Livro didático
Mesmo de férias, sempre estou com um livro ou mais nas mãos, além de revistas e jornais emprestados por minha mãe. Ela, a dona Hildette, por sinal, é a grande responsável por eu ter me tornado, primeiramente um leitor inveterado, depois um escritor... Desde menino, minha mãe sempre franqueou livros, jornais, revistas. Fui criado por meus avós, devido ao acidente que provocou o descolamento da retina de meu pai, o artista plástico Zeméco (http://olharvirtual.blogspot.com)... E o que era para ser passageiro, tornou-se permanente. Mesmo assim, mantinha contato com meus pais. E a visita a casa deles era como ir a uma bliblioteca, cheia de novidades. Minha bagagem cultural vem desde prosaicos albuns de figurinhas, revistas de HQ até dicionários e enciclopédias ilustradas que eu adorava passar os olhos, quando garoto. Em especial, tinha dois dicionários ilustrados, pertencentes ao meu avô paterno Américo Segundo Roig, que foi farmacêutico e funcionário público, que me chamavam muito a atenção. Os dois datados das primeiras décadas do século XX. Um era sobre temas universais e outro sobre medicina, com ilustrações do corpo humanos. Aprendi cedo mais coisas que um garoto de minha idade saberia, graças a essas viagens ao imaginário, através de páginas ilustradas destes dois dicionários, que ainda encontram-se sob a guarda familiar.
Mas o que me fez postar esse comentário, com o título LIVRO DIDÁTICO em meu blog, foi certa indignação ao ler a matéria batizada de "A Didática da Esperteza", publicada na Revista Isto É, de 20/12/2006, às págs. 56 a 58, onde, já no subtítulo da matéria diz que: "Prefeitos encaixotam livros escolares cedidos pelo MEC em troca de um sistema de apostilas caro e de qualidade duvidosa".
É impressionante como alguns governantes em nosso país conseguem subvertem a ordem natural das coisas, fazendo do improvável um rentável caminho particular, lesivo ao interesse da comunidade e da educação nacional...
Entre os dados apresentados, consta que "a prática, que começou em São Paulo, ameaça se espalhar para outras regiões do País". "No Estado de SP, 129 municípios decidiram deixar de lado os livros gratuitos oferecidos pelo Ministério da Educação (MEC) - um benefício garantido pelo governo. No lugar deles, optaram pelo controverso e caro sistema apostilado de ensino em suas escolas de educação fundamental, a que vai da primeira à oitava série. Com isso, passaram a gastar uma grande parcela dos recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundef) e provocaram insegurança em pais e alunos. Isso porque as cartilhas não são submetidas a qualquer tipo de controle e avaliação do Ministério da Educação".
Pior que isso, tais apostilas contém erros crassos, como identificar num mapa a Antártida onde consta o território da Groenlândia, numa inversão de pólos e de informação... Além disso, o estreito de Bering aparece grafado como Berning, etc. Erros grosseiros que levam a confusão do alunado.
Por mais que tenham justificativa, vem a minha mente o ditado popular: "não se deve trocar o certo pelo duvidoso"; ainda mais quando este é caro e cheio de erros. A não ser que existam "mais coisas entre o céu e a terra que possam vislumbrar nossa vã filosofia" e pedagogia também, parafraseando William Shakespeare.
Quando alguns prefeitos reclamam da falta de recursos para uma educação de qualidade, e ficamos sabendo que existe material de ótima qualidade e sem custos, depositados em galpões, para que sejam "desovados" materiais apostilados, provavelmente, superfaturados, ficamos temendo pelo próprio futuro da educação... Sabe-se que o segmento de ensino apostilado no país é um milionário mercado.
Segundo a matéria: "Os números do negócio em Taubaté impressionam. Por um contrato de três anos, a gestão (...) vai pagar à editora a quantia de R$ 33,4 milhões Anualmente, serão gastos R$ 11,1 milhões. Dividido esse valor pela quantidade de estudantes da rede de ensino infantil, fundamental e da educação de jovens e adultos (38 mil pessoas), chega-se a R$ 290 gastos anualmente por aluno. É uma conta alta para os cofres públicos. Para verificar isso, basta comparar esse dados com os do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Em 2007, o PNLD fornecerá 102,5 milhões de livros. No total, o governo federal desembolsará R$ 456,7 milhões. Ou seja, são R$ 4,50 por estudante ao ano. Feitos os cálculos, descobre-se que o ágio em Taubaté beira os 300%". Faça-se uma auditoria em outras prefeituras com essa mesmo situação, e os valores aumentarão.
O que prova que recursos existem, mas são muito mal aplicados por certos gestores públicos, com um interesse privado fora do comum... Denunciar esses e outros incidentes aos órgãos competentes ainda é a melhor solução.
1 Comments:
2015-10-14 xiaozhengm
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