domingo, fevereiro 11, 2007

Professor e multiplicador do conhecimento

A atividade do professor é comumente comparada por diversas pessoas, desde políticos, formadores de opinião, pais, alunos, etc ao sacerdócio - e não é por mera coincidência que coloquei a foto ao lado (São Mateus, de Guido Reni, 1622, extraída de um livro gentilmente cedido pela profª., colega e amiga Angela Wortmann) para ilustrar esse comentário no blogue. Porém, com base nesse argumento, que em princípio parece elogioso, o magistério (e, em especial, o público) por anos a fio tem sido visto, tanto pela comunidade como pelo gestor público, como alguém que se dedica voluntaria e desapegadamente aos bens materiais à causa educacional, sem visar lucro. Maior engano é essa falsa imagem e afirmação que alguns tentam imprecar ao professor, que é um trabalhador como outro qualquer, com suas indiossincrasias e seus méritos, mas jamais devendo ser confundido com um sacerdote, um santo ou um salvador da Pátria. Como trabalhador, em sua grande maioria com curso superior e outras qualificações, deveria ser remunerado como tal, como forma de garantir a própria qualidade da educação. O Rio Grande do Sul, por sinal, por anos seguidos vem sendo considerado como a educação de melhor qualidade no Páis... Sempre me pergunto: qual o parâmetro? Se em relação aos demais estados, cada qual em pior situação, será o melhor entre os piores... Ou, se em relação aos países em desenvolvimento, onde o educador é remunerado devidamente?
O Professor, mais que um multiplicador do conhecimento, deve ser um mediador deste, estabelecendo uma forma de comunicação com o aluno, que não seja a do mero "transmissor" versus o "receptor" ou "agente da passiva"...
Recentemente, se não me falha a memória, na primeira semana de fevereiro, vendo matéria de um jornal do centro do país, li duas notícias relativas a educação e a tecnologia, tema principal deste blogue, que não se furta de tratar de questões sociais. Uma das notícias era boa, e a outra, preocupante...
Notícia 1: "Governo (Federal) vai distribuir cerca de 76 mil computadores de mesa para 7.500 escolas de ensino médio que ainda não possuem laboratório de informática. Das 143 mil escolas públicas de ensino fundamental do Brasil, dizia a notícia, apenas 16.792 contavam com laboratórios de informática em 2006, segundo o MEC. No ensino médio, 8.172 estavam na mesma situação, num total de 16.750. A distribuição dos PCs deve ir até julho, universalizando a informatização nas escolas de ensino médio. Posteriormente, devem ser equipadas 126 mil escolas do ensino fundamental, das quais 89 mil ficam em zonas rurais e 25 mil não têm sequer energia elétrica. As máquinas custaram 82 milhões de reais, fazendo parte do Programa Nacional de Informática na Educação (Proinfo), criado em 1997, e que jápa levou 60 mil computadores a escolas do País. Conclui a notícia, com o dado que até 2008, poderão ser equipadas 12 mil escolas rurais de 5ª à 8ª série".
Notícia 2: "O professor Carlos Ramiro de Castro, presidente do Sindicato do Ensino Oficial do Estado de São paulo (Apeoesp), diz que a proposta de distribuição dos computadores pelo Governo Federal é muito bem-vinda, mas somente isso não basta. Diz ele:'-Nós temos de estruturar as nossas escolas para que os alunos possam ter esse tipo de formação. No Estado de São Paulo, por exemplo, embora muitos colégios públicos já tenham computadores. Não há o professor de informática; um profissional habilitado para desenvolver essa atividade com os alunos." Carlos Ramiro destaca outras coisas que também são necessárias: '- A primeira delas é a valorização do profissional, não só no que diz respeito ao salário - que é muito baixo - mas também através de um processo de carreira. A segunda são as condições de trabalho: as salas de aula estão superlotadas e a carga horária dos alunos está muito reduzida. A terceira é a própria infra-estrutura, que inclui, além das salas de informática, bibliotecas, laboratórios, entre outras coisas, mas tudo funcionando, com profissionais habilitados' - finaliza.
Não há como não reconhecer os investimentos feitos em informática, mas também não há como negar a apreensão do prof. Ramiro.
Entretanto, embora em muitos pontos ele esteja coberto de razão, não posso concordar com a questão fundamental que é a informática educacional, do ponmto de vista de ser o professor da disciplina e não um professor de informática a desenvolver projetos de aprendizagem com a sua turma. Claro que o professor de informática será o instrutor e multiplicador do conhecimento básico em informática e das possibilidades da utilização dos multimeios em sala de aula. Todavia, cabe, na minha concepção ao professor regente de classe, além do domínio da turma, o conhecimento básico de informática para atuar diretamente com seu alunado, não delegando a outro sua obrigação. Tampouco sendo o "gerente" do laboratório de informática. A informática é apenas uma ferramenta, podendo ser tão eficiente ou mais como o quadro negro, o giz e o apagador - e como tais acessórios, deve ser encarado apenas como isso, e nada mais...
Cabe ao professor saber utilizar em determinada atividade de sua disciplina o PC, o vídeocassete, o DVD, a televisão, o rádio, etc, como uma ferramenta de qualificação do processo de ensino-aprendizagem; não delegando a terceiros.
Como citei no início deste texto, que esperava ser breve, mas acabou não sendo: o professor deve ser mais que um "transmissor" do conhecimento, e sim um multiplicador e mediador, incentivando o aluno a atuar no ambiente escolar de uma forma mais participativa do que a de mero "receptor passivo" da informação trasmitida. A educação deve ser sempre emancipadora, a partir do próprio professor emancipado de seus receios e limitações.