sábado, outubro 28, 2006

A pedagogia do exemplo

A PEDAGOGIA DO EXEMPLO

Passado o período eleitoral, na política e na educação, com a eleição dos governantes e de diretores escolares (em mais de 400 municípios e 3.000 escolas públicas estaduais do RS, respectivamente), e há que se - observando o papel pedagógico do exemplo de ambos - buscar entrecruzamentos e distanciamentos entre políticos e educadores.
Quando se fala em educador a primeira imagem que a população comumente tem é a do professor com giz, apagador e quadro negro numa sala de aula, sem levar em conta que os primeiros educadores na vida da criança são seus pais ou responsáveis.
Antes do surgimento das primeiras escolas públicas e privadas, era atribuição da família a alfabetização e a instrução dos filhos, muitas vezes, contratando os chamados tutores de ensino, que iam à casa do aluno ou este se locomovia à residência do professor particular. Posteriormente, o ensino passou a ser centralizado e institucionalizado pelo Estado, contratando os professores e determinando: conteúdo ministrado, carga horária e dias letivos. À mulher cabiam as tarefas do lar, a igreja e depois a escola. Formatura solene, com a presença do prefeito, saindo até foto no jornal. Conforme pesquisa da pedagoga Milena Loureiro, ocorre a feminização (questão de gênero, da mulher entrando no mercado de trabalho) e a feminilização (características femininas) do Magistério, ditas pela sociedade. Ainda hoje, mais de 80% do corpo docente é composto por mulheres. Gênero e educação, tema amplo e universal.
Hoje, de forma inversa ao que ocorria às gerações passadas, os primeiros passos educacionais não ocorrem mais na família (ausente e/ou omissa por causa do trabalho) ou na escola (cada vez mais cobrada pela sociedade, além de sua competência instrucional), mas através da televisão, que entra na vida das crianças pelos desenhos animados, jogos, seriados, músicas, e toda produção para o público infanto-juvenil. Programação com o conteúdo mais mercadológico (do vender qualquer bugiganga com estampa dos ícones do mundo pop) do que pedagógico.
A própria escola, dentro do processo de Gestão Democrática, que pressupõe a participação de todos os segmentos escolares (professores, funcionários, pais e alunos), tem pontualmente proporcionado situações que lembram à política, no que ela tem de menos exemplar. Alguns gestores, apegados ao cargo e às vantagens financeiras advindas, nem tão vantajosas assim, se perpetuam no poder, que nem alguns políticos. Sem participação popular, CPM, grêmio estudantil e conselho escolar são mais referendadores de decisões do que propositores de projetos. A própria sociedade não participa ativamente, dizendo-se sem tempo para saber do rendimento e da conduta de seu filho no ambiente escolar. Quase 80% das escolas públicas estaduais da região sul do RS tiveram candidato único. Imagine-se além da escola, país, estado, município, até mesmo time de futebol, condomínio, sindicato e associação de bairro sem o contraponto. Perde-se o referencial e a identidade. Viver em comunidade requer participação e decisão da maioria dos integrantes. Há que se fazer justiça aos eleitos, ainda que candidato único, devido à competência e/ou a falta de interessados em assumir tamanha responsabilidade na administração, não apenas dos conteúdos pedagógicos e da falta de recursos humanos e financeiros, mas do trágico resultado do modelo familiar em desestruturação gradual, que desemboca na sala de aula.
Após cada eleição, o troca-troca dos ex-candidatos de partido lembra o de alguns servidores nas escolas, que alegam sentirem-se persona non grata no local de trabalho, após a derrota da chapa que apoiaram; denunciando a suposta apropriação da coisa pública por poucos, como se fosse privada. Alguns gestores (na educação e na política) não perceberam o significado e a significância de a escola ser o reflexo da sociedade familiar desestruturada, e não o contrário. A pedagogia do exemplo requer, entre outras, que quem exija direitos, cumpra primeiro deveres e que toda crítica formulada traga em si uma autocrítica, para não seja repetido o ditado: Faça o que eu digo, não faça o que eu faço.