TV: imagem e endereçamento/Parte 2
Parte 2: Sobre os diferentes domínios da imagem.
Imagem. Conceitos: o primeiro, material, a imagem por si só; o segundo a sua significação para o espectador, a partir de um enfoque do divulgador, quando se fala em TV, visto que a programação atual da televisão é pouco ou quase nada interativa. As tentativas de interação, via telefone, e-mails, votações por mensagem (torpedo) de celular são escolhas múltiplas, dentro de opções previamente estabelecidas. Não há espaço para o comentário franco e aberto do telespectador, salvo em programas de exposições das misérias humanas. Não há para o público a clara percepção de como são produzidas as imagens televisivas, muitas delas escoradas em índices de audiência. Vide os “Tarzan boys” das novelas das sete, que seja sob qual for o texto ou pretexto, vivem sem camisa para deleite de um público específico.
A identidade de um povo é calcada, primeiramente, sobre a imagem que este mesmo povo tem de si, que repetida à exaustão leva a incorporação de um significado para outros povos. Basta ver que a identidade brasileira no exterior é associada às imagens do futebol e carnaval. E ainda sim, sabemos que esses ícones são gerados a partir do ponto de fuga do eixo RJ-SP, mais RJ, onde está a matriz do maior conglomerado televisivo privado da América Latina e um dos quatro maiores do mundo.
Há enfoques técnicos e ideológicos sim (pág.66), em que ao leitor de imagens é dado ver que quanto mais próximo do poder e da máquina (televisão), mais sua imagem é ressaltada e maquiada, enquanto que os transeuntes ao fundo da imagem tem a sua presença desfocada e de difícil percepção.
Não há como não voltar ao fato de que a imagem televisiva é um artefato, mais arte do que fato. Vivemos um jornalismo publicitário, em que o vender imagens associadas a produtos é mais importante do que divulgar idéias e informações relevantes. Vivemos também dentro de um jornalismo literário, em que a notícia possui um discurso mais poético e mítico do que crítico e realista. Basta ver pessoas sendo esperadas por câmeras dentro de casa, dando a falsa impressão que não sabiam de nada. Há toda uma abordagem que é na verdade um bordado meticuloso e elaborado com o intuito de promover no espectador um sentimento. Faz algum tempo que não consigo assistir ao Jornal nacional, o telenoticiário de maior audiência da TV brasileira em todos os tempos, mas basta ver para crê que: ao final de uma sucessão de imagens de violência, de tragédias climáticas, de escândalos e fatalidades, para suavizar ao final, com alguma notícia mais amena, preparando o telespectador, não para desligar a TV, diante de tanta fatalidade, mas para continuar ligado, esperando à novela das oito, onde haverá uma catarse do público, torcendo 6 meses pela protagonista vitimado por uma vilã persistente, para no último capítulo, tudo se acomodar e, enfim, a normalidade triunfar. Mas o que é normalidade nessa trama televisiva? O que está veiculado pela TV ou fora dela, sem espaço pra divulgação?
A programação televisiva, e as imagens veiculadas têm um sentido mercadológico, e não pedagógico. Ou quando muito a “pedagogia” subliminar do consumismo.
Há no texto referência aos estudos de Roland Barthes sobre a imagem e a sua utilização. Um outro livro sobre esse tema, que li e é muito interessante, chama-se Lendo Imagens, do escritor argentino, naturalizado canadense, Alberto Manguel.
Há sim um uso ideológico das imagens, basta vermos que à direta, temos o ícone multinacional da Coca-Cola, e à esquerda, também reproduzida à exaustão a face de Che Guevara. Dois dos maiores ícones ideológicos que a história já teve. De um lado o empreendedorismo (consumismo) transnacional versus o idealismo (utopia) sem fronteiras. Duas imagens construídas por discursos ideológicos e muita propaganda subliminar feita pela literatura engajada e os meios de comunicação de massa, muitas vezes vinculados além da comunicação social. Portanto, toda imagem é produzida, editada e endereçada a um público consumidor, ora de idéias, ora de ideais.
O próprio educador pode produzir, editar e endereçar conteúdos televisivos ao alunado, desde que retire esses andaimes e construções, priorizando uma educação que estimule o senso crítico e o espírito libertário que tem a própria educação, de não vincular-se a sistemas políticos ou econômicos, mas que procura criar um sistema em que a aprendizagem e o ensino de qualidade dê ao aluno a possibilidade de fazer escolhas por si só.
Na p.73 há uma interessante opinião do diretor de TV Alcino Diniz sobre linguagem da TV: o texto escrito para um artigo, uma palestra, uma aula ou um livro não poderá jamais ser repetido ipsis litteris na TV. Era preciso dissertar menos; era necessário narrar mais; ou melhor, era fundamental mostrar. Uma boa seqüência, de crianças e suas professoras na rua, a entrevistar trabalhadores da construção civil sobre seu salário e condições de vida talvez fosse bem mais convincente, se bem gravada e editada, do que a fala de um locutor, orientando o público de professores sobre novas formas de pesquisa, sobre a relação da escola com a comunidade, a formação do espírito crítico dos alunos etc.
Cada veículo tem a sua linguagem. A do professor evidentemente é diversa do jornalista, que é diversa do dramaturgo, que é diversa do poeta e por ai vai. Mas o objetivo de cada um é transmitir uma idéia. O professor atual pode usar a linguagem televisiva, em sua dinâmica, com o uso de recursos técnicos como o próprio aparelho de TV, vídeos, etc, para passar conteúdos da teoria à prática. Por exemplo: um professor de português poderia comparar a linguagem do século XXI, com a do final do séc. XIX ou início do XX, a partir de capítulos de novelas de época. Assim, também, o professor de ciência, gravando e veiculando ara sua turma programas com temas ambientais.
A transformação da palavra escrita em palavra televisiva, sobreposta a imagens em movimento ágil. Palavra que “não só deve ser menos professoral e prolixa, como deve ser clara, direta e compreensível por públicos diversos”, diz o texto.
Mas há também uma série de reportagens com o sentido didático, quando enfocam temas de interesse governamental, tipo a campanha contra o apagão.
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