TV: imagem e endereçamento/Parte 1
A palavra artefato, por exemplo, se presta a esse divisor de água entre o real e o imaginário, e, por conseguinte, entre a arte e o fato, entre a notícia e a informação, pois ambas as duplas são paradoxais. Vejamos só: divulgar notícia não é necessariamente promover a informação, ainda mais em telejornais que tem um tempo reduzido e que exploram, dentre todas as notícias regionais, nacionais e mundiais, as que mais podem ser destacadas (e ai, já uma escolha ideológica), e as que não merecem ser mostradas. A própria edição de um telejornal é feita para agrupar notícias rápidas, de forma ágil, breve, concisa, sem a obrigatoriedade de ser clara, objetiva e educativa. Basta assistirmos a uma notícia sobre alimentos geneticamente modificados, em que quase nada é contextualizado... Mostram invasões de manifestantes, e enfocam essa ação, supostamente de vândalos ao grande público, mas em nenhum momento fazem uma matéria esclarecedora entre os pontos positivos e os negativos de tal empreendimento científico e econômico. Sonega-se a informação em privilégio da notícia instantânea. E assim, o editor de telejornal crê que está fazendo a sua função social de divulgar os fatos, ainda que de forma superficial, quando não direcionada e subliminar: passar uma imagem maniqueísta de bons contra maus, seja eles quais forem os personagens focalizados. É o que eu chamo de “enfoque desfocado”.
Mais adiante, a autora aborda justamente a programação da TV, sob o enfoque educacional, declarando: (...) pensando a TV do ponto de vista educacional, o objetivo deste texto se amplia para não apenas estudar aspectos de linguagem, mas para compreendê-los como modo instigante de produzir algo para além deles. Ou seja, o objetivo aqui é ampliar nossa compreensão sobre as formas concretas com que somos diariamente informados, os modos como nossas emoções são mobilizadas, as estratégias de construção de sentidos na TV, sobre a sociedade mais ampla, a vida social e política deste País, comportamentos e valores, sentimentos e prazeres.
Nesse ponto, vem de encontro o que já abordei em outras postagens em alguns fóruns dessa especialização e no curso de mídias integradas na educação, em que a TV aberta não é educativa, e as TVs que se dizem como tal, TV Escola, TVs educativas, TV Futura, etc não estão abertas (o sinal de transmissão e recepção) ao público em geral, e sim a uma parcela reduzida da população que tem como buscar uma educação de qualidade, além da pública. Não que a educação pública, com todas as suas limitações, não tenha qualidade.
Quanto a produção de imagens, a autora comenta: Já vimos que esse processo todo de ver e produzir imagens, no caso, imagens televisivas, existe como prática social, imerso que está em uma dinâmica econômica, política e cultural. E existe como uma linguagem do nosso tempo, como um modo de produzir, criar, imaginar, narrar histórias, sonoridades, cores, figuras, personagens, notícias. Também, certamente, como um modo de ensinar, vender idéias e produtos, convencer, sensibilizar, convocar. Interessa-me, neste capítulo, discutir formas de abordagem pedagógica da linguagem audiovisual, contemplando a complexidade da televisão nos seguintes aspectos: a caracterização e as respectivas implicações educacionais da imagem audiovisual eletrônica; a complexa produção de imagens na cultura; a palavra e a ação na tevê; a relação entre os produtos e seus públicos; discurso e representação na mídia televisiva.
Concordo plenamente com a autora, pois o que vemos nos noticiários em específico e na programação em geral é a adoção de técnicas cinematográficas, tipo a “perspectiva forçada” em que de acordo com a angulação da câmera em relação ao objeto focado, pode-se ter a falsa impressão de este agigantar-se ou apequenar no transcorrer da gravação. O ponto de fuga, um local arbitrário, de onde o artista plástico parte todos seus cálculos de perspectiva em relação a obra como um todo tem um sentido literal, de fuga mesmo, da abordagem que leve ao expectador e refletir, contestar, provocar uma consciência crítica. No fim, quase sempre impera o “ponto de vista” do editor, do diretor, do presidente da empresa. Não há isenção nem comprometimento com a divulgação da verdade, apenas da verdade particular de cada empresa de comunicação de massa, que acaba influenciando determinantemente em eleições e políticas públicas, seja na educação ou na segurança.
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