terça-feira, janeiro 30, 2007

A vida imita a arte


Documentário na TV a cabo, sob o título Reportagens Investigativas (A&E Mundo), analisou o fenômeno dos crimes copiados do cinema.
A reportagem fazia um inventário de filmes que influenciaram direta ou indiretamente pessoas, psicóticas ou com problemas de relacionamento, a cometerem crimes quase idênticos aos espelhados na tela do cinema. Dizia a matéria que nos primórdios do cinema, quando surgiu o filme Assalto ao Trem, os roubos aumentaram; que os filmes de gângster incentivaram o crime organizado; que o faroeste estimulou o porte de armas de fogo. Que Taxi Driver, de Martin Scorsese, mostrava a figura do assassino solitário, e que, John Hinckley Jr., que tentou matar o ex-presidente Ronald Reagan, declarou ter sofrido influências da película. Que Assassinos por Natureza, de Oliver Stone, teve quase 10 crimes relacionados a ele; Até as Últimas Conseqüências, influenciou um assalto a banco; O Corvo, fez 2 jovens provocarem incêndio; Robocop instigou um crime; como também Retrato de Um Assassino, de John Mac Naughton. Sem falar em Matrix, e os tiroteios em escolas públicas americanas.
Quando houve atentando ao metrô nos EUA, no lançamento de Assalto sobre Trilhos, os policiais que investigaram o crime disseram ter a impressão de estar no set de filmagens, tal a similaridade do atentado com as cenas do filme. Julia Phillips, produtora do filme Taxi Driver, chegou até a dizer que talvez seja a sociedade má influência aos filmes. Pode até ser, já que vivemos num mundo violento e os noticiários são reflexos do que vemos nas ruas. Alguns dizem tratar-se de tática de advogado - culpar um filme - para defender seu cliente. Tanto que até filmes inocentes já foram acusados de influenciar crimes. Um assunto polêmico por si só.
Psicólogos recomendam a aproximação dos pais com os filhos, sejam delinqüentes ou não, e da importância de modelos positivos de comportamento, e das influências negativas sobre a juventude. Que o crescente número de horas de exposição às telas (micro, TV, cinema) e aos jogos violentos, proporciona um distanciamento das reais conseqüências dos crimes. Estudos americanos indicam que o jovem quando chega a idade adulta teve uma exposição média a 4 mil assassinatos e 2 mil situações violentas, desde a programação televisiva à realidade das ruas.
Segundo o agente do FBI, John Douglas, filmes influenciam desequilibrados abaixo da linha de inteligência; que a mídia não cria, mas pode estimular aqueles que já estão predispostos à violência e ao crime; que deveria haver um monitoramento do tempo que as pessoas passam em frente das telas, com acompanhamento familiar – já que muitas famílias desoneram-se da responsabilidade, tipo Apertem os cintos, o piloto sumiu! Uma família estruturada não mata após assistir ao filme Rambo. Douglas foi consultor do filme O Silêncio dos Inocentes, de Jonathan Demme, que tinha como personagem o assassino em série Hannibal Lecter. Um crime também chegou a ser associado ao filme.
Há que, desde cedo, a família intervir e mostrar a distinção entre fantasia e realidade. De acordo com a reportagem, o filme Scarface, quando estreou, provocou o comportamento espelhado, fazendo que muitos jovens procedessem como a personagem central, vivendo em excessos. Muitos jovens impedidos pela família de namorar já imitaram Romeu e Julieta. Em 04/6, uma telenovela mostrou mãe ensinando filha como agarrar marido rico: furar a camisinha! Ficção perigosa em tempos de Aids.
Noutra época ocorreu polêmica entre o então governador do RJ, Leonel Brizola, e rede de televisão do país, que supostamente acusara-o de ser tolerante com a violência e não reprimir o tráfico de drogas nos morros cariocas. O ex-líder da Legalidade - que propiciou João Goulart, assumir a presidência, em 1961, após renúncia de Jânio Quadros -, contra-atacou: relacionou todas as situações violentas, veiculadas pela empresa, durante um mês, desde desenhos animados, noticiário, novelas, etc., usando o feitiço contra o feiticeiro. De lá pra cá, a violência real e a virtual aumentaram assustadoramente, a ponto de não sabermos se a vida que imita a arte ou é justo o contrário. A resposta: parece bala perdida.

José Antonio Klaes Roig
Obs. 1: Texto publicado no Jornal do Norte, de São José do Norte-RS, em 14/07/2005, que por tratar da mídia e, em especial, a televisão, resolvi postar no meu blog.
Obs. 2: Colagem de minha autoria, realizada a cerca de uns 7 anos atrás, como forma de terapia ocupacional.