos ainda contra nós outros a ignorância e atraso na ciência de governo, vindo por este meio a estabelecer-se mui pronto a ação material contra a ação intelectual, a força contra a razão;
No período acima, teria Abreu e Lima profetizado o caso Renan Calheiros, presidente do Senado Brasileiro, em pleno século XXI, envolvido em denúncias e suspeitas, respondendo processo com perigo de cassação, e sobrevivido, às custas de votação secreta? Não creio em premonições, mas em histórias que se repetem a exaustão. Ora como tragédia, ora como farsa, como diria Machiavel, se não me falha a memória. É a força prevalecendo sobre a razão. E em todas as esferas públicas, parece-me. O que deveria ser exceção, tornou-se regra.
E vejam só o mais curioso e emblemático de sua análise sobre as mazelas do Brasil:
Que não sendo justo, nem possível, privar nenhuma classe do direito de elegibilidade, aquela que for mais numerosa será sempre preponderante, e os negócios públicos lhe serão subordinados, assim como os interesses das outras classes.
Curiosa sua análise em 1835, que remete a minha provocação sobre famílias que se apoderam do poder, dos meios de produção, informação e comunicação, como uma Cosa Nostra, e que determinam o que devemos ver, ouvir; o que falar, o que pensar, o que saber... Claro, Abreu e Lima era um homem de seu tempo, analisando e escrevendo em 1835, sobre um Brasil que não existe mais... Passados 172 anos de sua escrita, sua leitura presente parece-nos, paradoxalmente, um tanto antiquada e ao mesmo tempo familiar. Que daqui alguns anos no futuro, nossos filhos, netos e bisnetos não tenham a mesma impressão de nossa época, como podemos ter sobre o tempo de Abreu e Lima e suas elucubrações. Educação deve ser uma preocupação, seja qual for o tempo, eis a grande lição. Parafraseando o cantor e compositor Beto Guedes, em Sol de Primavera: "A lição sabemos de cor, só nos resta aprender".
Observação: Imagem acima extraída da internet, página deviantART.com, intitulada "Down Under", de Aquiel (nome artístico).
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