domingo, setembro 23, 2007

Educar é professar a fé em algo e/ou alguém...

Hoje, domingo chuvoso, ao abrir minha caixa de correio eletrônico recebi uma de várias mensagens com apresentação de slides. A maioria sequer com um uma mensagem do próprio remetente, encaminhando um texto, o que me deixa às vezes frustrado, pois sempre gosto de ter um contato com as pessoas e não apenas receber mensagens de terceiros...
Porém, neste domingo, recebi uma bela apresentação de slides, intitulada "Professores Apaixonados", encaminhado pela colega Catia da Rocha, professora com 33 anos de magistério, que como bem escreveu, trocou apenas de paixão: ou seja, de escola. Mas continua, como bem escrevi a ela: "professando a fé em algo e/ou alguém". Um dos grandes fatores da educação, mesmo com poucos recursos humanos e financeiros, ainda acontecer de fato, apesar de tudo que ouvimos e assistimos, é por causa da abnegação de muitos professores, como Cátia, que mesmo com tempo para aposentadoria, não aposentam a idéia de professar sua fé na educação, no educando e na própria sociedade civil. Parabéns a Cátia e a todas aquelas pessoas que são apaixonadas pelo que fazem, professores ou não... Fazendo o seu melhor, independente de serem reconhecidas ou dignamente remuneradas ou não... E que não contam apenas o tempo de serviço, como outros mais. Vejam abaixo o inteiro teor do texto, que veio sobreposto a belas imagens de educadores e educandos. Continuemos a professar a fé no homem e não apenas na máquina, nesses Tempos Modernos, em que cada vez mais vemos que a inteligência artificial é uma busca constante de alguns cientistas... Apesar de recorrente nesse blog, insisto que: devemos fazer tudo para humanizar a máquina em prol de uma educação de qualidade e não tentar robotizar professores e alunos, em benefício de uma tentativa de falsa modernidade. Modernas devem ser as idéias e suas práticas libertárias e emancipadoras, e não apenas os equipamentos e máquinas controladores de tudo e de todos... Um bom domingo a todos!

PROFESSORES APAIXONADOS, por Gabriel Perissé

Professores e professoras apaixonados acordam cedo e dormem tarde, movidos pela idéia fixa que podem mover o mundo. Apaixonados, esquecem a hora do almoço e do jantar: estão preocupados com as múltiplas fomes que, de múltitplas formas, debilitam as inteligências.
As professoras apaixonadas descobriram que há homens no magistério igualmente apaixonados pela arte de ensinar, que é a arte de dar contexto a todos os textos. Não há pretextso que justifiquem, para os professores apaixonados, um grau a menos de paixão, e não vai nisso nem um pouco de romantismo barato. Apaixonar-se sai caro!
Os professores apaixonados, com ou sem carro, buzinam o silêncio comodista, dão carona para os alunos que moram mais longe do conhecimento, saem cantando o pneu da alegria. Se estão apaixonados, e estão, fazem da sala de aula um espaço de cânticos, de ênfases, de sínteses que demonstram, pela via do contraste, o absurdo que é viver sem paixão, ensinar sem paixão. Dá pena, dá compaixão ver o professor desapaixonado, sonhando acordado com a aposentadoria, contando nos dedos os dias que faltam para as suas férias, catando no calendário os próximos feriados,.
Os professores apaixonados muito bem sabem das dificuldades, dos desrespietos, das injustiças, até mesmo dos horrores que há na profissão. Mas o professor apaixonado não deixa de professar, e seu protesto é continuar amando apaixonadamente. Continuar amando é não perder a fé, palavra pequena que não se dilui no café ralo, não foge pelo ralo, não se apaga como um traço de giz no quadro. Ter fé impede que o medo esmague o amor, que as alienações antigas e novas substituam a lúcida esperança.
Dar aula não é contar piada, mas quem dá aula sem humor não está com nada, ensinar é uma forma de oração. Não essa oração chacoalhar de palavras sem sentido, com voz melosa ou ríspida. Mera oração subordinada, e nada mais.
Os professores apaixonados querem tudo. Querem multiplicar o tempo, somar os esforços, dividir os problemas para solucioná-los. Querem analisar a química da realidade. Querem traçar o mapa de inusitados tesouros.
Os olhos dos professores apaixonados brilham quando, no meio de uma explicação, percebem o sorriso do aluno que entendeu algo que ele mesmo, professor, não esperava explicar. A paixão é inexplicável, bem sei. Mas é também indisfarçável.

Observação: Imagem acima, colagem de minha autoria, intitulada "Mão e terra", feita há mais de 7 anos, a partir de recortes de revistas.