segunda-feira, novembro 19, 2007

Entre o MPB 4 e o Mp5

Hoje pela manhã, em função de terminar o levantamento anual sobre o patrimônio do NTE, tive que transferir as atividades do projeto de informática na educação especial, turma da profª Jane e da profª Isabel, respectivamente, alunos portadores de deficiência mental e de altas habilidades/superdotação, em que após a primeira fase desta 3ª edição, trabalhamos com o software Hagaquê, de construir histórias em quadrinhos e agora estamos na fase de descoberta do software Klik and Play, que permite três opções: jogar, alterar o jogo e/ou criar um novo, adicionando fundos, personagens, movimentos, pontuação, fases, etc. Como já comentei inúmeras vezes neste blog, o Klik and Play foi fornecido dentro da oficina de contrução de jogos educacionais, que participei na especialização em tecnologia educacional (Ufrgs-2006/2007) - aguardando prazo para defesa do TCC.
Estamos por enquanto, no projeto, com a questão do jogar as 14 opções de jogos, alguns que lembram os arcades, dos console tipo Atari e assemelhados. Como coloco para as colegas e parcerias deste projeto de inclusão educacional, digital e social - as professoras responsáveis pelas turmas 11 turmas e cerca de 80 alunos envolvidos - o importante não é a tecnologia pura e simplesmente adicionada ao cotidiano do professor e seus alunos, mas o significado que essa integração pode proporcionar a ambos. No caso do Klik and Play, o jogo é o de menos, se está ultrapassado, se comparado com os de última geração, ou não. O importante é a possibilidade de alterar os existentes, adaptando às situações da vida escolar, ou melhor ainda, criar um novo jogo, em que possam ser inseridos conteúdos e competências de cada área de ensino, seja na educação especial ou no ensino regular.
Mas, o que me levou a dar o título de "Entre o MPB 4 e o Mp5" a esta postagem, foi ouvir o CD da colega Dulcinéa, com a coletânea de Raul Seixas, o Maluco Beleza, com clássicos dos anos 1970, quando o grupo vocal MPB 4 fazia sucesso na TV e rádio de nosso país, e que hoje quase não é lembrado ou conhecido pela maioria dos usuários dos aparelhos de mp3, mp4 e mp5, em sua maioria jovens; que sequer eram nascidos na década de 70, quando iniciei os estudos formais, e tive minha primeira TV, em preto e branco, marca Empire (como já comentei noutra postagem). Antes de saudosismo, a constatação de que a tecnologia tem avançado e muito, mas a qualidade da programação musical ou televisiva não tem acompanhado esse avanço de forma proporcional. A não ser na questão de cantores e cantoras de playback, que dublam a si mesmo, e que em shows ao vivo são uma decepção. O MPB 4, para quem não sabe disso, cantava e encantava com a força de sua harmonia vocal e os belos arranjos para clássicos da música popular brasileira (daí a sigla MPB), de Elis Regina e Chico Buarque a Vinícius de Moraes e Tom Jobim, entre outros tantos. Naquele tempo o mais "desafinado" era João Gilberto, reconhecido internacionalmente. Hoje, aos Brit da vida, bastam rebolar e gemer, pra veñder milhões. Saber cantar não é tão necessária assim. Hoje, os sucessos das baladas ou raves são tão descartáveis como os equipamentos de última geração, que em seis meses de uso são trocados, ou por um mais "avançado" ou por outro de melhor qualidade, visto que a descartabilidade nem sempre é apenas pela questão tecnológica e sim pela qualidade duvidosa desses brinquedinhos eletrônicos.
Não querendo ser saudosista número 2, esse fim de semana, olhando com meu filho e esposa alguns brinquedos em um supermercado aqui da cidade, conversei casualmente com duas mães que comentaram comigo o que já havia dito aqui neste blog: Na nossa época de criança os brinquedos não tinham nenhuma sofisticação,e a tecnologia era algo restrito aos meios acadêmicos e grandes corporações. Não havia videogame, brinquedos eletroeletrônicos. Mas éramos mais felizes construindo nossas bugigangas, como carrinhos feitos de latas de leite em pó, cheios de areia, e unidos por arame e puxados por cordão ou barbante, como se trenzinhos fossem. Construíamos pipas ou pandorgas, usando noções de aerodinâmica, sentido dos ventos, geometria e tudo mais. Ao invés dos famosos carrinhs colecionáveis Hot Wheels, inventávamos carros com madeira e lata de óleo, tipo Mavericão; se no Natal, Dia das Crianças ou no aniversário não ganhávamos o presente desejado, não entrávamos em crise existencial, nem fazíamos escândalos; éramos felizes com tão pouco, e todos, invariavelmente, nos vestíamos como crianças, pensávamos como crianças, assistíamos desenhos animados instrutivos e tínhamos uma doce ingenuidade que não volta mais. Hoje, as crianças ao invés de construir seus próprios brinquedos, desconstroem os de última geração com a maior facilidade sem dar valor ao esforço para sua aquisição. Tudo banalizou, e a tecnologia, neste ponto, também tem a sua contribuição positiva e negativa, ora popularizando os sonhos de consumo, ora banalizando a violência em jogos mortais incorporados ao nosso cotidiano e aos telejornais. Entre o MPB 4 e o Mp5, mais que uma geração, um novo modelo de civilização tem mudado o mundo inteiro. Os reflexos estão a nossa volta. Cada um faça por si só a sua reflexão... Eu prefiro - toda vida e mais 6 meses - a convergência da tecnologia aliada a música e a programação televisiva de boa qualidade. Que venha a TV digital e com ela uma grade de programação sem tantas caras e bocas, pernas e peitos. Mas com um caráter educativo e comunitário. Como gosto de dizer: pode-se mudar nosso particular através do universal e vice-versa.