terça-feira, outubro 10, 2006

Auto-Escola e o trânsito da informação

Obs.: foto acima encontrada no site português 1000imagens,
intitulada De partida, de autoria de José Marafone, considerada arte digital.

Com base no questionamento da colega Márcia Ferron, de uma das atividades do Proa4, da especialização em Tecnologias da Informação, pude pensar mais detalhadamente sobre a pergunta teórica a partir da prática no laboratório do NTE, do qual sou coordenador.
A pergunta está subdividida em várias questões, mas o ponto principal trata de: "como o educador pode indentificar que o processo educacional está gerando aprendizagem? como se utilizar o métido clínico piagetiano (que pressupõe largo domínio sobre a técnica de observação do alunado apontando metas) e quais as dificuldades em sua implantação? Como identificar que o aluno está participando da contrução do conhecimento? Como utilizar o método clínico de Piaget num laboratório de informática? E, por fim (ufa, parece um questionário! desculpe-me a brincadeira... Risos), como se pode trabalhar com classes heterogêneas atendendo as dificuldades individuais...
Na minha opinião, de quem está aos poucos se debruçando sobre o método clínico, que não tinha conhecimento, este método é uma sondagem para avaliação das possibilidades de atuação do educador a partir da visão de jundo do alunado.
Não é, no meu leigo entendimento, um processo de aprendizagem propriamente dito, e sim de conhecimento ou re-conhecimento do professor sobre o universo de seus alunos. E com base nessa sondagem é que se deve desenvolver processo de aprendizagem.
O domínio do método requer conhecimento de si (pelo educador, professor etc), antes de praticá-lo com terceiros para que os resultados obtidos sejam nítidos e objetivos sem influências dos próprios conceitos, pré-conceitos ou pior, preconceitos, do avaliador em relação ao avaliado... Digo isso, pois se temos a idéia equivocada que PNEEs (portadores de necessidades educativas especiais) são pessoas especiais ou limitadas, quando na verdade se cegos, surdos e com problemas mentais, são pessoas normais que tem necessidades espciais, como qualquer outro, estaremos "contaminando" nossa pesquisa com um pré-julgamento...
Nós podemos perceber que as atividades estão gerando a contrução do conhecimento quando o aluno participa diretamente da descoberta geradas pelas próprias dúvidas, com a mediação do educador...
Num laboratório de informática ou numa sala de aula convencional a abordagem pode ser a mesma, os recursos sim, serão diferenciados... Somente o ambiente é que muda, mas o agente e o sujeito do processo de aprendizagem são os mesmos. A forma de utilização do espaço que é diferenciada. Mas, se pensarmos em falar de literatura dentro de uma biblioteca, penso ser a ideal, do que numa sala de ala ou laboratório de informática. Dar uma aula de ciência na horta escolar, ou numa praça pode ser tão interessante do que numa sala com quadro negro, giz e apagador, como com vários computadores interligados a internet. Como sempre digo: não importa tanto o veículo, mas sim o caminho que se faz entre a informação e o conhecimento; entre o conhecimento e a aprendizagem. Claro que determinados alunos seguem direto, outros necessitam paradas em algumas "estações"...
Por fim, creio ser possível atender as dificuldades individuais numa classe heterogênea através da cooperação mútua, professor-aluno, aluno-professor e aluno-aluno...
Primeiro, abordando o conteúdo da forma mais simples e percebendo àqueles que tem maior ou menor rendimento ou assimilação.
No segundo momento de avaliação, quando o grau de entendimento e de complexidade do tema vai aumentando (e isso pode ser numa sondagem inicial antes da apresentação da disciplina propriamente dita, ou durante ela) pode-se agrupar os alunos mais desinibidos juntos aos alunos que tem maior dificuldade na aprendizagem e timidez, fazendo-os atuar em grupos... Evidentemente, com exceção do dia da prova de conhecimentos, que deverá ser individual...
Nos demais dias, pode-se fazer uma ambiente de aprendizagem coletivo ou por agrupamento. Nada de um atrás do outro em fileiras... Em grupos de dois (o ideal) ou mais, haverá o auxílio mútuo, pois provocará a interação e a troca de experiências... Os alunos desinibidos muitas vezes atuarão como monitores sem perceber... Aqueles que tem um senso de liderança serão estimulados... O hovem desenvolve seus próprios códigos, inclusive no que tange à aprendizagem. Vemos bem isso aqui no NTE, cm os alunos surdos quando interagem entre eles e criam suas próprias gírias... como qualquer alunos regular... E quando convivendo integrados a alunos ouvintes, estes aprendem as LIBRAS - linguagem brasileira de sinais, muitas vezes atuando informalmente como nossos intérpretes, haja visto que nem eu e Janaína (minha colega e multiplicadora) ainda aprendemos a Libras, apenas alguns sinais... Dependemos da intérprete voluntária Ivana, que é surda, e/ou das professoras Cleusa, Graciema e Daina, que são da educação especial e parceiras de nosso projeto de informática na Educação Especial.
Com os alunos cegos e com baixa visão seguimos o mesmo caminho, com o apoio de Luize e breve de Luana, que são voluntárias e cegas, que nos ensinam a como lidar com o programa Dosvox (que identifica os caracteres do teclado por um comando de voz). A desenvoltura deles e a capacidade de memorização do teclado em pouco tempo para nós é fantástica... Fabio (12 anos), aluno que nunca teve contato com um computador, cego de nascença, memorizou a maior parte das teclas na primeira aula. Um menino que tem uma alegria de vida incrível e que adoro hip hop, pagode, e contar piadas do Paulinho Mixaria.
O "cego, o surdo e o mudo" nessa história são aqueles que imaginam as pessoas portadoras de necessidades especiais como alguém incapacitado, quando na verdade é alguém diferente e com algum limitação dos sentidos apenas...
No laboratório do NTE utilizamos muito dessa técnica de compartilhar experiências, convidando o aluno mais desembaraçado a atuar em conjunto com aquele que tem maior dificuldade ou timidez, dois por máquina, formando uma dupla, uma equipe, tipo piloto e navegador. Até pelo fato que dependemos de todo apoio voluntário, no aguardo de Recursos Humanos que estão se capacitando para atuarem conosco. Como numa auto-escola, em que o que melhor domina a máquina auxilia aquele que enfrenta dificuldades, e ambos aprendem juntos aos conteúdos que são apresentados a cada aula. Dessa forma geramos conhecimento mútuo e aprendizagem de trabalho em equipe, até pelo fato de que tanto eu como Janaína, em algumas situações com os alunos especiais, nós é que aprendemos como eles, de como lidar com as situações imprevistas, com muita intuição, bom senso e despreendimento. O educador vai mostrando os conteúdos que serão desenvolvidos e os alunos vão aprofundando a pesquisa, compartilhando as descobertas... Nada de ficar todo mundo "sentadinho" na sua cadeira sem poder levantar, salvo com a autorização do professor... Claro, desde que estabelecendo critérios de respeito e colaboração.
Como sempre digo também: "não há projeto de trabalho com resultado satisfatório se ele não faz parte de teu projeto de vida também".
Bom, como a pergunta foi extensa (mas bem interessante, proporcionando essa abordagem ampla) tive que me extender também na mesma proporção.