sábado, abril 28, 2007

Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos?


Até hoje, aquela mescla de pergunta irônica, enigma e brincadeira que fazem conosco quando crianças e que fazemos às crianças, quando adulto, permacene: quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? Mais, quem somos, de onde viemos e para onde vamos? Muitas perguntas, poucas respostas. Um claro enigma, diria Carlos Drummond de Andrade, parafraseando o título de um poema e livro.
Claros enigmas existem aos montes no cotidiano. Mas alguns são difíceis de decifrar se usamos linguagem cifrada, criptografada, herméticamente fechada em si mesmo... Conheço pessoas que agem como se fossem mágicos, e todo mágico precisa ter seus segredos. Para esse, parece que contado o segredo e o truque perde a magia... Já, pesando em Educação, creio que a magia é justamente contar o segredo de como uma experiência bem sucedida pode ser repetida à exaustão por utras pessoas ou escolas, pois esse deve ser o segredo do bom educador: se espelhar em exemplos e ser o espelho para o aluno ou o colega professor.
Hoje, pela manhã, depois de alguns meses sem contato, pude conversar via MSN por breves momentos com um grande amigo, chamado Nerocy Miranda Filho. Grande em todos os sentidos! Um homem grande, de quase 1,90cm, e uma grande pessoa, que tive o privilégio de ter como colega por 1 ano, até meados de maio/2005, no NTE/18ªCRE, como coordenador. Eu, naquela época era responsável técnico, e aprendi muito com Nerocy, e também ele me disse que aprendeu muitas coisas comigo, a partir de nossas conversas sobre educação, informática, tecnologia, amizade, etc.
Nerocy e eu corremos muito para que o NTE pudesse hoje existir. Fizemos jantar para angariar fundos para completar a obra do laboratório, carregamos literalmente caixas e caixas de lajotas, pacotes de cimento cola, de rejunte, instalamos as máquinas, muitas tiveram problemas de funcionamento, a verba era insuficiente para a demanda, o espaço era pequeno. Enfim, foi um coleguismo que tornou-se uma grande amizade. Um dependia do outro.
Nerocy elaborou com a profª Jane Degani, da educação especial, o primeiro projeto, parceria do NTE com a EEEF Barão de Cêrro Largo, que hoje é o Projeto de Informática na Educação Especial. Era apenas uma turma de portadores de deficiência mental leve, mas ali começou o embrião do projeto: a semente que gerou frutos. Logo em seguida, ele teve que partir, e após um período, tive que me estruturar para dar continuidade ao projeto, reestruturando-o a minha forma de dar aula, já que cada um tem um jeito peculiar e único de ser. Tive, no início receio de não poder substituir meu colega. Mas com apoio da profª Jane, fui me adaptando a especificidade da turma. Logo, coordenando a parte pedagógica e a técnica do núcleo, ampliei para os alunos surdos, e um ano após (2006), com a vinda da colega Janaina, em conjunto com ela, incluímos nesse projeto os alunos cegos ou com baixa visão. Mas devo muito a Nerocy (e a Jane também) essa oportunidade de trabalhar com a educação especial, onde me realizei como educador e como pessoa.
Lembro que numa 6ª-feira, estávamos os dois compenetrados, cada um numa máquina, fazendo atividades diversas. Era final de tarde e Nerocy, após ler um e-mail, disse: Zé, todo indo embora! E eu: tudo bem, até segunda. Não, tu não tá entendendo, tô indo embora daqui, da cidade, do Estado... E eu: ficasse maluco? O que houve? Explica isso, não tô entendendo... E ele: Zé, eu tinha enviado um currículo e o pessoal me chamou pra entrevista, no Paraná, setor de telefonia. Daí em diante, ele acabou indo e por lá ficou, graças ao seu talento e competência.
Essa postagem, fiz hoje para homenagear, não apenas o amigão Nerocy, mas a todos aqueles que me deram a oportunidade de ingressar em seu mundo e fazê-los parte do meu, que com certeza, contribuíram e muito para eu ser o que sou atualmente.
Nossa identidade é o resultado não apenas do País onde nascemos, dos pais que temos, da língua que falamos, do nome que nos dão, da profissão que abraçamos, da vocação que temos, da família que formamos, da educação que legamos aos nossos filhos e aos filhos de nossos amigos ou de ilustres desconhecidos, que podem um dia ser também grandes amigos...
Nossa identidade é fruto daqueles que vieram antes de nós, e de termos a consciência que por mais que sejamos originais, criativos, inteligentes, esforçados, tudo o que fizemos, o que fazemos ou o que venhamos a fazer é fruto de algo ou de alguém que passou por nossa vida. Por isso, desconfiem sempre daqueles que dizem que fizeram tudo sozinhos, que não tiveram influência de ninguém, que não dependem de ninguém para superar desafios... Super-Homem e Mulher Maravilha só existem na ficção.
Como disse recentemente meu professor Carlos Alexandre Baumgarten, coordenador do mestrado em História da Literatura e titular da disciplina Teoria da História da Literatura: "Para que tenha existido um Machado de Assis, teve que existir antes um José de Alencar. E Alencar não teve um Machado antes dele". Mas deve ter tido algum outro escritor que o influenciará, e este outros antes, e assim por diante até o dia que alguém chegou próximo daquela pergunta inicial que todos fazemos pelo menos uma vez na vida: quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?
Nas aulas de informática educativa, tanto com alunos como com cursistas professores, sempre comento: "Gênios pra mim não foram apenas Einstein, Newton, Da Vinci, Galileu, etc. Gênios foram os homens das cavernas, que não tiveram antes deles um professor, nem um manual de instruções, e mesmo assim criaram a roda, descobriram o fogo, aprenderam a caçar e fazer com o couro dos animais roupas e calçados para sobreviver, e sobrevivendo lá na pré-história nos proporcionaram hoje atingir esse potencial científico e tecnológico; embora alguns presidentes de superpotências pareçam o elo perdido da humanidade - a ligação entre o símio e o homem".
Agradeço a todos que me ajudaram, ajudam e ainda ajudarão nos desafios cada vez maiores que são os de lidar com a educação e a tecnologia. Muito obrigado, mesmo.

Observação: a imagem acima chama-se "The Hatchling", de Matthew Cooke.