Como vidro em conserva
Todos já ouviram dizer sobre o poder da imagem, que vale por mil palavras.
Recentemente vi estampado numa padaria um desses cartazes elaborados pelo Ministério da Saúde, que adverte para os males do tabaco, com a seguinte mensagem: "fumar pode causar aborto espontâneo". Tal mensagem pode ser impressa e distribuída gratuitamente sem causar nenhum efeito no fumante inveterado. Mas, a divulgação da imagem (num maço de cigarros) de feto abortado, mantido dentro de um vidro, que lembra vagamente esses produtos em conserva, é a demolidora constatação dos efeitos negativos do fumo. Tal publicidade impositiva lembra os próprios cartazes distribuídos no início do século XX, pelo médico-sanitarista Oswaldo Cruz, quando de sua campanha pela vacinação maciça da população do Rio de Janeiro e do Brasil, utilizando-se de imagens fortes, pela forma direta, visual e impactante, na busca da conscientização da população dos males à saúde. Talvez, aí a comprovação de que para que campanhas institucionais funcionem, o cinema e as artes visuais são aliados mais contundentes do que a palavra. Na Educação, também, o desafio é saber lidar com a geração da Imagem e do Som.
Desenvolvo projeto de aprendizagem, através de especialização à distância sobre tecnologia educacional, cujo tema que abordo é: "A televisão pode ser uma aliada da educação?". Tenho coletado vários dados, desde a programação, como a forma de televisão (a cabo, aberta, educativa, comercial, pública e privada) e as maneiras de entretenimento e aprendizagem. Penso que, apesar dos pesares, a TV pode auxiliar ao professor e ao aluno, desde que usada com critérios.
Discuto os avanços tecnológicos (TV digital, etc) sem o acompanhamento equivalente da programação, ainda calcada em índices de audiência, e a exploração do sensacionalismo, da "espetacularização da vida" e da banalização da violência, sem a devida autocrítica. Analiso o papel do jovem e do aluno em geral frente a um modelo consumista, que prioriza o sentido mercadológico, em detrimento do educacional. Disponibilizo diário virtual (http://letravivadoroig.blogspot.com), e lá tenho postado e recebido contribuições de interessados em tecnologia, educação e cultura. Nele estão postados artigos, sugestões bibliográficas, links (atalhos) para outros blogues educacionais, fotos e imagens variadas.
Todo telespectador diante da TV tem duas posturas receptivas: ativa e passiva. O receptor ativo é aquele que observa e compara o noticiário de mais de um canal, que debate com a família, os amigos e no trabalho, sobre os temas veiculados, tendo postura crítica e analítica das artes e fatos mostrados. E não aceita todo "artefato" produzido como sendo informação fidedigna, e a contextualiza. Já o receptor passivo é quem tem na TV e no rádio as únicas formas de informação. Por falta de poder aquisitivo ou alienação, não lê jornais, revistas, nem acessa à internet. Tem como verdade única tudo que é noticiado. Assiste ao telejornal à espera da telenovela. Dá boa noite ao apresentador do noticiário, confunde o ator com a personagem da novela e não separa o falso do verdadeiro, entre a tela envidraçada da TV e o mundo lá fora. Enfim, é aquele que recebe o sinal, mas não reflete sobre este.
Como num vidro em conversa, alguns telespectadores vivem como peixes num aquário, sem a noção de que o local não é mar aberto, e sim espaço limitado. Votam nas personalidades da TV para cargos eletivos, desconhecendo o passado social do candidato e seus projetos. Novela após novela, como vidro em conversa, esses usuários permanecem a assistir aos folhetins eletrônicos, que em determinado horário, o humor torna-se besteirol; pois a trama é feita com o propósito de continuísmo de uma fórmula que deu certo, pela própria repetição continuada. Basta perceber que na Novela das Sete o protagonista, seja qual for o enredo e o ator, vive sem camisa, ainda que a trama não seja sobre índios, selva, etc. Porém, segundo dados atuais, tais novelas, que eram campeãs de audiência aqui e no exterior, em ambos os locais, vêm perdendo receptores passivos, talvez, fruto dessa fórmula vitrificada, que já não convence mais.
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