TV: imagem e endereçamento/Parte 3
Os modos de endereçamento constituem estratégias bastante complexas de interpelar alguém, um certo público.
Televisão é sinônimo de entretenimento; escola, de instrução e aprendizagem.
Conforme o texto: uma longa história de “educação” dos espectadores, de formação de um público. Público cativo, diga-se de passagem, basta notarmos a influência das telenovelas sobre grande parte do público feminino, por exemplo, que acompanham com afinco um enredo, como o público masculino assiste a um jogo de futebol: torcendo por um dos “times”. Na telenovela existem os “mocinho(a)s” e os “vilõe(ã)s”.
Mais adiante a afirmação: Certamente não há um controle pleno de tal processo: o espectador pode responder diferentemente do esperado, porque tem um lugar próprio, distinto daquele lugar a partir do qual o filme ou o programa de TV lhe fala. Além disso, mesmo que haja o objetivo de atingir um certo público em especial, e mesmo que haja uma história de certo tipo de personagens ou histórias audiovisuais com seus públicos, qualquer produto da cultura e massa estará sempre lidando com um leque bem mais amplo de espectadores e de respostas possíveis.
Aqui uma grande definição de quem e para quem é veiculada uma programação: (Elizabeth) Ellsworth diz que estudar o modo de endereçamento de um filme fundamenta-se exatamente nessas duas questões: “quem este filme pensa que você é?” e “quem este filme quer que você seja?”. Ou seja, trata-se de um processo extremamente complexo, cheio de nuances, de tensão, e que envolve inúmeros procedimentos e técnicas de linguagem, de expressividade, de ritmos, de seleção de imagens, de tempos, de tramas narrativas. Mas que envolve, fundamentalmente, uma relação entre o tênue porém amplo espaço entre o individual e o social.
Não há como negar que existem: (...) questões de ordem cultural, política e social mais amplas; em suma, a questões que remetem à produção, circulação e interpretação de significados na cultura, numa dinâmica que inevitavelmente se dá no interior de relações de poder muito concretas.
Por fim, quanto ao endereçamento, a autora conclui que deve-se: aprender a fruir imagens e imaginações, ao mesmo tempo que aprender a responder questões como as sugeridas por Elizabeth Ellsworth. Afinal, quem a TV brasileira pensa que são nossas crianças? Quem as grandes redes de televisão pensam que somos e sobre o que desejamos? Quem os desenhos animados japoneses pensam que são os meninos e meninas de todo o mundo, quando lhes oferecem pokemons e digimons reproduzidos ao infinito? E a MTV, quem deseja que sejam os jovens desta América Latina quando os convida a namorar na TV? (...) Analisar a linguagem desses produtos, em seus detalhes, em suas mínimas escolhas estéticas de uso da imagem, dos sons, da música, dos planos, dos diálogos, dos tempos – é considerar que há um endereço para aquele produto, que ele existe e é feito para chegar a alguém, para seduzi-lo, chamá-lo a ver, gostar e reconhecer-se.
Da leitura desse texto e de concepções prévias minhas, pude concluir que a criação de uma identidade televisiva promove a criação de um público cativo, onde a própria TV não veicula notícias e informação isenta, mas cria essas notícias e concebe modelos de comportamento, consumo e hábitos que só existem enquanto se é telespectador cativo e descompromissado com a análise daquele discurso subliminar. Há um ciclo vicioso: a TV gera programas que criam públicos acostumados a esse tipo de atividade, gerando conseqüentemente um público consumidor. Para que esse modelo seja reavaliado e/ou mudado há que se reavaliar nossos próprios hábitos e atitudes, enquanto telespectador, professor e cidadão.
Para encerrar minhas anotações sobre o texto, que considero pertinente, recorto e colo o pensamento de Michel Foucault, que diz: o discurso é ele mesmo uma prática: o discurso constitui nossas práticas e é construído no interior dessas mesmas práticas.
A prática educacional também é um discurso, tal qual o televisivo. Para se mudar a televisão tem-se que pensar em mudar a educação e seus discursos muitas vezes desvinculados da prática, tão necessitada de imagens e significados verdadeiramente emancipadores.
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