segunda-feira, março 12, 2007

Informática como meio e não como fim


Quando se fala de informática na educação - mais precisamente, informática educativa -, o público leigo pensa num laboratório de informática, com máquinas modernas e toda a parafernália que acompanha o "kit tecnológico": scanner, impressora, gravador de CD/DVD, datashow, webcam, filmadora, etc.
Nada mais enganoso do que crer que apenas máquinas serão capazes de revolucionar a prática pedagógica, se lembrarmos que não passam de ferramentas, de mecanismos pré-programados, em que o código binário (1-0, sim-não) é que comanda esse equipamento sonhado por 10 entre 10 jovens em idade escolar.
De nada adiantará ter laboratórios sofisticados, se a prática de ensino-aprendizagem for a mesma do tempo do ábaco ou da máquina de escrever (que, segundo uma conhecida, a coleguinha de sua filha confundiu uma Olivetti como uma "impressora com teclado", pois a jovem jamais tinha visto algo igual). Em menos de dez anos da popularização do microcomputador, a máquina de escrever virou peça de museu. Se não houver a clara visão de que informática é um meio de qualificação da educação, e não o fim, lofgo estaremos trocando o PC por outro meio tecnológico sem maiores divagações.
Não é a informática, por si só, que poderá melhorar o processo de ensino-aprendizagem. Quando muito, ela proporcionará ao professor outras formas de apresentar o conteúdo, de um jeito mais criativo à geração da imagem instantânea, que sabe lidar melhor com os multimeios de que muito educador, que também, desatualizado, crê que máquina é apenas para indústria e outras instituições. O aluno sabe manipular o equipamento, mas não tem a bagagem cultural nem o conhecimento educacional para utilizar tais recursos além do trivial.
O professor "conectado" com a necessidade da tecnologia e da informática serem uma valiosa ferramenta é aquele que age como a imagem acima, de uma tela do pintor belga René Magritte, mestre do surrealismo: "vê o ovo e imagina o produto futuro". No processo de informatização das escolas, as máquinas são apenas o meio, e a educação que é a finalidade. Já, dentro do processo educacional como um todo, a educação que é o meio, enquanto a cidadania que é a finalidade. Mais do que preparar alunos para o mercado de trabalho, a escola deve preparar o alunado para a vida em sociedade. Não é a sociedade que é reflexo da escola, e sim a escola o reflexo de uma sociedade familiar em desestruturação, muitas vezes por que a criança precisa abandonar os estudos para trabalhar, ainda em idade escolar, aumentando a evasão. Mas, paradoxalmente, essa mesma criança que evadiu, no futuro, já adulta, para poder manter o próprio emprego, precisará retornar à escola, através de exames supletivos ou de instituições de EJA - Educação de Jovens e Adultos. Uma engrenagem social tão complexa como um computador de última geração, que ironicamente, quanto mais sofisticado, mais desemprega trabalhadores, sem oferecer a contrapartida para esse desequilíbrio social.
A informática, que pode ser uma grande aliada em sala de aula, fora do ambiente escolar pode transformar-se num grande e frio selecionar, como uma colheitadeira agrícola, toda informatizada, que separa o joio do trigo, eliminando a mão-de-obra não qualificada para um mercado cada vez mais exigente... Paradoxos e paradigmas que precisam ser analisados nos textos e contextos escolares... A avaliação escolar pode ser uma forma de evasão escolar, se não forem considerados os aspectos qualitativos do aluno e apenas os quantitativos no processo de ensino-aprendizagem.