quarta-feira, maio 09, 2007

Falta cultura digital na sala de aula

Com esse título sugestivo, a revista Nova Escola (www.novaescola.org.br), edição nº 200, março/2007, páginas 15 a 18, conta com uma incrível entrevista concedida a Débora Didoné por Pier Cesare Rivoltella (foto acima), filósofo e especialista italiano em Mídia e Educação da Universidade Católica de Milão, que diz que a tecnologia e seu conteúdo devem fazer parte do dia-a-dia escolar.
Rivoltella, segundo a matéria, visita com freqüência ao Brasil, orientando pesquisas sobre a relação entre jovens e internet do Grupo de Pesquisa Educação e Mídia da PUC-RJ, onde também dá aulas sobre Mídia e Educação, e acompanha pesquisas de mestrado na Universidade Federal de Santa Catarina.
Eis algumas da idéias interessantíssimas de Rivoltella:
- "É a troca da abordagem tradicional - baseada na fala do professor à frente da sala de aula - pelo uso de mídias que favoreçam o trabalho em grupo mais ativo, dinâmico e criativo em todas as disciplinas";
- "Os professores não são formados para lidar com elas (mídias)";

- "As experiências, geralmente, são voltadas para o conhecimento técnico dos meios de comunicação, não o crítico";

Ao ser perguntado de como os jovens se relacionam com as novas tecnologias, Rivoltella respondeu: "Uma das maiores caracterísitcas desse público é o que chamamos de uma disposição multitarefa. Ele responde às mensagens do celular, ouve música no iPod, vê TV e fala com os amigos no Messenger - tudo ao mesmo tempo. (...) Fazer tudo isso simultaneamente é uma característica típica das novas gerações. Por um lado, isso lhes confere uma elboração cognitiva muito rápida. Por outro, acaba deixando-os na superficialidade, pois não dá tempo de se aprofundar nos assuntos".
E quando a pergunta é sobre como a escola se relaciona com esses jovens, disse: "Mal, muito mal. Hoje, as novas gerações estão completamente ligadas à tecnologia e aos meios de comunicação. Elas fazem parte de uma cidade que não é só real mas também digital. E nesse espaço você não é brasileiro nem italiano. Os jovens de hoje são criados numa sociedade digital. Por isso, educar para os meios de comunicação é educar para a cidadania. Daí vem a urgência de a escola se integrar a essa realidade".
Daí em diante, Rivoltella, entre outras coisas comenta que:
- A melhor forma de levar o tema mídia para a sala de aula é como um tema transversal. Alguns pesquisadores defendem a criação de uma disciplina específica, mas já está povado que isso não funciona. Se apenas um professor responde pelo conhecimento da tecnologia e da mídia (como ocorre em muitas escolas que têm salas de informática), os outros tendem a se desinteressar pelo assunto. E, para ser eficaz, esse trabalho precisa ser realizado em equipe".
Segundo ele, pesquisa de 2006 revelou que 18% dos professores italianos só usam a internet para fazer pesquisas. Eles também não debatem com os aluns os problemas culturais ligados às novas tecnologias - ou porque não entendem que isso interessa a eles, ou proque não se consideram preparados para isso. Na escola, a tecnologia ainda é vista como um perigo, não como uma aliada.
- "(...) Os computadores e os celulares deixaram de ser apenas ferramentas de recepção. Hoje, são também de produção. Uma criança pode tirar fotos ou fazer vídeos com um celular e publicá-los na internet. Qualquer um pode editar e produzir conteúdo (...)."
Rivoltella defende a criação de um novo profissional: o mídia-educador: "O mídia-educador é o profissional que tem competências pedagógicas para preservar os valores e a ética necessários na produção audiovisual direcionada ao público infanto-juvenil. (...)"
Por fim, entre muitas respostas instigantes, Rivoltella, perguntado sobre como atuar numa escola sem TV, DVD, computador, disse: "É possível desenvolver bons trabalhos usando meios como a escrita e a fotografia. Até as rádios comunitárias, que são muito comuns no Brasil, podem ser bem aproveitadas em sala de aula".
Quem tiver acesso a essa revista em sua biblioteca escolar, sugiro sua leitura na íntegra, por ser uma entrevista instigante e esclarecedora.